sexta-feira, 5 de outubro de 2018

GRAUS INEFÁVEIS

Alberto d'Assumpção


Mestre Secreto
Cabe ao Mestre Secreto fazer ver ao neófito a seriedade do seu juramento e todas as implicações.
A obediência pressupõe silêncio e diligência. No silêncio pode o aprendiz refletir no que houve. Dialogar consigo mesmo e forjar o seu carácter habituando-se, se necessário, a para além dos silêncios, a saber recalcar e calar qualquer ressentimento.
Obedecer em silêncio também revela a importância da sobriedade, do decoro, e da contenção. Adquirindo estes valores, saberá mais tarde como liderar e comandar.
Perceberá que das maiores misérias humanas pode nascer a luz. Assim reflete sobre caridade, benevolência, paciência, decoro, consideração, respeito, caridade, e outros pequenos detalhes que a avó, através de um chá e uns bolinhos, nos transmitia.

Mestre Perfeito
O Mestre Perfeito deve fazer jus ao seu título, ser um exemplo de trabalho e honestidade.
Pelo trabalho árduo e dedicado, retribui um pequeno grão de tudo o que a vida lhe proporciona, gerindo sinergias no seio do grupo a que pertence. Pelo exemplo, será mais facilmente aceite pelos irmãos, seja como par ou primo interpares. A liderança conquista-a pelo respeito gerado. Ao atuar a honestidade, põe-se ao nível com a retidão do fio-de-prumo.
Uma vida segundo estes princípios será bem preenchida e faz merecer uma passagem ao Oriente Eterno com a consciência do dever cumprido, consigo e com o seu semelhante. Tanto o trabalho como a honestidade são ferramentas essenciais que embelezam a construção do templo. São peças determinantes numa vida virtuosa apta para as mais belas construções.

Secretário Íntimo
O Secretário Íntimo tinha de zelar pelo bem-estar de Salomão. Os seus desejos mais íntimos, antecipar os seus anseios, protegê-lo de inimigos mais improváveis.
Para tal é-lhe exigido uma lealdade a toda a prova, mesmo que sacrifique a própria vida. Algo paralelo ao pensamento que prestamos aquando da iniciação. Algo que vem sendo desrespeitado na nossa Ordem ultimamente.
Devia zelar pelo bem-estar de Salomão em todos os aspetos, como devemos zelar para que os landmarks sejam cumpridos e os rituais respeitados. Tudo isto num desapego (prefiro esta palavra a desinteresse) próprio. Desapego das medalhas prebendas, e outros afagos profanos que mascaram e denigrem a vocação, a dedicação e a abnegação. Estas últimas não carecem de recompensa material. No entanto, materializam o esperado da ação do homem de bem ou de bons costumes. O desapego da recompensa material é diminuto perante o afago do bem que se propaga no mundo, passo a passo, mas sempre com o ideal da paz universal gerado pela virtude, pela tolerância, pela verdade.

Preboste ou Juiz
Salomão era considerado um grande juiz (o maior, até) na antiguidade. Ficou no uso linguístico a expressão “sentença salomónica”, em francês “le juste milieu”, o meio caminho ideal.
Poderia arriscar falar de justiça ideal para pobres e ricos, fracos e fortes, débeis e poderosos, patrões e assalariados. Ser juiz é um fardo. Depende muito do zeitgeist – o espírito dos tempos. Hoje em dia é alvo de pressões atrozes da comunicação social, das grandes corporações, etc. Precisa ter uma bagagem enorme, sociológica, psicológica, ética, cívica, e acima de tudo, empática.
Tem de saber pôr-se no lugar do réu e inferir dos motivos que originaram a delinquência, para que a equidade, mãe de toda a justiça, seja honrada. Ao preencher pelo menos estes requisitos, a sentença será lavrada de maior presteza e aí será uma honra ter exercido a função de juiz.
A toga tem de ser feita de um material ético, intelectual, caridoso e honesto. Sem estes valores, será apenas um tecido.

