quarta-feira, 29 de maio de 2019

Sabedoria de Salomão

Almada Negreiros (Tapeçaria)

Sabedoria de Salomão

António de Macedo, no seu livro Cristianismo Iniciático, refere que a Bíblia é um livro onde está contida muita sabedoria dos povos, recolhida ao longo dos séculos. É nessa perspetiva que irei abordar os textos da Bíblia, no Velho Testamento, para procurar perceber o que foi a sabedoria de Salomão. A reflexão sapiencial deve ter acompanhado o ser humano desde os seus primórdios. Contudo, certas épocas históricas privilegiaram a recolha de tradições e impeliram as novas formulações sapienciais.
A origem do pensamento sapiencial, para o povo da Bíblia, é tradicionalmente relacionada com a figura de Salomão, que se tornou protótipo de todos os sábios.
A sabedoria é dada a Salomão, do seguinte modo:
«Nessa noite Deus apareceu a Salomão e disse-lhe: “Pede-me o que quiseres e dar-to-ei!
Salomão respondeu: “Ó Deus, tu foste extremamente bondoso para com o meu pai David, e agora deste-me o reino. Só pretendo que as tuas promessas se confirmem! A tua palavra, dirigida a David meu pai, concretizou-se, e fizeste-me rei sobre um povo tão numeroso como o pó da terra! Dá-me agora sabedoria e conhecimento para os governar com competência. Porque quem seria capaz de dirigir sozinho uma tão grande nação como esta?”
Deus retorqui-lhe: “Sendo assim, que o teu maior desejo é seres capaz de servir este povo, e que não pretendeste nem riquezas nem honras pessoais, nem me pediste que amaldiçoasse os teus inimigos, nem tão pouco que te desse uma longa vida; antes pediste sabedoria e conhecimento para guiar competentemente o meu povo — por isso te concedo o que pediste, e ainda te darei tantas riquezas, prosperidade e honras como nenhum outro rei terá tido antes de ti! Não haverá também depois de ti outro semelhante em toda a terra!”» (Segundo das Crónicas, 1: 7-12)

Mas Salomão organizou a sua corte em conformidade com o modelo das cortes de outros países mais evoluídos, especialmente o Egipto; promoveu intensas relações políticas e comerciais com os povos vizinhos. Ora isso exigia uma preparação adequada dos funcionários de Israel, tanto a nível central como local, em escolas apropriadas de carácter sapiencial, também à semelhança do que já existia junto de outros povos. Foi Salomão que protagonizou toda essa dinâmica em Israel.
Mas a sabedoria de Salomão entrou em declínio:
«Ora, além da filha de Faraó, amou Salomão muitas mulheres estrangeiras: moabitas, amonitas, edomitas, sidonitas e heteias» (Primeiro dos Reis 11:1

Claro que à primeira vista pode parecer que foram as mulheres, no sentido mais básico, a causa da sua perdição. Mas também aqui há uma simbologia a interpretar. A Mulher é o símbolo da sabedoria e deus o símbolo daquilo que é mais autêntico no ser-humano. A causa da decadência de Salomão, que depois levou ao exílio da Babilónia, foi que ele em vez de seguir a sabedoria de Deus, inscrita no seu coração, deixou-se guiar por outras vozes, diferentes da sua consciência. Foi infiel às suas convicções. Trata-se, sobretudo, de uma alegoria.

Na investigação e procura da sabedoria, o povo da Bíblia não foi totalmente original. Este pequeno povo soube assimilar a sabedoria dos povos vizinhos, sobretudo o Egipto e Mesopotâmia, e adaptá-la segundo a perspetiva da sua própria experiência religiosa.
ELBF26

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