terça-feira, 30 de abril de 2019

Edward Elgar - Nimrod




Edward Elgar - Nimrod (António Saiote - Orquestra Sinfónica da ESMAE)


Executado em clarinete, em Loja por:

ELBF04

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Tolerância e Alteridade

Luís Morgadinho

Tolerância e Alteridade

Diante da violência e a dor que os diversos conflitos atuais nos oferecem, importa refletir demoradamente sobre o que é a Tolerância, pois um futuro de paz depende dos nossos atos e gestos quotidianos.
A sensibilização e educação para a tolerância, nos diversos âmbitos, mas sobretudo no coração de cada I.: são imprescindíveis. Impõe-se, pois se se quer corrigir a assimetria do mundo, tornar menos desigual a repartição dos seus recursos, não se pode deixar de falar na luta contra a intolerância, a pobreza e a humilhação, como principais fontes de violência. Mas o fator fundamental, que se alcança pelo aperfeiçoamento pessoal, é compreendermos que a nossa capacidade de valorizar cada pessoa é a base da ética da paz, da segurança e do diálogo intercultural.

1. A tolerância

A tolerância tem a ver com a imagem que construímos do mundo, com um mundo alternativo. Como pode um organismo integrar o elemento estranho sem o dissolver? A bem dizer, a tolerância não tem a ver com realidades, mas com as ideias que delas fazemos: problema de comunicação, desconhecimento entendido como “risco moral”; privilégio do diálogo para encontrar o outro sem perdermos o nosso ser, porquanto é preciso julgar e poder justificar-se para viver em comum. Só pode ser tolerante, no sentido estrito, aquele que se comporta enquanto organismo e sistema. Se ele estiver interiormente pronto a acolher o estranho, o novo que o chama, sem perder a essência da sua unidade e da sua identidade, será efetivamente tolerante. Sendo assim, quando falamos de tolerância, num sentido estrito, fazemos referência à capacidade de expor, de arriscar estas ideias a que chamamos “minhas” ou a que um conglomerado histórico chama “nossas”, face à eficácia das outras razões que não são as minhas, que ao olhar e ao domínio do “eu”. De um inconsciente que, perigosamente, está a constituir um outro sistema.

2. Alteridade

Ser tolerante é aceitar o outro como outro, como diferente; mas é esta diferença que nos devolve a nós próprios, enriquecidos. Coloca-nos na interdependência recíproca e na peregrinação. A tolerância é a seriedade que admite noutrem uma maneira de pensar ou de agir diferente da que nós mesmos adotamos, que respeita a liberdade de outrem em matéria de religião, de opiniões filosóficas, políticas. A tolerância, então, é o modo em que um ser existe noutro, e expressa a radical interdependência de tudo o que existe. A força de muitas culturas tradicionais não está só na sua resistência ao infortúnio e ao sofrimento, mas na sua habilidade para tolerar, e com isto, para integrar de forma mais completa, o que em outras circunstâncias exasperaria e inclusive destruiria a gente corrente.
Mas o duplo sentido de «tolerar», a sua cisão entre suportar e combater, advertiu-nos disto: o fantasma do «intolerar» está sempre presente-ausente na tolerância, esse fantasma que transforma o outro à sua imagem, fazendo dele o seu outro, um quase-ser, um quase-outro. Aceitar o nosso destino humano é assim aceitar ser afetado pela pluralidade dos singulares que, de facto, nos afeta.
Entre os dois extremos, o de uma afirmação irredutível da individualidade, que inviabilizaria a tolerância negando a possibilidade de uma verdadeira comunicação, e o de uma redução do indivíduo à formação social e política que a tornaria gratuita como esforço voluntário, parece-nos sensato propor um meio termo, o do mútuo reconhecimento, que possibilita o surgir do “eu” e do “tu”. Não se trata apenas de relacionar dois indivíduos, mas de compreender que o Eu só se reconhece como tal no confronto de identidades e diferenças com um Tu, que só a relação torna visível a individualidade. O respeito pela alteridade não é, deste modo, mero artifício de boa convivência, mas a condição de possibilidade de revelação ao Homem pelo Homem, da sua Humanidade.
Ser cada vez mais tolerante, sem pôr em causa o que é humano no homem, é tarefa concreta, para a qual a teorização só pode apontar. A tolerância apoia-se na vivência de uma convicção: nada há mais importante que as pessoas, e estas têm que ser integramente respeitadas, com todas as suas peculiaridades e suas diferenças. Mais ainda, a atitude de tolerância tem fé na possibilidade de conduzir as disputas, controvérsias e conflitos como uma empresa cooperativa, em que ambos os lados ou partidos aprendem, ao dar ao outro a chance de se expressar.