Intendente dos Edifícios
Qualquer trabalho que se queira bem feito necessita de pontualidade. O Mestre Hiram era o primeiro a estar presente, fossem quais fossem as condições atmosféricas, todos os dias era o primeiro a chegar e o último a partir.
Observava o trabalho dos vários grupos de talhadores, incrustadores, polidores, metalúrgicos, e zelava pelo bom andamento da construção do templo. Corrigia o que havia a corrigir, combinando as várias possibilidades de resolução dos problemas emergentes. Despedia os incompetentes. Transferia pessoas entre equipas. Corrigia os mestres e se necessário devolvia-os à condição de aprendizes.
A sobriedade e a temperança necessárias eram-lhe mais necessárias ao dialogar com Salomão e ao enfrentar as intrigas de poder espiritual e outras forças mal intencionadas que viviam de intrigas de poder.
No final foi aclamado, respeitado, e celebrado por 100000 obreiros. Estes retribuíram ao Mestre a devoção que este tinha pela obra. Ser um exemplo, não exigir nada ao outro que não exigimos a nós próprios, aprender com os nossos erros, ter a honestidade e a abertura para aprender com os outros, mesmo que em teoria nossos
inferiores. Enfim, reconhecer a nossa ínfima expressão com que viemos ao mundo e dar graças por, ao existir, podermos contribuir para uma consciência universal que talvez um dia nos faça levantar o céu e nos tornarmos merecedores do reconhecimento do Grande Arquiteto do Universo, pela obra que, com desapego das coisas terrenas, ajudámos a construir.

Essa será a nossa melhor morte e a nossa virtude o verdadeiro portal.

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quarta-feira, 3 de outubro de 2018

