quarta-feira, 30 de outubro de 2019

1ª manifestação musical na história do Homem.

CARMEN SANTAYA
Um investigador da universidade de Reading, Inglaterra, estabeleceu a última tese sobre a 1a manifestação musical na história do Homem.
Segundo essa tese, os primeiros habitantes procuravam caçar animais para completar e enriquecer suas dietas. Porque o faziam sozinhos, quando vinham os invernos mais rigorosos, passavam muita fome e enfraqueciam naturalmente, tirnando os presas fáceis para outros animais e para outros humanos.
Até que um, movido pelo desespero da fome-incapaz de encontrar comida e sem forças que lhe permitissem fazer longas caminhadas afim de pricurar alimentos noutras paragens-terá usado os ossos do último animal caçado, batendo uns nos outros num chamamente desesperado. Isto atraiu outros homens, levando a que em grupo tenham conceguidi caçar animais de maior porte não só para consumo imediati, como também permitindo um excesso que, guardado, permitiu a sobrevivência do grupo durante as condições atmosféricas adversas. Levou também ao estabelecimento das primeiras tribos e à sobrevivência de mais elementos da espécie, mulheres e crianças.
Contrariamente ao que se pensou durante séculos, os caçadores recolectores já tinham estabelecido comunidades de milhares de pessoas,embora em número reduzido.
É esta aventura colectiva formidável que permitiu a prevalência do homo sapiens sobre todas as outras espécies.
Esta aventura só foi vitoriosa pela associação, cooperação e retribuição de capacidades, conhecimentos, entreajuda, amizade, empatia, amor,elementos que, equilibrados e usados na medida justa, tornam possíveis as grandes conquistas.
A justa medida encontra o seu equilíbrio nos valores forjados na prática colectiva pela necessidade inerente e empírica que cada um foi experimentando ou, em grupos mais numerosos, por normas, regras, completadas por valores morais e éticos. Sem estes valores, o homem volta à fome, ao desespero e ao seu desaparecimento.
No nosso ADN estão presentes todos estes elementos, todos estes valores, forjados desde o início dos tempos. No entanto eles podem ficar adormecidos, tolhidos, parecendo inexistentes.
Isso é evidente quando não existe educação, cultura, religião, arte-práticas onde o homem se enfrenta a si próprio, aprende a contemplar o seu semelhante, desenvolve a consciência colectiva, sente a terra e mira o universo.
Felizes os eleitos que, através da Arte Real, se dão conta que o homem carrega em si mesmo o seu maior inimigo e o germe da sua destruição. Sem essa consciência, a humanidade já deu provas das tragédias que o homem em grupo é capaz de causar quando cego pela tirania apoiada na ignorância do bem mais preciosi que temos ai nosso alcance-a fraternidade. A fraternidade é a centelha divina que clamava Schiller na ode à liberdade, da 9ª sinfonia de Beethoven.
A retribuição é um dever de memória. Deve acompanhar nos toda a vida, pela vida que nos foi dada. Com o espírito ingénuo da criança que, com poucos de vida, quando lhe damos comida já nos quer dar também. Depois também nos que amparar como a amparamos. Essa retribuição está inscrita nos nossos genes. Nenhuma circunstância nem nenhuma idade deve apagar esse sopro divino, verdadeira luz eterna, alimento do Criador.
Assim na terra como no céu.
ELBF04

ABRIR A ALMA

Federico Eguia
Este balaústre terá talvez pouco a ver com os temas e reflexões propostos dos diversos graus.
Trata de uma interiorização, reflexão e sobretudo um abrir da alma perante o que me rodeia em loja e fora dela.
De há muito, martela no meu cérebro as palavras rituais dos veneráveis no final de cada ritual sobre o campo possível de intervenção e possibilidades que se abre ao maçon no mundo profano.
Poucas vezes encontro fundamento prático, objectivo e fundamentado nos trabalhos das lojas.
Poucas pranchas, estas muitas vezes repetem e refletem o saber adquirido já escrito, raras vezes o aprendiz, companheiro ou mestre abre seu coração. Raras vezes partilha sua vida, sua profissão, seus anseios, suas ideias,seus ideais.
Tenho para mim que o ritual sublime deve inspirar-nos, motivar-nos, encorajar-nos a, descendo ao fundo de nós mesmos, partilharmos esse caminho numa jornada fraterna.
Servirá também para exprimirmo-nos sem pejo e sem vergonha de, naturalmente porque só sabemos soletrar, errar,hesitar, tropeçar como neófitos eternos em busca da luz, da palavra perdida, do GADU que vela por nós.
A simbologia do ritual que nos guia não creio que tenha sido criado para nos tolher na demanda, limitar o nosso pensamento ou tornar o silêncio e a obediência num objectivo em si mesmo.
Podendo estar errado, ouso dizer que a obediência e o silêncio são, quando bem usados e na medida certa, alavancas para uma melhor percepção da luz, decorrendo daí melhor expressão de três elementos fundamentais do eu-coração, espírito, alma.
Sem este abrir de meu coração, sem a expressão do meu espírito, sem o sopro da minha alma, não conseguiria aceitar o grau 14.
Esta é a expressão da minha ignorância, dos meus anseios e da minha esperança e crença no devir.
ELBF04

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Justiça

Alberto d' Assumpção
Justiça

A necessidade de Justiça é tão antiga como o próprio Homem. Existem naturalmente múltiplas
aceções sobre o significado de Justiça, e, de forma mais ou menos conexa, inúmeras interpretações sobre a forma de lhe dar corpo material na sociedade.

