Izabella
Pavlushko
O Silêncio
Depois de ter recebido a notícia que a minha candidatura à Associação Albert
Pike tinha sido aceite, foi-me dito que esta fase era dedicada ao silêncio.
Recordei que em 2002 quando fui iniciado nas denominadas Lojas Azuis estive
dois anos sem poder “falar” durante as SS:.
Iniciei a minha viagem de quase 170 quilómetros em direcção ao Porto e vinha
a meditar sobre o que poderia estar relacionado com este tema, o silêncio.
Meditar sobre o que significaria o percurso de entrada numa Loja de Perfeição
ou de graus inefáveis.Tive que ir consultar o dicionário para ver o significado de
tal palavra, visto não ser usual no léxico do português comum.
Só me vinha à memória Paul Simon & Art Gurfunkel, the Sounds of Silence,
“ Hello darkness my old friend I’ve to come to talk with you again (…)" Chegado ao Porto fui recebido em local previamente designado por um grupo
de homens, dos quais eu só conhecia um. E dali a momentos iniciou-se a
cerimónia.
Depois daquela iniciação verifiquei que estava num seio de irmãos de elevada
qualidade, de irmãos com conhecimentos diversificados oriundos de diversas
áreas do conhecimento e do saber fazer.
O local e a sua decoração eram extraordinariamente diferentes, e a sua
decoração de uma beleza simples e eficazmente demonstrativa do novo
caminho. Como diferentes são as posições que determinados membros
ocupam em comparação com o que até aqui tinha conhecido.
E eu em silêncio observava toda esta nova ordem de acontecimentos. Mas, a
minha mente não estava em silêncio, estava sim numa ensurdecedora azáfama de apreender tudo o que me estava a ser transmitido. Uma verdadeira
dicotomia. O silêncio e a azáfama da minha mente!
Até àquele momento só conhecia a teoria da tábua rasa (1) . Estava naquele meu
caminho partindo do zero, queria que a minha mente estivesse em branco e
dali fosse em silêncio apreendendo o conhecimento que me era agora
transmitido.
Cerca do final da cerimónia ouvi o T:. V:. P:. M:.falar no rio Letes ou o rio do
esquecimento e imediatamente nos elucidou sobre a Lenda do Rio Letes, ou rio
do esquecimento. Fiquei fascinado, porque era exactamente como eu me
sentia. Tudo até aquele momento era novo. Diferente do aprendido até então!
Mas, o tema do silêncio não me saía da memória, eu sei que comigo é em
silêncio que me consigo concentrar e começar uma aprendizagem, outros
preferem locais com ruído ou ouvir musica.
É em silêncio que estou a ler o Livro “O Homem Que Sabia Contar”(2) e caso dos
quatro quatros (4444), e em silêncio recordo o teorema de Pitágoras.
Numa pesquisa no motor de busca da internet sobre o silêncio existem cerca
de 97 600 000 resultados (0,43 segundos). Desde a obra cinematografica “o
Silêncio dos Inocentes”, ou filme “Silêncio” que relata a viagem de 2 padres
jesuítas ao Japão.
O tema o silêncio das palavras tem cerca de 17 300 000 resultados (0,43
segundos) .
Mas, eu escolhi este tema para elaborar o meu Balaústre que deverá ser lido
perante uma assembleia de irmãos ilustres, e, seria suposto eu apresentar algo
de novo, algo que ainda não tivesse sido escrito, mas, não consigo.
Continua na minha memória ainda hoje, como em Março a canção The sounds
of Silence do Simon and Garfunkel, “Left its seeds while I was sleeping and the
vision that was planted in my brain still remains within the silence of silence.
Mas, porquê? 3
Porque o silêncio é algo que pode ser perturbador, é algo que nos altera e faz
pensar. E pensar, é muitas das vezes incómodo! Mexe connosco porque é
sempre melhor andar em modo automático do que pensar!
Pensar pode perturbar, pode fazer-nos questionar tudo e todos. Pelo
pensamento podemos questionar até a nossa própria existência e a existência
da humanidade!
O silêncio às vezes é ensurdecedor quando possivelmente estejamos em
reflexão, apesar de estarmos em silêncio poderemos ouvir vozes, mas se
estamos em silêncio como ouvimos essas vozes?