O Silêncio

Izabella Pavlushko

O Silêncio

Depois de ter recebido a notícia que a minha candidatura à Associação Albert Pike tinha sido aceite, foi-me dito que esta fase era dedicada ao silêncio. Recordei que em 2002 quando fui iniciado nas denominadas Lojas Azuis estive dois anos sem poder “falar” durante as SS:. Iniciei a minha viagem de quase 170 quilómetros em direcção ao Porto e vinha a meditar sobre o que poderia estar relacionado com este tema, o silêncio. Meditar sobre o que significaria o percurso de entrada numa Loja de Perfeição ou de graus inefáveis.Tive que ir consultar o dicionário para ver o significado de tal palavra, visto não ser usual no léxico do português comum. Só me vinha à memória Paul Simon & Art Gurfunkel, the Sounds of Silence, “ Hello darkness my old friend I’ve to come to talk with you again (…)" Chegado ao Porto fui recebido em local previamente designado por um grupo de homens, dos quais eu só conhecia um. E dali a momentos iniciou-se a cerimónia. Depois daquela iniciação verifiquei que estava num seio de irmãos de elevada qualidade, de irmãos com conhecimentos diversificados oriundos de diversas áreas do conhecimento e do saber fazer. O local e a sua decoração eram extraordinariamente diferentes, e a sua decoração de uma beleza simples e eficazmente demonstrativa do novo caminho. Como diferentes são as posições que determinados membros ocupam em comparação com o que até aqui tinha conhecido. E eu em silêncio observava toda esta nova ordem de acontecimentos. Mas, a minha mente não estava em silêncio, estava sim numa ensurdecedora azáfama de apreender tudo o que me estava a ser transmitido. Uma verdadeira dicotomia. O silêncio e a azáfama da minha mente! Até àquele momento só conhecia a teoria da tábua rasa (1) . Estava naquele meu caminho partindo do zero, queria que a minha mente estivesse em branco e dali fosse em silêncio apreendendo o conhecimento que me era agora transmitido. Cerca do final da cerimónia ouvi o T:. V:. P:. M:.falar no rio Letes ou o rio do esquecimento e imediatamente nos elucidou sobre a Lenda do Rio Letes, ou rio do esquecimento. Fiquei fascinado, porque era exactamente como eu me sentia. Tudo até aquele momento era novo. Diferente do aprendido até então! Mas, o tema do silêncio não me saía da memória, eu sei que comigo é em silêncio que me consigo concentrar e começar uma aprendizagem, outros preferem locais com ruído ou ouvir musica. É em silêncio que estou a ler o Livro “O Homem Que Sabia Contar”(2) e caso dos quatro quatros (4444), e em silêncio recordo o teorema de Pitágoras. Numa pesquisa no motor de busca da internet sobre o silêncio existem cerca de 97 600 000 resultados (0,43 segundos). Desde a obra cinematografica “o Silêncio dos Inocentes”, ou filme “Silêncio” que relata a viagem de 2 padres jesuítas ao Japão. O tema o silêncio das palavras tem cerca de 17 300 000 resultados (0,43 segundos) . Mas, eu escolhi este tema para elaborar o meu Balaústre que deverá ser lido perante uma assembleia de irmãos ilustres, e, seria suposto eu apresentar algo de novo, algo que ainda não tivesse sido escrito, mas, não consigo. Continua na minha memória ainda hoje, como em Março a canção The sounds of Silence do Simon and Garfunkel, “Left its seeds while I was sleeping and the vision that was planted in my brain still remains within the silence of silence. Mas, porquê?  3 Porque o silêncio é algo que pode ser perturbador, é algo que nos altera e faz pensar. E pensar, é muitas das vezes incómodo! Mexe connosco porque é sempre melhor andar em modo automático do que pensar! Pensar pode perturbar, pode fazer-nos questionar tudo e todos. Pelo pensamento podemos questionar até a nossa própria existência e a existência da humanidade! O silêncio às vezes é ensurdecedor quando possivelmente estejamos em reflexão, apesar de estarmos em silêncio poderemos ouvir vozes, mas se estamos em silêncio como ouvimos essas vozes? Apesar do silêncio o nosso cérebro gravou como se de uma fita de um filme áudio visual se tratasse as vozes, as conversas tidas entre nós e vários intervenientes, ou às vezes o que para uns poderá ser ainda mais perturbante o nosso cérebro gravou as nossas vozes interiores e parece que ao ouvi-las nos apercebemos de coisas que até ali não tínhamos valorado, e em silêncio, mas com a dicotomia de estarmos a ouvir as nossas vozes reflectimos num assunto, ou aprendemos como resolver um problema que até a determinado momento não tínhamos encontrado a “solução” para o mesmo. O poder do silêncio é de facto algo pessoal e intrínseco que cada um de nós sente de maneira diferente, o silêncio como método de aprendizagem, o silêncio como indiferença, o silêncio como consentimento. Neste novo caminho que decidi fazer e para o qual fui aceite e reconhecido permaneço em silêncio a ouvir a sabedoria dos meus Queridos Irmãos, e pela transmissão da ritualista do grau permaneço em silêncio, e é em silêncio que eu vou fazendo o meu percurso e apreendizagem, e às vezes em silêncio debato os meus pensamentos que me perturbam ou causam desconforto, quiças na busca de alguma solução para esse “eventual conflito”! Mas, na senda da busca de material para poder elaborar um balancete com o mínimo de qualidade deparei-me que o tema a voz do silêncio (3) não era novidade nenhuma. Helena Blavatsky (4) procurou transmitir como é que os monges tibetanos alcançavam a plenitude espiritual e a perfeita comunhão entre corpo e alma. É por isso que nestes ensinamentos se aprende que «Há só uma senda até ao Caminho; só chegado bem ao fim se pode ouvir a Voz do Silêncio». A escada pela qual o candidato sobe é formada por degraus de sofrimento e de dor; estes só podem ser calados pela voz da virtude. Lê-se no blog COGITO ERGO SUM" (5) que o silêncio é uma virtude aprendida na Maçonaria e deve ser praticado não só nos trabalhos maçónicos, mas na vida profana. Silêncio é a primeira pedra do Templo da sabedoria. No entanto, na minha jornada de 170 kms o que me ficou no ouvido não era a voz do silêncio, mas sim a música “the sounds of silence”, ou seja os sons do silêncio! Decidi fazer a minha viagem ao meu interior, e, perceber por mim o caminho que eu estaria agora percorrer. Na cerimónia, foram-me selados (6) simbolicamente os lábios, não para eu não poder expressar a minha vontade, mas, “para me proteger”, para que eu pudesse apreender em silêncio e reflexão do percurso acabado de iniciar. Ou seja, foi como se de um lacre aposto num documento classificado de “secreto” (7) se tratasse. Em silêncio reflecti que me deveria tornar perfeito na minha caminhada, ser zeloso, combater o vício, ser justo e intimamente reflectir sobre os conhecimentos que me foram transmitidos, para poder dar inicio à decoração ou “embelezamento” de um templo. 

