terça-feira, 26 de junho de 2018

LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE

Eugène Delacroix

LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE
O tríplice lema, a Maçonaria e os Direitos Humanos

Em Maçonaria, são muitos os temas que originam debate, discussão e dúvida.
Por um lado, o facto de ser uma organização iniciática e discreta faz com que, muitas sejam as teorias, contos e ditos à volta da nossa Augusta Ordem, por outro lado, o facto de ser uma sociedade cujo conhecimento é transmitido por símbolos, rituais e por graus, faz com que, mesmo no seio dos seus membros existam dúvidas sobre a sua história ou muitos dos seus aspetos ritualísticos e filosóficos, sendo, pois, o ato de estudar Maçonaria, por si só um ato continuo de “polimento da pedra bruta”!
O tríplice lema da Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade é também por si só um espectro de grande discussão interna.
Várias são as versões:
•        O lema, foi criado, e é atualmente usado pela Maçonaria Universal?
•        O lema, é apenas usado pela maçonaria francesa liberal, ou se quisermos pela maçonaria dita irregular?
•        O lema, foi adotado pela maçonaria após a revolução francesa?
•        O lema, é erradamente associado à maçonaria?
Independentemente das questões levantadas, do ponto de vista filosófico, o tríptico Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade, está intimamente, a meu ver, ligado aos princípios maçónicos, independentemente da corrente ou ordem maçónica.
Para além da maçonaria, tais princípios também inspiraram a Declaração Universal dos Direitos Humanos promulgada pela ONU, em 10 de dezembro de 1948. Assim, ao abordar o tema da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade neste balaústre, decidi fazer um paralelismo entre o tríplice lema, a ação da Maçonaria e os Direitos Humanos, através da sua declaração universal.
Do ponto de vista histórico, a primeira declaração dos direitos humanos da época moderna é a Declaração dos Direitos da Virgínia de 12 de junho de 1776, escrita por George Mason e proclamada pela Convenção da Virgínia. George Mason foi um destacado politico americano, representante do estado da Virgínia na Convenção Constitucional Americana e com ligações à Maçonaria, tido como maçon embora, sem que haja prova documental da sua filiação.

Este importante documento influenciou, Thomas Jefferson na redação da declaração dos direitos humanos existente na Declaração da Independência dos Estados Unidos da América de 4 de julho de 1776. Thomas Jefferson, foi como se sabe, o terceiro presidente do EUA e um dos pais fundadores da nação americana, tendo sido o principal autor da declaração de independência e sobre o qual existem provas da sua suposta ligação à maçonaria.

Podemos ainda referir referências maçónicas na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 debatida e aprovada na Assembleia Nacional Francesa fruto da revolução francesa, também ela com elevada influencia da Maçonaria e na qual definia o direito individual e coletivo das pessoas, tendo alargado o campo dos direitos humanos e definido os direitos económicos e sociais.

Mas o momento mais importante na história dos Direitos do Homem, é no período de 1945-1948. Em 1945, os Estados tomam consciência das tragédias e atrocidades vividas durante a 2ª Guerra Mundial, o que os levou a criar a Organização das Nações Unidas (ONU) em prol de estabelecer e manter a paz no mundo. Foi através da Carta das Nações Unidas, assinada a 20 de junho de 1945, que os povos exprimiram a sua determinação "em preservar as gerações futuras do flagelo da guerra; proclamar a fé nos direitos fundamentais do Homem, na dignidade e valor da pessoa humana, na igualdade de direitos entre homens e mulheres, assim como das nações, grande e pequenas; em promover o progresso social e instaurar melhores condições de vida numa maior liberdade". A criação das Nações Unidas simboliza a necessidade de um mundo de tolerância, de paz, de solidariedade entre as nações, que faça avançar o progresso social e económico de todos os povos.

