Cabe ao Mestre Secreto fazer ver ao neófito a seriedade do seu
juramento e todas as implicações.
A obediência pressupõe silêncio e diligência. No silêncio pode o
aprendiz refletir no que houve. Dialogar consigo mesmo e forjar o seu carácter
habituando-se, se necessário, a para além dos silêncios, a saber recalcar e calar
qualquer ressentimento.
Obedecer em silêncio também revela a importância da sobriedade, do
decoro, e da contenção. Adquirindo estes valores, saberá mais tarde como liderar e
comandar.
Perceberá que das maiores misérias humanas pode nascer a luz. Assim
reflete sobre caridade, benevolência, paciência, decoro, consideração, respeito,
caridade, e outros pequenos detalhes que a avó, através de um chá e uns bolinhos, nos
transmitia.
Mestre Perfeito
O Mestre Perfeito deve fazer jus ao seu título, ser um exemplo de
trabalho e honestidade.
Pelo trabalho árduo e dedicado, retribui um pequeno grão de tudo o que
a vida lhe proporciona, gerindo sinergias no seio do grupo a que pertence. Pelo
exemplo, será mais facilmente aceite pelos irmãos, seja como par ou primo interpares.
A liderança conquista-a pelo respeito gerado. Ao atuar a honestidade, põe-se ao
nível com a retidão do fio-de-prumo.
Uma vida segundo estes princípios será bem preenchida e faz merecer uma
passagem ao Oriente Eterno com a consciência do dever cumprido, consigo e com o
seu semelhante. Tanto o trabalho como a honestidade são ferramentas
essenciais que embelezam a construção do templo. São peças determinantes numa vida
virtuosa apta para as mais belas construções.
Secretário Íntimo
O Secretário Íntimo tinha de zelar pelo bem-estar de Salomão. Os seus
desejos mais íntimos, antecipar os seus anseios, protegê-lo de inimigos mais
improváveis.
Para tal é-lhe exigido uma lealdade a toda a prova, mesmo que
sacrifique a própria vida. Algo paralelo ao pensamento que prestamos aquando da iniciação.
Algo que vem sendo desrespeitado na nossa Ordem ultimamente.
Devia zelar pelo bem-estar de Salomão em todos os aspetos, como devemos
zelar para que os landmarks sejam cumpridos e os rituais respeitados. Tudo isto
num desapego (prefiro esta palavra a desinteresse) próprio. Desapego das medalhas
prebendas, e outros afagos profanos que mascaram e denigrem a vocação, a dedicação e
a abnegação. Estas últimas não carecem de recompensa material. No
entanto, materializam o esperado da ação do homem de bem ou de bons costumes. O desapego da recompensa material é diminuto perante o afago do bem que
se propaga no mundo, passo a passo, mas sempre com o ideal da paz universal gerado
pela virtude, pela tolerância, pela verdade.
Preboste ou Juiz
Salomão era considerado um grande juiz (o maior, até) na antiguidade.
Ficou no uso linguístico a expressão “sentença salomónica”, em francês “le juste
milieu”, o meio caminho ideal.
Poderia arriscar falar de justiça ideal para pobres e ricos, fracos e
fortes, débeis e poderosos, patrões e assalariados. Ser juiz é um fardo. Depende muito
do zeitgeist – o espírito dos tempos. Hoje em dia é alvo de pressões atrozes da
comunicação social, das grandes corporações, etc. Precisa ter uma bagagem enorme,
sociológica, psicológica, ética, cívica, e acima de tudo, empática.
Tem de saber pôr-se no lugar do réu e inferir dos motivos que
originaram a delinquência, para que a equidade, mãe de toda a justiça, seja honrada.
Ao preencher pelo menos estes requisitos, a sentença será lavrada de maior presteza e
aí será uma honra ter exercido a função de juiz.
A toga tem de ser feita de um material ético, intelectual, caridoso e
honesto. Sem estes valores, será apenas um tecido.
Intendente dos Edifícios
Qualquer trabalho que se queira bem feito necessita de pontualidade. O
Mestre Hiram era o primeiro a estar presente, fossem quais fossem as condições
atmosféricas, todos os dias era o primeiro a chegar e o último a partir.
Observava o trabalho dos vários grupos de talhadores, incrustadores,
polidores, metalúrgicos, e zelava pelo bom andamento da construção do templo.
Corrigia o que havia a corrigir, combinando as várias possibilidades de resolução dos
problemas emergentes. Despedia os incompetentes. Transferia pessoas entre
equipas. Corrigia os mestres e se necessário devolvia-os à condição de aprendizes.
A sobriedade e a temperança necessárias eram-lhe mais necessárias ao
dialogar com Salomão e ao enfrentar as intrigas de poder espiritual e outras forças
mal intencionadas que viviam de intrigas de poder.
No final foi aclamado, respeitado, e celebrado por 100000 obreiros.
Estes retribuíram ao Mestre a devoção que este tinha pela obra. Ser um exemplo, não
exigir nada ao outro que não exigimos a nós próprios, aprender com os nossos erros,
ter a honestidade e a abertura para aprender com os outros, mesmo que em
teoria nossos
inferiores. Enfim, reconhecer a nossa ínfima expressão com que viemos
ao mundo e dar graças por, ao existir, podermos contribuir para uma consciência
universal que talvez um dia nos faça levantar o céu e nos tornarmos merecedores do reconhecimento do Grande Arquiteto do Universo, pela obra que, com
desapego das coisas terrenas, ajudámos a construir.
Essa será a nossa melhor morte e a nossa virtude o verdadeiro portal.
ELBF04
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