ALOCUÇÃO DO M. R. SOBERANO GRANDE COMENDADOR A.F.G. NA ABERTURA DO ANO NA ELBF
Começo por me
congratular pelo caminho que livremente escolhestes e felicitar esta Loja de
Perfeição pelo enriquecimento das suas regiões que a vossa admissão aporta.
Ao serem
iniciados numa loja de Perfeição, teve lugar o primeiro momento da vossa
progressão nos Alto Graus do R..E..A..A.., sendo pertinente que vos dirija
algumas reflexões relativas não só ao grau adquirido como ao Sistema do qual os
meus IIr.., a partir de hoje, fazem parte.
As lojas de
perfeição abrangem do 4º ao 14º graus, que são designados por “Graus
Inefáveis”, pois lidam com a natureza inexpressa de divindade.
O 4º Grau do
Rito Escocês Antigo e Aceite é o da ILUMINAÇÃO, sendo nele abordados os temas
do Silêncio, da Fidelidade, da Obediência e do Comando.
Iniciais aqui
a vossa ascensão para áreas mais elevadas na procura do conhecimento
espiritual, pois é aí que reside a Verdade.
Aqui não
encontrareis satisfação para vaidades, ambições e grandezas profanas.
Ficai, pois,
connosco apenas se tencionais esforçar-vos para despir o vosso espírito das
paixões e se acreditardes que a felicidade consiste na exaltação da Virtude e
no Estudo.
Como membros
do R.E.A.A., agirão com fidelidade ao dever e aos juramentos feitos e terão
como guia os nossos princípios superiores.
Repudiarão a
mentira e o mal e lutarão pela verdade agindo com Amor pois, sem ele, nenhuma
ação ou iniciativa terá verdadeiramente valor.
Defenderão a plena liberdade de expressão do
pensamento, como direito fundamental do ser humano, observada a correlata responsabilidade,
pelo que entendereis sempre na vossa comunicação ao facto de nenhum ser humano
poder considerar-se isento de responsabilidades pelas palavras que possa dizer
em momentos de imprudência verbal.
A todos, sem
distinção de sexo, idade, ideal, raça ou credo, respeitarão e ouvirão
atentamente, tendo sempre presentes as palavras de Paulo de Tarso, há dois mil
anos, dirigindo-se aos Gálatas na esperança redentora da sua Igreja.
“Não há judeu nem grego, não há servo nem
livre, não há homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus”
Falemos agora
um pouco sobre o nosso caminho
Na iniciação,
a luz que é dada após a terceira viagem do candidato, simboliza a iluminação do
ser. Quando seus olhos são descobertos, a primeira coisa que vê é uma série de
espadas, cujas extremidades estão voltadas para ele;
É-lhe dito
então que tal não é uma ameaça, mas um gesto pacífico, pois a espada empunhada
com a mão esquerda dirige para ele o coração de todos os que o rodeiam.
O que lhe não
é revelado é que, nessa parte da cerimónia, a luz quase imediatamente
irradiada, destina-se a iluminar a sua capacidade de compreender tornando-o
capaz de ser instruído.
Deve-se
atentar na relação da Maçonaria com a Luz, quer pelo que torna visível quer
pelo que torna inteligível.
É o
conhecimento permanente e transfigurador que os maçons devem procurar.
Pode-se dizer
que essa luz se refere tanto a um racional com que a natureza nos dotou como a
uma clarividência que dá acesso a uma ordem superior.
Tem assim a
mesma ambivalência daquela que iluminou o século XVIII.
O intenso
desenvolvimento da Maçonaria nesse século aproveitou o borbulhar de ideias do
Iluminismo, que dele fizeram o século dos filósofos, não no sentido habitual do
termo, mas sim pela vontade de elucidar sistematicamente a realidade humana sob
os mais diversos sentidos da sua afirmação.
É evidente que
os escritos de Montesquieu, Rousseau, Voltaire, Buffon e outros, muito
contribuíram para o desenvolvimento de uma consciência coletiva, principalmente
no que diz respeito à concepção do homem e da justiça.
A partir de
1740/1750, a ideologia do Iluminismo foi adoptada por diversos Reis, firmes
defensores da nova ordem, que se esforçaram por a conformar às leis e
instituições de seus respetivos países.
Frederico II
foi um deles.
Isto permitiu
a Emmanuel Kant afirmar num pequeno texto, datado de 1784, que se vivia o tempo
do Iluminismo ou o século de Frederico.