Os principais objetivos das Nações Unidas, passam por manter a paz, a segurança internacional, desenvolver relações amigáveis entre as nações, realizar a cooperação internacional resolvendo problemas internacionais do cariz económico, social, intelectual e humanitário, desenvolver e encorajar o respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais sem qualquer tipo de distinção.

Assim, a 10 de dezembro de 1948, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Mas o que é que a Declaração Universal dos Direitos Humanos tem a ver com a Maçonaria?

Não será por acaso que o tríptico em que assentam os valores filosóficos e de Acão da Maçonaria Universal – Liberdade, Igualdade, Fraternidade – se plasmam na mais feliz cumplicidade ética logo no primeiro artigo dos trinta que constituem a Declaração Universal dos Direitos do Homem aprovada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, a saber: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.”.
De facto, dificilmente se poderia encontrar algo de mais enfático, que de melhor forma sublinhasse e enfatizasse os princípios e os valores perseguidos pela Nossa Augusta Ordem. Senão vejamos, “Todos os seres humanos nascem livres e iguais.” Aqui estão os princípios mais sublimes da Liberdade e da Igualdade. Só que tais princípios não se esgotam no ato do nascimento. Ao contrário, passam a constituir património inalienável de cada ser humano, até ao dia da sua passagem ao Oriente Eterno. E depois: “Devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”. Por isso nos chamamos Irmãos. Por isso juntamos as nossas mãos na Cadeia de União, para que a Fraternidade se vá fortalecendo através da Unidade. 
Ainda assim, se fracionarmos o conceito de Liberdade, Igualdade, Fraternidade e o analisarmos face às três gerações de direitos segundo Karel Vasak, jurista checo-francês que foi diretor da divisão de Direito Humano e Paz da Unesco, verificamos que os direitos humanos de primeira geração seriam os de liberdade, compreendendo os direitos civis e políticos, bem como as liberdades clássicas, os de segunda geração seriam os da igualdade, ou seja, os económicos, sociais e culturais e os de terceira geração seriam os da fraternidade, como os do direito a um meio ambiente equilibrado, a uma qualidade de vida saudável, à prosperidade, à paz e à autodeterminação dos povos.
Ora, se analisadas caso a caso, só a Sabedoria proporciona a Liberdade, só a Força da razão patrocina a razão da Igualdade, só a Beleza torna a Fraternidade no mais belo sentimento que une os homens livres e de bons costumes.
Ou seja, este fracionamento dos direitos contemplados na Declaração Universal constitui um paralelismo às colunas que decoram a Ordem Maçónica Universal.
Em suma, podemos afirmar que a Declaração Universal dos Direitos do Homem, tem uma forte inspiração maçónica. Se por um lado, os seus 30 artigos baseiam-se no mais puro e consagrado Direito Natural, ora, a Lei Natural é também a Lei do Dever e a ela estão obrigados todos os Maçons que desejam aperfeiçoar o seu senso de fraternidade e de tolerância, por outro lado, é fácil verificarmos nos Landmarks alguns dos temas abordados na referida Declaração.
Assim, o terceiro Landmark consagra que, “a Maçonaria é uma ordem, à qual não podem pertencer senão homens livres e de bons costumes, que se comprometem a pôr em prática um ideal de paz”. No quarto Landmark, afirma-se que, “a Maçonaria visa a elevação moral da Humanidade inteira, através do aperfeiçoamento moral dos seus membros e, apenas citando parte do sexto Landmark, destaca-se que “a Maçonaria impõe a todos os seus membros o respeito das opiniões e crenças de cada um (…) ela é ainda um centro permanente de união fraterna, onde reinam a tolerante e frutuosa harmonia entre os homens”.

É pois, esta liberdade de pensamento que juntamente com a liberdade física do ser humano e os princípios da Igualdade e da Fraternidade, se comparam, no exercício da cidadania, a Declaração Universal dos Direitos do Homem e os princípios da Maçonaria Universal.

ELBF24

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