sábado, 12 de maio de 2018

ALOCUÇÃO DO M. R. SOBERANO GRANDE COMENDADOR A.F.G. NA ABERTURA DO ANO NA ELBF



ALOCUÇÃO DO M. R. SOBERANO GRANDE COMENDADOR A.F.G. NA ABERTURA DO ANO NA ELBF

Começo por me congratular pelo caminho que livremente escolhestes e felicitar esta Loja de Perfeição pelo enriquecimento das suas regiões que a vossa admissão aporta.

Ao serem iniciados numa loja de Perfeição, teve lugar o primeiro momento da vossa progressão nos Alto Graus do R..E..A..A.., sendo pertinente que vos dirija algumas reflexões relativas não só ao grau adquirido como ao Sistema do qual os meus IIr.., a partir de hoje, fazem parte.

As lojas de perfeição abrangem do 4º ao 14º graus, que são designados por “Graus Inefáveis”, pois lidam com a natureza inexpressa de divindade.

O 4º Grau do Rito Escocês Antigo e Aceite é o da ILUMINAÇÃO, sendo nele abordados os temas do Silêncio, da Fidelidade, da Obediência e do Comando.

Iniciais aqui a vossa ascensão para áreas mais elevadas na procura do conhecimento espiritual, pois é aí que reside a Verdade.

Aqui não encontrareis satisfação para vaidades, ambições e grandezas profanas.

Ficai, pois, connosco apenas se tencionais esforçar-vos para despir o vosso espírito das paixões e se acreditardes que a felicidade consiste na exaltação da Virtude e no Estudo.

Como membros do R.E.A.A., agirão com fidelidade ao dever e aos juramentos feitos e terão como guia os nossos princípios superiores.

Repudiarão a mentira e o mal e lutarão pela verdade agindo com Amor pois, sem ele, nenhuma ação ou iniciativa terá verdadeiramente valor.

 Defenderão a plena liberdade de expressão do pensamento, como direito fundamental do ser humano, observada a correlata responsabilidade, pelo que entendereis sempre na vossa comunicação ao facto de nenhum ser humano poder considerar-se isento de responsabilidades pelas palavras que possa dizer em momentos de imprudência verbal.

A todos, sem distinção de sexo, idade, ideal, raça ou credo, respeitarão e ouvirão atentamente, tendo sempre presentes as palavras de Paulo de Tarso, há dois mil anos, dirigindo-se aos Gálatas na esperança redentora da sua Igreja.

 “Não há judeu nem grego, não há servo nem livre, não há homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus”

Falemos agora um pouco sobre o nosso caminho

Na iniciação, a luz que é dada após a terceira viagem do candidato, simboliza a iluminação do ser. Quando seus olhos são descobertos, a primeira coisa que vê é uma série de espadas, cujas extremidades estão voltadas para ele;
É-lhe dito então que tal não é uma ameaça, mas um gesto pacífico, pois a espada empunhada com a mão esquerda dirige para ele o coração de todos os que o rodeiam.
O que lhe não é revelado é que, nessa parte da cerimónia, a luz quase imediatamente irradiada, destina-se a iluminar a sua capacidade de compreender tornando-o capaz de ser instruído.

Deve-se atentar na relação da Maçonaria com a Luz, quer pelo que torna visível quer pelo que torna inteligível.
É o conhecimento permanente e transfigurador que os maçons devem procurar.
Pode-se dizer que essa luz se refere tanto a um racional com que a natureza nos dotou como a uma clarividência que dá acesso a uma ordem superior.

Tem assim a mesma ambivalência daquela que iluminou o século XVIII.

O intenso desenvolvimento da Maçonaria nesse século aproveitou o borbulhar de ideias do Iluminismo, que dele fizeram o século dos filósofos, não no sentido habitual do termo, mas sim pela vontade de elucidar sistematicamente a realidade humana sob os mais diversos sentidos da sua afirmação.

É evidente que os escritos de Montesquieu, Rousseau, Voltaire, Buffon e outros, muito contribuíram para o desenvolvimento de uma consciência coletiva, principalmente no que diz respeito à concepção do homem e da justiça.

A partir de 1740/1750, a ideologia do Iluminismo foi adoptada por diversos Reis, firmes defensores da nova ordem, que se esforçaram por a conformar às leis e instituições de seus respetivos países.

Frederico II foi um deles.

Isto permitiu a Emmanuel Kant afirmar num pequeno texto, datado de 1784, que se vivia o tempo do Iluminismo ou o século de Frederico.

