António de Macedo, no seu livro Cristianismo
Iniciático, refere que a Bíblia é um livro onde está contida muita sabedoria
dos povos, recolhida ao longo dos séculos. É nessa perspetiva que irei abordar
os textos da Bíblia, no Velho Testamento, para procurar perceber o que foi a
sabedoria de Salomão. A reflexão sapiencial deve ter acompanhado o ser humano
desde os seus primórdios. Contudo, certas épocas históricas privilegiaram a
recolha de tradições e impeliram as novas formulações sapienciais.
A origem do pensamento sapiencial, para o povo da
Bíblia, é tradicionalmente relacionada com a figura de Salomão, que se tornou
protótipo de todos os sábios.
A sabedoria é dada a Salomão, do seguinte modo:
«Nessa noite Deus apareceu a Salomão e disse-lhe: “Pede-me o que quiseres e dar-to-ei!”
Salomão respondeu: “Ó Deus, tu foste extremamente bondoso para com o meu pai David, e agora
deste-me o reino. Só pretendo que as tuas promessas se confirmem! A tua
palavra, dirigida a David meu pai, concretizou-se, e fizeste-me rei sobre um
povo tão numeroso como o pó da terra! Dá-me agora sabedoria e conhecimento para
os governar com competência. Porque quem seria capaz de dirigir sozinho uma tão
grande nação como esta?”
Deus retorqui-lhe: “Sendo assim, que o teu maior desejo é seres capaz de servir este povo,
e que não pretendeste nem riquezas nem honras pessoais, nem me pediste que
amaldiçoasse os teus inimigos, nem tão pouco que te desse uma longa vida; antes
pediste sabedoria e conhecimento para guiar competentemente o meu povo — por
isso te concedo o que pediste, e ainda te darei tantas riquezas, prosperidade e
honras como nenhum outro rei terá tido antes de ti! Não haverá também depois de
ti outro semelhante em toda a terra!”» (Segundo das Crónicas, 1: 7-12)
Mas Salomão organizou a sua corte em conformidade
com o modelo das cortes de outros países mais evoluídos, especialmente o
Egipto; promoveu intensas relações políticas e comerciais com os povos
vizinhos. Ora isso exigia uma preparação adequada dos funcionários de Israel,
tanto a nível central como local, em escolas apropriadas de carácter
sapiencial, também à semelhança do que já existia junto de outros povos. Foi
Salomão que protagonizou toda essa dinâmica em Israel.
Mas a sabedoria de Salomão entrou em declínio:
«Ora, além da
filha de Faraó, amou Salomão muitas mulheres estrangeiras: moabitas, amonitas, edomitas,
sidonitas e heteias» (Primeiro dos Reis 11:1
Claro que à primeira vista pode parecer que foram
as mulheres, no sentido mais básico, a causa da sua perdição. Mas também aqui
há uma simbologia a interpretar. A Mulher é o símbolo da sabedoria e deus o
símbolo daquilo que é mais autêntico no ser-humano. A causa da decadência de
Salomão, que depois levou ao exílio da Babilónia, foi que ele em vez de seguir
a sabedoria de Deus, inscrita no seu coração, deixou-se guiar por outras vozes,
diferentes da sua consciência. Foi infiel às suas convicções. Trata-se,
sobretudo, de uma alegoria.
Na investigação e procura da sabedoria, o povo da Bíblia
não foi totalmente original. Este pequeno povo soube assimilar a sabedoria dos
povos vizinhos, sobretudo o Egipto e Mesopotâmia, e adaptá-la segundo a
perspetiva da sua própria experiência religiosa.
ELBF26
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