NOTAS:
1. John Locke (1632 – 1704), filósofo inglês, o Empirismo (…)Ele negava radicalmente que existissem idéias inatas, tese defendida por Descartes. Quando se nasce, argumentava, a mente é uma página em branco (tabula rasa) que a experiência vai preenchendo. O conhecimento produz-se em duas etapas: a) a da sensação, proporcionada pelos sentidos, e b) a da reflexão, que sistematiza o resultado das sensações.
2. Malba Tahan - Pseudónimo de Júlio César de Mello e Sousa (1895-1974)professor e autor de 69 livros de contos e 51 de matemática. (O caso dos quatro quatros está desenvolvido no capitulo VII das paginas 33 à 38, e Teorema de Pitágoras pag.107 
3. Helena Petrovna Blavatsky- escritora de Russa editou uma obra dedicada à voz do silêncio traduzida por Fernando Pessoa
4. A voz do silêncio, primeiro fragmento, página 7, Helena Petrovna Blavatsky 
5. Silêncio, http://moraledogma.blogspot.com 
6. cf ritual
7. Mestre Secreto (…) O Segredo é indispensável a um maçom seja qual for o seu grau. Esta é a primeira e quase a única lição ensinada ao Aprendiz Iniciado. retirado de COGITO ERGO SUM,  http://moraledogma.blogspot.com 
8. "Ai de ti, pois, discípulo, se há um único vício que não abandonaste; porque então a escada abaterá e far-te-á cair; a sua base assenta no lodo fundo dos teus pecados e defeitos". in Helena Petrovna Blavatsky, retirado de http://moraledogma.blogspot.com  

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O DEVER DO SILÊNCIO

Olga Dmytrenko

O DEVER DO SILÊNCIO
Na bíblia, podemos verificar que é no silêncio que escutamos o nosso Deus. Em todos os textos que tive a oportunidade de estudar sobre o dever do silêncio, verifico que o ruído atrapalha-nos a escuta física, assim como a escuta da gnose, o ruído a que me refiro, não se trata da poluição sonora, mas o ruído do nosso primeiro inimigo, aquele que todos observamos no espelho, no dia da nossa iniciação no primeiros grau. Este é, e será sempre o ruido mais ensurdecedor com que teremos de conviver até partirmos para oriente eterno, é aquele que deve ser talhado até ficar como uma pedra polida, até ficar como o mais sublime som da gnose. No entanto, repare-se que o mundo está cheio de barulhos: veículos, a voz de multidões, o barulho das cidades, os animais, as arvores, etc, é um constante frenesim para a nossa consciência, pois no acessório, tudo atrapalha, tudo chama a nossa atenção, tudo nos distrai. Mas com o estudo e conhecimento, conseguirmos abstrair-nos deste ruido, obteremos o dito silêncio, conseguiremos acalmar e focar no mais importante, poderemos escutar o verdadeiro silêncio, instrutor da sapiência divina, aquele que interessa ouvir. Várias culturas têm o habito de praticar esta fantástica ferramenta, o dever de ficar em silêncio durante momentos, torna-nos mais disciplinados, clarifica-nos a mente e aumenta-nos a clarividência. A temporada em que estamos em completo silêncio desde aprendizes a companheiros, assim como na qualidade de mestres, a maior parte do tempo, onde me incluo, deve ser constante e profundo no nosso Ser, no nosso Eu, deve ser como o ato de revelação da Luz, para que possamos cumprir algumas premissas do inquérito de S. João, devemos então enterrar os vícios e exaltar as virtudes, sendo o dever do silêncio uma das maiores virtudes que o ser humano possui, é aqui que nós mestres, devemos mostrar o nosso verdadeiro “Eu”, é esta a subida da escada de Jacó. Falar demais, sem cuidado, não é bom. Quando paramos de falar e ficamos em silêncio, passamos a ouvir com atenção. O silêncio aprofunda o nosso relacionamento com Deus e com os outros. Na bíblia em Eclesiastes, versículo 5, paragrafo 2 e 3, diz; “Não seja precipitado de lábios, nem apressado de coração para fazer promessas diante de Deus. Deus está nos céus, e você está na terra, por isso, fale pouco. Das muitas ocupações brotam sonhos; do muito falar nasce a prosa vã do tolo.” Em Tiago, versículo 3, no paragrafo 2º, diz, “Todos tropeçamos de muitas maneiras. Se alguém não tropeça no falar, tal homem é perfeito, sendo também capaz de dominar todo o seu corpo.” Como Mestres Maçons, todos interiorizamos que a oportunidade de usar a palavra, deve ser, além de extrema importância, carregada de sabedoria e usada unicamente quando é absolutamente indispensável, correndo o risco de usarmos a palavra para fazermos ruido naqueles que nos escutam. A principal lição do dever do silencio que devemos retirar, enquanto Mestres Maçons é que a palavra deve ser usada com mestria. Mas como em quase tudo na vida, cada um é como cada qual e todos evoluem ou podem fazê-lo. Há aqueles que quase não precisaram de estudar esta lição, por temperamento são pessoas caladas, reflexivas, ponderadas, que raramente falam e, quando o fazem, são, precisamente pela raridade da situação, muito atentamente ouvidos. Há pessoas que quase nunca falam a despropósito, mas algumas vezes, precisamente pelo seu particular zelo na seleção das palavras deixam de dar contributos preciosos, se partilhados no momento próprio. Há outros que, pelo contrário, são de natureza interventiva, não deixam de dar a sua opinião, não temem estar em minoria, entendem que participar, implica opinar, contribuir, ainda que por vezes apenas marginalmente. Esses correm o risco de se equivocar algumas vezes, de opinar sem o conhecimento ou a ponderação adequada, de darem a impressão de que, sobretudo, gostam é de ouvir a própria voz, estes tendem a ser a maioria. Há um encontro entre o dever, o dever de ser, de ser do silencio com os deveres enquanto homens, entes estão na dignidade, na dignidade de sermos humanos, diferentes de todas as classes animais, este encontra-se no valor de que se reveste tudo aquilo que não tem preço, ou seja, não é passível de ser trocado por algo que possa parecer idêntico. Dessa forma, a dignidade é uma qualidade inerente aos seres humanos enquanto entes morais: na medida em que exercem de forma autônoma a sua razão prática, os seres humanos constroem distintas personalidades humanas, cada uma delas absolutamente individual e insubstituível. Concludentemente, a dignidade é totalmente inseparável da autonomia para o exercício da razão prática, e é por esse motivo que apenas os seres humanos se sobrevestem de dignidade, é por este motivo, o da dignidade humana que o dever do silencio deverá ser uma constante de trabalho afincado na profundidade no nosso Ser, do nosso Eu. Há várias escrituras no passado que declararam, “As palavras terminam onde começa a verdade”.