Kant foi provavelmente inspirado na tese do Iluminismo do seu tempo, desenvolvida pelos filósofos alemães Lessing (1729-1781) e Mendelssohn (1729-1786) a qual, de forma breve, afirma que o homem é dotado de uma capacidade racional que lhe permite descobrir verdades. Mas se esse racional não for cultivado, não terá a habilidade para acessar às verdades espirituais, pois o poder de compreender é desconhecido à nascença, revelando-se mais tarde, quando desenvolvido.

Kant diz ao tentar explicar o Iluminismo:
“Iluminismo é a capacidade do homem sair do estado de tutela do qual ele próprio é responsável.
… A tutela é a impossibilidade do uso do entendimento próprio sem a orientação de outro.
… Preguiça e covardia limitam um número muito grande de homens, pois que a natureza há muito os libertou da dependência de pensamento alheio. No entanto, permanecem para sempre, de bom grado, em um estado de tutela, e tornando fácil que outros se afirmem como seus tutores”.

Sapere Aude! Ousar saber, tal é o lema do Iluminismo.
À luz das verdades e da compreensão, dar à mente a sua liberdade, porque a mente não deve ser submetida a nenhuma força externa, mas apenas obedecer a si mesma.

Tal impõe que diga hoje, dirigindo-me a vós, Mestres Secretos,

“ Não confiem em ninguém cegamente, mas ouvi a todos com atenção e respeito; sede determinados a compreendê-los; que o parecer alheio seja bem-vindo, mas aceitai-o apenas se vos parecer correto após o examinares.

O Mestre Secreto está, definitivamente, em outro lugar, em outro nível. Ele deve procurar a verdade a partir do que foi ensinado no primeiro grau: Buscai e encontrareis a verdade, interrogai e a luz vos será dada”.

Estai conscientes que ides fazer um percurso em vários mundos de luz no grau 4.

Na verdade, o Mestre Secreto está ciente de que dentro dele e em volta dele algo ocorreu no que concerne à mente.

Ele é o objeto do fenómeno de um duplo dinamismo.

Ao lado da luz do homem que irradia para o mundo, existe uma luz, aparentemente exterior ao Ser, e que está focada no centro do Homem.

O espírito está presente em toda a parte. Ele pode ser acessado, através de níveis de conhecimento.

Essa é a via da Maçonaria Escocesa.

O ritual abre-nos caminho para o benefício da nossa visão interior, pois temos de reconhecer que a noção de luz, pequena ou grande, não é facilmente compreensível.

Para os homens, como Marsilio Ficino (1433-1499), ela é omnipresente e estrutura grande parte do nosso pensamento especulativo e simbólico.

“ Deus é a fonte e a luz soberana, onde residem os modelos de realidade.

… Assim, dizer que Deus é Luz é o mesmo que dizer, por um lado, que a inteligibilidade da realidade não pode prescindir de Deus e, por outro lado, que essa inteligibilidade é apenas devida à sua natureza divina”.

Nosso rito é um guia, cujo conhecimento foi esculpido pelo tempo.

A luz nele emitida é parte de um todo inatingível.
É uma revelação feita ao Ser, nele e sobre ele, escapando à esfera das palavras.
 Ela deve ser entendida no sentido de um transmissor receptor, com um objectivo:
 equilíbrio

Á medida que avançamos em direcção à grande luz, teremos a oportunidade de irradiar, mais e mais, para benefício dos outros, iluminando o seu caminho.

O Ser iluminado é reconhecido por seus pares e, no mundo profano, deve constituir-se como exemplo de rectidão, de exigência e de singularidade.

Finalmente, meus IIr.., a luz vai presidir ao caminho da vossa jornada maçónica, onde devem estar sempre presentes a modéstia, a paciência e a perseverança para que lentamente se vá transformando um ser material em um ser espiritual, pois virá o tempo de transmutação, da nossa transmutação.

Como Maçons do R.E.A.A., tidos como capazes de receber ensinamentos e seguir o curso da iniciação, baseada na tolerância e unidos no caminho para a realização espiritual, cabe-vos com modéstia, mas com força e determinação, concretizar os objectivos definidos pelas Grandes Constituições, sendo que a legitimidade de tal objectivo reside na realização pessoal de cada um de nós como uma parte do plano divino da Criação.

É tudo meus IIr.. Sede bem-vindos aos corpos deste Supremo Conselho. Escolheste o mais árduo e simultaneamente o mais enriquecedor dos caminhos dos Altos Graus.

Que o Grande Arquiteto do Universo nele vos ilumine e proteja.