Refletir sobre Justiça, remete em primeira instância para o seu significado na Língua Pátria. E não tivéssemos já uma ideia minimamente bem decalcada sobre a riqueza de significância do conceito de Justiça, que anda fortemente ligado ao conceito de Verdade, e logo nos aperceberíamos da grandeza de um dos conceitos basilares e construtores da sociedade humana tal como a conhecemos, e cujos alicerces remetem para os primórdios da evolução.
Consultado o dicionário de Português de grande renome, somos confrontados com esta riqueza:
“1. princípio ou virtude moral que inspira o respeito pelos direitos de cada pessoa e pela atribuição do que é devido a cada um;
2. condição do que é equitativo ou moralmente correto;
3. administração da autoridade com vista à prossecução desses fins;
4. poder de aplicar as leis; poder judicial;
5. aplicação das leis para solucionar litígios, julgar causas ou atribuir sanções;
6. conformidade com o direito estabelecido;
7. conjunto de pessoas, instituições e serviços que definem a organização do poder judicial;
8. cada uma das jurisdições encarregadas do exercício do poder judicial;
9. conjunto dos magistrados; a magistratura;
10. alegoria que representa a imparcialidade da aplicação do direito, constituída por uma mulher de olhos vendados com uma balança numa mão e uma espada na outra;
11. imparcialidade; isenção;
12. capacidade de julgar e agir de forma apropriada às circunstâncias, sem favorecimento
ou discriminação;
13. reconhecimento do mérito ou do valor de algo ou de alguém;
14. RELIGIÃO uma das quatro virtudes cardeais, segundo a teologia cristã, que consiste na constante e firme vontade de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido”
Mas, muito para lá de toda as reflexões e ensaios filosóficos que a vida profana nos ensina sobre a Justiça, há que reconhecer que nunca o conceito se poderia considerar completo sem a visão muito própria da Maçonaria – que leva cada um a percecionar que muito para lá da Justiça do coletivo perante o indivíduo, não há Justiça mais implacável que aquela que emana do próprio indivíduo face a si mesmo, perante o autorreconhecimento face às suas ações, omissões, ou mesmo predisposições.
E que nunca o Maçon poderá almejar a construir um templo forte sem ter, e aplicar perante si mesmo, critérios de Verdade e de Justiça robustos e bem sedimentados. É relevar, em síntese, que a Justiça dos Homens nunca se afirmará de forma completa, porque a Verdade dos factos, das omissões ou dos pensamentos, está verdadeiramente aprisionada em cada um de nós, e haverá sempre um EU justiceiro, que por vezes tentamos silenciar, mas que em verdade nos dirá sempre sobre a justiça da nossa vida.
E é esta visão rica de Justiça, que remete para a afirmação da Ética e da Moral não só na perspetiva coletiva da sociedade, mas também, e essencialmente, na perspetiva individual, que merece ser realçada como aquela que nunca deve deixar de interessar ao Maçon, e que sabiamente nos é suscitada.

Tentemos ser sempre Justos connosco próprios e com os outros, esse é o verdadeiro caminho para uma sociedade mais perfeita!


ELBF02

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Sabedoria ou a busca da palavra perdida

Alberto d'Assumpção
Sabedoria ou a busca da palavra perdida


Sobrinho Simões disse numa conferência sobre educação que o erro dos dias de hoje era pretender eliminar o erro. Sem admitir falhas, a nossa demanda reduz se ao horizonte tangível. Sem erro, nosso pensamento limita se a citar, copiar, compilar conhecimentos adquiridos sem vírgulas, sem reticências e sem questionamento.
Ele dava como exemplo a actividade do cientista, o qual, sem experimentação, e sem pôr à prova conhecimentos adquiridos e aparentemente verdadeiros na essência, não poderia inventar. A experimentação só conduz à novidade e à criação se puser em causa conceitos existentes, admitindo o erro como etapa no caminho para a descoberta.
Simões dava como exemplo as milhares de explosões e acidentes com os motores que levaram aos carros e aviões com os níveis de segurança que temos hoje. Como músico, dou o exemplo da 5a sinfinia de Beethoven.
Nos seus cadernos, o Mestre garatujou dezenas de inícios possíveis, apagou, riscoi, até que ficou aquele início que todos sentimos ser a voz inexorável do destino e cremos não poder ter sido escrita de outra maneira!
O néofito, ante tal desafio, tem duas opções :
Desistir, refugiando se em conhecimento testado, publicado, aceite e politicamente correto.
Num espírito maçónico, usar todos os utensílios à sua disposição para a demanda do desconhecido pois atrás de cada conclusão esconde se nova etapa, debaixo de cada pedra encontra se uma pista, por cima de cada tronco vão se multiplicando as ramificações e, como diz o nosso irmão Schiller, na ode à alegria, no original, ode à liberdade-para lá do universo mora um pai que a todos ama. O Grande Arquitecto do Universo que espera que nos esforcemos, experimentemos, desesperemos, choremos mas nunca desistemos da sua demanda.
Creio que a sabedoria do mestre se revelará pelo conhecimento da sua ignorância e pelo reconhecimento que falhará tanto mais quanto maior for a sua demanda.
Assim será justo e perfeito?

ELBF04