sexta-feira, 5 de outubro de 2018

GRAUS INEFÁVEIS

Alberto d'Assumpção


Mestre Secreto
Cabe ao Mestre Secreto fazer ver ao neófito a seriedade do seu juramento e todas as implicações.
A obediência pressupõe silêncio e diligência. No silêncio pode o aprendiz refletir no que houve. Dialogar consigo mesmo e forjar o seu carácter habituando-se, se necessário, a para além dos silêncios, a saber recalcar e calar qualquer ressentimento.
Obedecer em silêncio também revela a importância da sobriedade, do decoro, e da contenção. Adquirindo estes valores, saberá mais tarde como liderar e comandar.
Perceberá que das maiores misérias humanas pode nascer a luz. Assim reflete sobre caridade, benevolência, paciência, decoro, consideração, respeito, caridade, e outros pequenos detalhes que a avó, através de um chá e uns bolinhos, nos transmitia.

Mestre Perfeito
O Mestre Perfeito deve fazer jus ao seu título, ser um exemplo de trabalho e honestidade.
Pelo trabalho árduo e dedicado, retribui um pequeno grão de tudo o que a vida lhe proporciona, gerindo sinergias no seio do grupo a que pertence. Pelo exemplo, será mais facilmente aceite pelos irmãos, seja como par ou primo interpares. A liderança conquista-a pelo respeito gerado. Ao atuar a honestidade, põe-se ao nível com a retidão do fio-de-prumo.
Uma vida segundo estes princípios será bem preenchida e faz merecer uma passagem ao Oriente Eterno com a consciência do dever cumprido, consigo e com o seu semelhante. Tanto o trabalho como a honestidade são ferramentas essenciais que embelezam a construção do templo. São peças determinantes numa vida virtuosa apta para as mais belas construções.

Secretário Íntimo
O Secretário Íntimo tinha de zelar pelo bem-estar de Salomão. Os seus desejos mais íntimos, antecipar os seus anseios, protegê-lo de inimigos mais improváveis.
Para tal é-lhe exigido uma lealdade a toda a prova, mesmo que sacrifique a própria vida. Algo paralelo ao pensamento que prestamos aquando da iniciação. Algo que vem sendo desrespeitado na nossa Ordem ultimamente.
Devia zelar pelo bem-estar de Salomão em todos os aspetos, como devemos zelar para que os landmarks sejam cumpridos e os rituais respeitados. Tudo isto num desapego (prefiro esta palavra a desinteresse) próprio. Desapego das medalhas prebendas, e outros afagos profanos que mascaram e denigrem a vocação, a dedicação e a abnegação. Estas últimas não carecem de recompensa material. No entanto, materializam o esperado da ação do homem de bem ou de bons costumes. O desapego da recompensa material é diminuto perante o afago do bem que se propaga no mundo, passo a passo, mas sempre com o ideal da paz universal gerado pela virtude, pela tolerância, pela verdade.

Preboste ou Juiz
Salomão era considerado um grande juiz (o maior, até) na antiguidade. Ficou no uso linguístico a expressão “sentença salomónica”, em francês “le juste milieu”, o meio caminho ideal.
Poderia arriscar falar de justiça ideal para pobres e ricos, fracos e fortes, débeis e poderosos, patrões e assalariados. Ser juiz é um fardo. Depende muito do zeitgeist – o espírito dos tempos. Hoje em dia é alvo de pressões atrozes da comunicação social, das grandes corporações, etc. Precisa ter uma bagagem enorme, sociológica, psicológica, ética, cívica, e acima de tudo, empática.
Tem de saber pôr-se no lugar do réu e inferir dos motivos que originaram a delinquência, para que a equidade, mãe de toda a justiça, seja honrada. Ao preencher pelo menos estes requisitos, a sentença será lavrada de maior presteza e aí será uma honra ter exercido a função de juiz.
A toga tem de ser feita de um material ético, intelectual, caridoso e honesto. Sem estes valores, será apenas um tecido.

Intendente dos Edifícios
Qualquer trabalho que se queira bem feito necessita de pontualidade. O Mestre Hiram era o primeiro a estar presente, fossem quais fossem as condições atmosféricas, todos os dias era o primeiro a chegar e o último a partir.
Observava o trabalho dos vários grupos de talhadores, incrustadores, polidores, metalúrgicos, e zelava pelo bom andamento da construção do templo. Corrigia o que havia a corrigir, combinando as várias possibilidades de resolução dos problemas emergentes. Despedia os incompetentes. Transferia pessoas entre equipas. Corrigia os mestres e se necessário devolvia-os à condição de aprendizes.
A sobriedade e a temperança necessárias eram-lhe mais necessárias ao dialogar com Salomão e ao enfrentar as intrigas de poder espiritual e outras forças mal intencionadas que viviam de intrigas de poder.
No final foi aclamado, respeitado, e celebrado por 100000 obreiros. Estes retribuíram ao Mestre a devoção que este tinha pela obra. Ser um exemplo, não exigir nada ao outro que não exigimos a nós próprios, aprender com os nossos erros, ter a honestidade e a abertura para aprender com os outros, mesmo que em teoria nossos
inferiores. Enfim, reconhecer a nossa ínfima expressão com que viemos ao mundo e dar graças por, ao existir, podermos contribuir para uma consciência universal que talvez um dia nos faça levantar o céu e nos tornarmos merecedores do reconhecimento do Grande Arquiteto do Universo, pela obra que, com desapego das coisas terrenas, ajudámos a construir.

Essa será a nossa melhor morte e a nossa virtude o verdadeiro portal.

ELBF04

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