ELBF26

domingo, 28 de abril de 2019

MORAL

Mithra - Alberto d’ Assumpção
MORAL
Moral provém do latim, Moralis - maneira, carácter, comportamento próprio. Define o conjunto de intenções e acções próprias ou impróprias.
Há uma confusão recorrente ou sobreposição entre moral e ética.
Éthica era para os gregos êthos - o interior do ser humano, a intenção subjectiva do indivíduo.
Ética também significava éthos ou mores em latim-conjunto de hábitos, costumes, usos, regras vigentes em cada época.
Ao traduzir ética para Mores, o latim ignorou a interpretação subjectica, o livre arbítrio, privilegiando o lado comunitário e social da ética.
A moral submete-se a m valor: Hegel distinguia a moral subjectiva da moral objectiva. A primeira abordava o livre arbítrio, o cumprimento do dever. A segunda, a moral objectiva -obediência às normas da sociedade; às leis, costumes vigentes. Para Hegel, a vontade subjectiva torna-se incompleta pois não considera a sociedade em que o indivíduo se insere.
Por outro lado pode ser estéril, ao não sair do abstraco, ao não resultar ou interagir com as normas de sociedade.
A racionalidade da moral universal, interagindo com a sociedade, enriquece e completa a moral subjectiva tornando-a objectiva, eficaz. Embeleza-a e fortalece-a, tornando a moral uma virtude.
Interessante a relação entre Moral e Direito.
Se nem tudo o que é moral é regra jurídica, nem tudo o que é lícito é moral. Sendo duas formas de regulação social, entrecruzam-se, completam-se, fortalecem-se, mas não deixam de ser entidades distintas as quais necessitam de equilíbrio. Deste equilíbrio derivará a virtude dos justos. Sem moral o direito pode ser inumano. Sem direito, a moral pode tornar-se numa amálgama de maus hábitos segundo o Zeitgeist.
 As sociedades totalitárias são exemplos paradigmáticos onde o direito do regime fere de morte e se sobrepõe à moral dos costumes, ao direito consuetudinário, ao livre arbítrio, à liberdade, à empatia, à piedade, à fraternidade, por exemplo.
Segundo Georg Jellinek, na sua teoria do mínimo ético, o Direito representa o mínimo de moral necessário para que a sociedade possa sobreviver.
Moral e Religião
Em civilizações milenares não há distinção entre moral e religião. Egípcios, babilónios, chineses, muçulmanos ortodoxos hoje em dia, digo eu, convivem com a moral, a religião e o próprio direito como um todo.
Nos códigos antigos encontram-se preceitos jurídicos, morais e religiosos, vide a sharia.
Nesse tempo, o direito não tinha ainda adquirido autonomia. O peso da coação religiosa e o rigor dos costumes, dispensavam outro tipo de regras. Não por acaso, o direito atinge a sua carta de alforria nas sociedades laicas.
 Nem tudo o que é legal é moral; nem tudo o que é lícito é honesto. Nunca como nos dias de hoje se revelaram estes axiomas!
O Direito é heterónimo porque é imposto ou assegurado pela autoridade competente mesmo que vá de encontro dos seus destinatários.
Bilateral, funciona entre indivíduos ou partes que se colocam como sujeitos: um de direito; outro de obrigações.
Coercível, deve ser cumprido sob pena do sujeito devedor ser objecto de sanções aplicáveis e decorrentes dos órgãos especializados da sociedade.
A Moral é subjectiva e deriva do livre arbítrio determinado pela nossa consciência autónoma.
Unilateral, pois é decorrente do indivíduo.
Subjectiva, só obedece ao dever interior.
Tenho para mim que do equilíbrio entre uma moral milenária que nos é inerente geneticamente e se traduz nos preceitos que as avós nos transmitiam com o chá, nos mandamentos que a religião nos impôs durante séculos e que determinaram comportamentos ainda vigentes, no direito que as sociedades mais evoluídas adoptaram para nos proteger da tirania política e religiosa decorrente dos piores vícios, resulta a Virtude que cada aconchegará cada maçon no caminho da Luz. A força do direito, a Beleza da Moral e a Sabedoria da ética. 