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CONHECIMENTO E A SABEDORIA

Alberto d' Assumpção

A sabedoria, pode ser vista para o Desenvolvimento do Homem como experiência na pragmática fundamental da vida para organizar o nosso pensamento mais perspicaz e humano. Um julgamento sábio deve refletir a perceção da natureza humana, justiça, conveniência e assim por diante. A conceção de equilíbrio da sabedoria pode enfatizar a capacidade de fazer julgamentos complexos sobre o bem comum refletindo conhecimento explícito e tácito, são julgamentos que equilibram um conjunto de fatores potencialmente conflitantes de curto e longo prazo. Outras perceções podem elucidar a ação sábia, estabelecendo a sabedoria como muito indescritível e uma qualidade pessoal. Há autores que destacam várias características da ação inteligente, como lidar geralmente com assuntos humanos complicados e especialmente interpessoais, contrastando com ações que são apenas astutas, expedientes ou inteligentes, e manifestando desinteresse, compaixão, empatia e bom timing para fazer a diferença. Numa recente dissertação profunda sobre sabedoria, o autor Rowson (2009) argumenta que as ações sábias e julgamentos dependem particularmente da liberdade de uma variedade de ilusões do eu, o que nos impede de ver claramente. Para generalizar, as diferentes visões de sabedoria mostram um parentesco notável, mas tendem a não mostrar as mesmas características, como de fato, vistas como conhecimento ou informação. No lado positivo, certamente áspero de definições e contrastes servem para aprofundar o nosso senso de informação, conhecimento e sabedoria. No entanto, queremos saber o que é o oposto do conhecimento? Ignorância, desinformação, estupidez e assim por diante. Também fazem parte da cultura, das artes populares como cinema e literatura, bem como folclore tradicional, todos se envolvem com ignorância, estupidez e erro. Existem muitas teorias na literatura sobre inteligência e sabedoria, tais como teorias psicométricas, teorias cognitivas, teorias genético-epistemológicas e teorias sociopsicológicas.
Há muitas tentativas de medir a inteligência e muito menos com testes de criatividade, apesar de muitos desentendimentos nesses testes. Quanto à sabedoria, não há testes até o momento para justificar qualquer desacordo.
As teorias implícitas podem ser úteis no desenvolvimento de uma estrutura conceitual para definir a sabedoria. “As teorias implícitas são construções de pessoas que residem nas mentes desses indivíduos. Tais teorias precisam ser descobertas em vez de inventadas porque já existem de alguma forma, na cabeça das pessoas” (Sternberg, 1985). A maneira mais simples e direta de encontrar tais teorias implícitas é perguntar às pessoas o que elas são.
Confúcio, nos Analectos, postula que a sabedoria envolve a justiça, e que as pessoas sábias são conhecedoras do Caminho (Tao). Sabedoria no budismo é uma forma de iluminação (nirvana) em que um entenderia e levaria a vida de acordo com o que é "certo". Aristóteles sustenta que a prática e a sabedoria representam a capacidade de decidir bem em relação à conduta da vida.
O conhecimento é necessário, mas não é suficiente para a sabedoria. Ou seja, para ser sábio é preciso ser experiente, mas ter conhecimento não faz um sábio. O conhecimento pode inibir, a busca de sabedoria ofusca as perspetivas e, consequentemente, as mudanças positivas. Por isso, destaca a importância da reflexão crítica e do bom senso.
A aquisição de sabedoria envolve um processo extenso e intenso de
aprendizagem, prática e busca de excelência. Processos múltiplos e interrelacionados são esperados na geração de sabedoria. Há aspetos integradores do conhecimento e da virtude, as precondições do desenvolvimento da sabedoria, que incluem elementos cognitivos, motivacionais, sociais, interpessoais e espirituais. O domínio da vida crítica, a experiência, orientação de mentores, experiência e influências sociais também são fatores cruciais na sabedoria e no desenvolvimento.
O conhecimento e julgamento relacionado com a sabedoria é coletivo e socialinterativo de várias maneiras. A sabedoria é socialmente interativa dentro das comunidades humanas. Por exemplo, as pessoas tendem a procurar conselhos de pessoas altamente valorizadas para os seus problemas difíceis da vida. Às vezes, essa consulta pode ocorrer nas nossas cabeças, onde simulamos que outros podem aconselhar ou fazer em particular situações difíceis na vida.
Ativar e aplicar sabedoria requer mentes interativas; aplicando o conhecimento relacionado com a sabedoria e o julgamento para situações de vida difíceis e incertas provavelmente envolve mais de um indivíduo. Isto porque o corpo de conhecimento e habilidades pode ser considerado muito grande e complexo para ser retido por uma mente sozinha. Avaliar e validar a sabedoria também requer mentes interativas. Como não há uma definição absoluta de sabedoria, a sabedoria só pode ser reconhecida e atribuída por consenso, como tal, um acordo na maioria subjetiva torna-se essencialmente objetiva. No entanto pode-se diferenciar duas formas básicas de mentes interativas, ou seja, o diálogo externo e interno. O diálogo externo acontece entre duas ou mais pessoas, onde o conselho é dado à busca individual assistência. O diálogo interno ou virtual, por outro lado, refere-se ao diálogo individual, ou seja, pensar o que os outros podem fazer ou dizer sobre o problema em questão. Em suma, é uma simulação mental. Mesmo assim, ambos os mecanismos são conducentes a melhorar o julgamento e, consequentemente, desenvolver a sabedoria.