Apesar do silêncio o nosso cérebro gravou como se de uma fita de um filme
áudio visual se tratasse as vozes, as conversas tidas entre nós e vários
intervenientes, ou às vezes o que para uns poderá ser ainda mais perturbante
o nosso cérebro gravou as nossas vozes interiores e parece que ao ouvi-las
nos apercebemos de coisas que até ali não tínhamos valorado, e em silêncio,
mas com a dicotomia de estarmos a ouvir as nossas vozes reflectimos num
assunto, ou aprendemos como resolver um problema que até a determinado
momento não tínhamos encontrado a “solução” para o mesmo.
O poder do silêncio é de facto algo pessoal e intrínseco que cada um de nós
sente de maneira diferente, o silêncio como método de aprendizagem, o
silêncio como indiferença, o silêncio como consentimento.
Neste novo caminho que decidi fazer e para o qual fui aceite e reconhecido
permaneço em silêncio a ouvir a sabedoria dos meus Queridos Irmãos, e pela
transmissão da ritualista do grau permaneço em silêncio, e é em silêncio que
eu vou fazendo o meu percurso e apreendizagem, e às vezes em silêncio
debato os meus pensamentos que me perturbam ou causam desconforto,
quiças na busca de alguma solução para esse “eventual conflito”!
Mas, na senda da busca de material para poder elaborar um balancete com o
mínimo de qualidade deparei-me que o tema a voz do silêncio (3) não era
novidade nenhuma.
Helena Blavatsky (4) procurou transmitir como é que os monges tibetanos
alcançavam a plenitude espiritual e a perfeita comunhão entre corpo e alma. É por isso que nestes ensinamentos se aprende que «Há só uma senda até ao
Caminho; só chegado bem ao fim se pode ouvir a Voz do Silêncio». A escada
pela qual o candidato sobe é formada por degraus de sofrimento e de dor;
estes só podem ser calados pela voz da virtude. Lê-se no blog COGITO ERGO SUM" (5) que o silêncio é uma virtude aprendida na Maçonaria e deve
ser praticado não só nos trabalhos maçónicos, mas na vida profana.
Silêncio é a primeira pedra do Templo da sabedoria.
No entanto, na minha jornada de 170 kms o que me ficou no ouvido não era a
voz do silêncio, mas sim a música “the sounds of silence”, ou seja os sons do
silêncio!
Decidi fazer a minha viagem ao meu interior, e, perceber por mim o caminho
que eu estaria agora percorrer.
Na cerimónia, foram-me selados (6) simbolicamente os lábios, não para eu não
poder expressar a minha vontade, mas, “para me proteger”, para que eu
pudesse apreender em silêncio e reflexão do percurso acabado de iniciar. Ou
seja, foi como se de um lacre aposto num documento classificado de “secreto” (7) se tratasse.
Em silêncio reflecti que me deveria tornar perfeito na minha caminhada, ser
zeloso, combater o vício, ser justo e intimamente reflectir sobre os
conhecimentos que me foram transmitidos, para poder dar inicio à decoração
ou “embelezamento” de um templo.
NOTAS:
1. John Locke (1632 – 1704), filósofo inglês, o Empirismo (…)Ele negava radicalmente que existissem idéias inatas, tese defendida por Descartes. Quando se nasce, argumentava, a mente é uma página em branco (tabula rasa) que a experiência vai preenchendo. O conhecimento produz-se em duas etapas: a) a da sensação, proporcionada pelos sentidos, e b) a da reflexão, que sistematiza o resultado das sensações.
2. Malba Tahan - Pseudónimo de Júlio César de Mello e Sousa (1895-1974)professor e autor de 69 livros de contos e 51 de matemática. (O caso dos quatro quatros está desenvolvido no capitulo VII das paginas 33 à 38, e Teorema de Pitágoras pag.107
3. Helena Petrovna Blavatsky- escritora de Russa editou uma obra dedicada à voz do silêncio traduzida por Fernando Pessoa
4. A voz do silêncio, primeiro fragmento, página 7, Helena Petrovna Blavatsky
5. Silêncio, http://moraledogma.blogspot.com
6. cf ritual
7. Mestre Secreto (…) O Segredo é indispensável a um maçom seja qual for o seu grau. Esta é a
primeira e quase a única lição ensinada ao Aprendiz Iniciado. retirado de COGITO ERGO SUM, http://moraledogma.blogspot.com
8. "Ai de ti, pois, discípulo, se há um único vício que não abandonaste; porque então a escada abaterá e far-te-á
cair; a sua base assenta no lodo fundo dos teus pecados e defeitos". in Helena Petrovna Blavatsky,
retirado de http://moraledogma.blogspot.com
ELBF27
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