terça-feira, 26 de junho de 2018

Não Sei!

Almada Negreiros

Não Sei!

Duas palavras simples com três letras que definem o princípio do conhecimento. Muito difíceis de pronunciar, por vezes até de soletrar pois encerram e escondem a natureza da nossa essência de neófitos num universo infinito e nossa condição de partículas numa construção tão imponente que nos ultrapassa. Eppur si muove, disse Galileu Galilei quando, durante a tortura da inquisição e tendo sido obrigado a afirmar que o Sol girava á volta da terra, não deixou de murmurar a verdade no estertor do suplício.
O Inspector dos Edifícios, recebendo a honra suprema de aplicar o conhecimento adquirido,  deve preservar com lealdade e zelo, tudo o que Mestre Hiram lhe transmitiu no segredo da loja. Deve também assegurar-se que os mestres que o coadjuvam, obtiveram seu salário por mérito, sendo dignos de ascender a esses níveis de conhecimento. A lealdade destes para com o Inspector e para com a regra tem de ser inquestionável e tão pura quanto os preceitos que os instruem. O conhecimento recebido, para ser preservado, deve também ser transmitido para que perdure e seja eterno. Respeitado o segredo com zelo e assegurada a lealdade, deve a justiça da partilha dos segredos ser assegurada.
Ora, nem todos são capazes de cumprir as mesmas tarefas. Para as distribuir há que ter sabedoria. A fim de que todos os irmãos estejam felizes, imbuídos do sentimento de justiça, mais do que tratá-los de igual forma, há que atribuir a cada um a tarefa correcta. Desse nível de equidade, depende a beleza do Templo. Todos devemos ser iguais no acesso á justiça, todos devemos ser tratados de igual maneira perante a lei.
A motivação, a limitação, a premência, levam a que a justiça possa ficar incompleta se não tiver em conta estas premissas as quais, de tanto ignoradas como consideradas sem sabedoria, podem tornar injusta uma decisão, mesmo que originada pelos melhores princípios. A igualdade pode ser antagónica da equidade e por vezes ser tremendamente injusta. O conceito de igualdade, se mal entendido, pode ser uma bengala do madraço o qual, não querendo aprofundar conhecimentos, refugia se na lei do menor esforço. Exige muito estudo e esforço a aventura do conhecimento. Desde logo a confissão da ignorância, depois a dúvida e ainda por cima, reconhecer eventualmente o erro de convicções, adquiridas e quiçá sagradas! Exige a atitude de despojo com que fomos iniciados, lembrar a sua simbologia e preservar aquilo a que nos desafiaram na câmara de reflexão.

ELBF08

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