ELBF04

Mahler - Symphony Nº 2

Mahler - Symphony Nº 2 (António Saiote - Orquestra Sinfónica ESMAE - 5th Movement)


Executado em clarinete em Loja por,

ELBF04

À Toi la Gloire !

À Toi la Gloire !
George Frideric Haendel
AF118. À Toi la Gloire !
Texte de Edmond Louis Budry

Strophe 1
1. À toi la gloire,
Ô Ressuscité !
À toi la victoire
Pour l'éternité !
Brillant de lumière,
L'ange est descendu,
Il roule la pierre
Du tombeau vaincu.
Refrain
À toi la gloire,
ô Ressuscité !
À toi la victoire
Pour l'éternité !
Strophe 2
2. Vois-Le paraître :
C'est Lui, c'est Jésus,
Ton Sauveur, ton Maître !
Oh ! ne doute plus !
Sois dans l'allégresse,
Peuple du Seigneur,
Et redis sans cesse
Que Christ est vainqueur.
Refrain
À toi la gloire,
ô Ressuscité !
À toi la victoire
Pour l'éternité !
Strophe 3
3. Craindrais-je encore ?
Il vit à jamais,
Celui que j'adore,
Le Prince de paix ;
Il est ma victoire,
Mon puissant soutien,
Ma vie et ma gloire :
Non, je ne crains rien.
Refrain
À toi la gloire,
ô Ressuscité !
À toi la victoire

Pour l'éternité !