Kant foi
provavelmente inspirado na tese do Iluminismo do seu tempo, desenvolvida pelos
filósofos alemães Lessing (1729-1781) e Mendelssohn (1729-1786) a qual, de
forma breve, afirma que o homem é dotado de uma capacidade racional que lhe
permite descobrir verdades. Mas se esse racional não for cultivado, não terá a
habilidade para acessar às verdades espirituais, pois o poder de compreender é
desconhecido à nascença, revelando-se mais tarde, quando desenvolvido.
Kant diz ao
tentar explicar o Iluminismo:
“Iluminismo é
a capacidade do homem sair do estado de tutela do qual ele próprio é
responsável.
… A tutela é a
impossibilidade do uso do entendimento próprio sem a orientação de outro.
… Preguiça e
covardia limitam um número muito grande de homens, pois que a natureza há muito
os libertou da dependência de pensamento alheio. No entanto, permanecem para
sempre, de bom grado, em um estado de tutela, e tornando fácil que outros se
afirmem como seus tutores”.
Sapere Aude!
Ousar saber, tal é o lema do Iluminismo.
À luz das
verdades e da compreensão, dar à mente a sua liberdade, porque a mente não deve
ser submetida a nenhuma força externa, mas apenas obedecer a si mesma.
Tal impõe que
diga hoje, dirigindo-me a vós, Mestres Secretos,
“ Não confiem
em ninguém cegamente, mas ouvi a todos com atenção e respeito; sede determinados
a compreendê-los; que o parecer alheio seja bem-vindo, mas aceitai-o apenas se
vos parecer correto após o examinares.
O Mestre
Secreto está, definitivamente, em outro lugar, em outro nível. Ele deve
procurar a verdade a partir do que foi ensinado no primeiro grau: Buscai e
encontrareis a verdade, interrogai e a luz vos será dada”.
Estai
conscientes que ides fazer um percurso em vários mundos de luz no grau 4.
Na verdade, o
Mestre Secreto está ciente de que dentro dele e em volta dele algo ocorreu no
que concerne à mente.
Ele é o objeto
do fenómeno de um duplo dinamismo.
Ao lado da luz
do homem que irradia para o mundo, existe uma luz, aparentemente exterior ao
Ser, e que está focada no centro do Homem.
O espírito
está presente em toda a parte. Ele pode ser acessado, através de níveis de
conhecimento.
Essa é a via
da Maçonaria Escocesa.
O ritual
abre-nos caminho para o benefício da nossa visão interior, pois temos de
reconhecer que a noção de luz, pequena ou grande, não é facilmente
compreensível.
Para os
homens, como Marsilio Ficino (1433-1499), ela é omnipresente e estrutura grande
parte do nosso pensamento especulativo e simbólico.
“ Deus é a
fonte e a luz soberana, onde residem os modelos de realidade.
… Assim, dizer
que Deus é Luz é o mesmo que dizer, por um lado, que a inteligibilidade da
realidade não pode prescindir de Deus e, por outro lado, que essa
inteligibilidade é apenas devida à sua natureza divina”.
Nosso rito é
um guia, cujo conhecimento foi esculpido pelo tempo.
A luz nele
emitida é parte de um todo inatingível.
É uma
revelação feita ao Ser, nele e sobre ele, escapando à esfera das palavras.
Ela deve ser entendida no sentido de um
transmissor receptor, com um objectivo:
equilíbrio
Á medida que avançamos
em direcção à grande luz, teremos a oportunidade de irradiar, mais e mais, para
benefício dos outros, iluminando o seu caminho.
O Ser
iluminado é reconhecido por seus pares e, no mundo profano, deve constituir-se
como exemplo de rectidão, de exigência e de singularidade.
Finalmente,
meus IIr.., a luz vai presidir ao caminho da vossa jornada maçónica, onde devem
estar sempre presentes a modéstia, a paciência e a perseverança para que
lentamente se vá transformando um ser material em um ser espiritual, pois virá
o tempo de transmutação, da nossa transmutação.
Como Maçons do
R.E.A.A., tidos como capazes de receber ensinamentos e seguir o curso da
iniciação, baseada na tolerância e unidos no caminho para a realização
espiritual, cabe-vos com modéstia, mas com força e determinação, concretizar os
objectivos definidos pelas Grandes Constituições, sendo que a legitimidade de
tal objectivo reside na realização pessoal de cada um de nós como uma parte do
plano divino da Criação.
É tudo meus
IIr.. Sede bem-vindos aos corpos deste Supremo Conselho. Escolheste o mais árduo
e simultaneamente o mais enriquecedor dos caminhos dos Altos Graus.
Que o Grande
Arquiteto do Universo nele vos ilumine e proteja.