BIBLIOGRAFIA
Sternberg, R.J.(1985). Implicit Theories of Intelligence, Creativity, and Wisdom. Journal of Personality and Social Psychology, 49, 3
Sternberg, R.J. (1998). A Balance Theory of Wisdom. Review of General Psychology, 2, 4.
Sternberg, R. J. (1999a). The theory of successful intelligence. Review of General Psychology, 3, 4, 292-316.
Baltes, P.B., and Staudinger, U.M. (2000). Wisdom: A Metaheuristic (Pragmatic) to Orchestrate Mind and Virtue towards Excellence. American Psychologist, 55, 1
Chen, M., Ebert, D., Hagen, H., Laramee, R., van Liere, R., Ma, K. L.,
Ribarsky, W., Scheuermann, G. and Silver, D. (2009). Data, information and knowledge in visualization.
http://homepages.cwi.nl/~robertl/articles/cga2009.pdf Downloaded on 2011/9/5
Baltes, P. and Smith, J. (1990) Toward a psychology of wisdom and its ontogenesis. In Wisdom, Its Nature, Origins and Development (Sternberg, R., ed.), pp. 87–120, Cambridge University Press, New York
Baltes, P. and Staudinger, U. (2000) Wisdom: A metaheuristic (pragmatic) to orchestrate mind and virtue toward excellence. American Psychologist 55, 122–136
Sternberg, R.J. (1998) A balance theory of wisdom. Review of General Psychology 2, 347–365
Claxton, G. (2008) Wisdom: Advanced creativity? In Creativity, Wisdom, and Trusteeship: Exploring the Role of Education (Craft, A., Gardner, H. and Claxton, G., eds), pp. 35-48, Corwin Press, Thousand Oaks, CA
Rowson, J. (2009) From Wisdom Related Knowledge to Wise Acts:
Refashioning the Concept of Wisdom to Improve Our Chances of Becoming
Wiser, Ph.D. Thesis, University of Bristol, Bristol, U.K


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