Executado em L. em clarinete por,
ELBF04

quinta-feira, 18 de abril de 2019

FIDELIDADE

Santa Catarina de Alexandria (Caravaggio)
FIDELIDADE
Quando nos referimos a fidelidade estamos a abordar um tema complexo e de extremo significado. Repare-se que a palavra em si, significa; qualidade de fiel, fé, lealdade, verdade, veracidade, assim como, exatidão. Invariavelmente esta surge-nos no pensamento para classificar alguém ou alguma coisa como que é leal, pois é um termo que está associado àquilo que é verdadeiro, honesto, constante e confiável. Refere-se também à qualidade da pessoa que cumpre rigorosamente os compromissos assumidos com outra, que neste caso, denomina-se, fiel. Este conceito é invariavelmente reconhecido pelo comum da sociedade como o conceito geral e generalista da palavra, fidelidade. No entanto, se entrarmos no estudo da Fidelidade Divina percorremos caminhos complexos e de difícil compreensão. Para tal, teremos que “fielmente” reconhecermos que a fidelidade de Deus é Imutável, que cremos em todas as promessas de Deus e que estas, a seu tempo, se irão cumprir e acima de tudo temos que aceitar que a infidelidade humana não altera a fidelidade de Deus. Este tema, a Fidelidade Divina é um dos grandes temas Bíblicos, carrega em si o compromisso inabalável de Deus e do seu povo. Do estudo do tema, verifica-se que a fidelidade está intimamente ligada à expressão de coerência moral e pessoal no relacionamento com o próximo. No Antigo Testamento, a fidelidade é um predicado de Deus, no seu amor misericordioso. Deus sabe que a fidelidade do seu Povo com quem construiu a Aliança, só será desenvolvida e mantida ao longo do tempo, e só será possível com a sua boa vontade. Todo o Antigo testamento está repassado por este drama, que é um desafio: a fidelidade de Deus, a infidelidade do Povo. Repare-se que São José, instala diante dos nossos olhos a beleza de uma vida fiel, confiava em Deus, por isso pôde ser o seu homem de confiança na terra para cuidar de Maria e de Jesus, e no Céu é um pai bom que cuida da nossa fidelidade. A fidelidade a alguém, a um grande amor, ou até a uma vocação, é um percurso no qual se alternam momentos de felicidade com períodos de obscuridade e dúvida. A Virgem Maria manteve o seu sim e convida-nos a ser leais, vendo também a mão de Deus naquilo que não compreendemos. Quando a Virgem Maria tomou conhecimento antecipadamente por Deus da profecia que iria viver, a sua atitude, nesse momento, e uma vez mais, foi guardar todos os seus íntimos pensamentos no seu coração, meditando. Esse é o
caminho, como assinalava João Paulo II, para poder ser leais ao Senhor: “Maria foi fiel antes de
mais quando, com amor, procurou o sentido profundo do desígnio de Deus n’Ela e para o mundo (...). Não haverá fidelidade se não houver na origem esta ardente, paciente e generosa procura; se não se encontrasse no coração do homem uma pergunta, para a qual só Deus tem resposta, melhor dito, para a qual só Deus é a resposta». Toda a fidelidade – como lhe é próprio – «deve passar pela prova mais exigente, a da duração», ou seja, a da constância. «É fácil ser coerente por um dia ou alguns dias. Difícil e importante é ser coerente toda a vida. É fácil ser coerente na hora da exaltação, difícil é sê-lo na hora da tribulação. E só pode chamar-se fidelidade uma coerência que dura ao longo de toda a vida».
Evidentemente com a introspeção sobre a fidelidade, ainda mais sobre a fidelidade divina, com o exemplo mais conhecido da sociedade crente, leva-nos obrigatoriamente por coerência à fidelidade sobre nós mesmos, a tecer algumas considerações sobre este facto em particular, pois seremos tão mais fieis e leais ao próximo, quanto o formos a nós próprios, em primeiro lugar.
William Shakespeare em (Hamlet), disse “Quando uma pessoa se conhece ou se concentra na busca de si, ela não se concentra nos erros dos outros, pois sabe que estaria, neste caso, a projetar a si mesma e, portanto, se autodenunciando. Ela prefere falar sobre si mesma, sobre sua própria visão genuína, sobre suas próprias contradições e suas próprias conclusões.

Ser fiel a si mesmo não é a garantia de uma paz idealizada e imaginativa, esta está relacionada com a falsa ideia de viver sem conflito. Primeiro, porque muitos os que insistem em fantasiar que os problemas aos quais se dedicam, são exteriores a eles, estes têm temor de quem é fiel a si mesmo e vêem-no frequentemente como um problema. Em segundo lugar, porque a busca de si mesmo não é pacífica dentro do próprio sujeito. Ao contrário disso, ser fiel a si mesmo é decidir existir, é decidir ser fiel a tudo o que existe. Ser fiel a si mesmo não é a garantia de uma paz idealizada e imaginativa, esta está relacionada com a falsa ideia de viver sem conflito. Primeiro, porque muitos os que insistem em fantasiar que os problemas aos quais se dedicam, são exteriores a eles, estes têm pavor de quem é fiel a si mesmo e vêem-no frequentemente como um problema. Em segundo lugar, porque a busca de si mesmo não é pacífica dentro do próprio sujeito. Ao contrário disso, ser fiel a si mesmo é decidir existir.
ELBF18