segunda-feira, 30 de abril de 2018

VIRTUDE E VERDADE



Plauto

“Quando presto algum serviço a um amigo ou lhe zelo os
interesses, não há motivo para que me louvem: pois creio que
apenas pratiquei um ato indigno de censura”.(Plauto)


No nosso dia-a-dia quando alguém solicita ajuda, o meu primeiro impulso é, e será sempre, procurar a melhor forma para dar o meu contributo a essa solicitação, pode estar, ou não, ao meu alcance satisfazer o pedido mas certamente irei efetuar o maior esforço para o conseguir.
A realização pessoal, a satisfação e a alegria interior que obtenho quando foi possível contribuir para ajudar alguém é o maior tributo que posso receber, não são necessários elogios ou promessas de retribuição, pois a bondade da ação deve estar ser sempre no Nosso coração .
O apoio que devemos estar sempre prontos a dar não entra na coluna do crédito do balancete comum dos nossos dias profanos, ele deve figurar no auto da nossa estima, no qual nunca constaram atos que atestam falta de ajuda ou de solidariedade para com o próximo, esses sim dignos de censura.
No final do dia quando passamos em retrospetiva o dia que termina, deveremos analisar, como respondemos hoje ás solicitações de ajuda que tivemos?
Será que fizemos tudo o que estava ao nosso alcance?
Será que com pouco mais de esforço, num ou noutro caso, teria contribuído, para um melhor resultado?
Estamos satisfeitos connosco, ou acreditamos que ainda temos um caminho a percorrer para que essa alegria interior seja cada vez maior?
Certamente que estas questões levam-me a conhecer a mim mesmo, corrigir os meus defeitos e os meus erros e desenvolver a virtude e a verdade!

ELBF02

terça-feira, 24 de abril de 2018

zelo


Thomaz de Mello


zelo

antes do 25 de abril de 1974 creio que o nome dos que são hoje os fiscais municipais, chamavam-se zeladores. Meu pai ascendeu a esse posto em 1973. Tratava-se de assegurar que as leis, normas,
impostos, definidos pela administração pública do governo e das autarquias, fossem cumpridas. O objecto da função manteve-se. Desde a dimensão dos reclamos luminosos que devia corresponder ao pedido e concedido, à dimensão das barracas numa feira, dimensão de pavilhões para a indústria, das casa etc. Coisas enfim que podem afetar, se não cumpridas, o dia-a-dia do cidadão comum - o seu espaço; a sua comodidade; a harmonia da convivência etc. Entretanto existe uma expressão corrente e por vezes demasiado recorrente do excesso de zelo. Se a lei é para cumprir, creio que também existe o espírito da lei e o senso comum. O crime de colarinho branco, é, ou devia ser punido de uma maneira mais severa do que o crime por necessidade, ou demência, ou precariedade, por exemplo. Aí, tanto quanto eu sei - ou não sei - intervêm o espírito da lei, a motivação, as condicionantes, o entorno familiar, sociológico, a idade, entre outros. No entanto, e sem sombra de dúvida, é fundamental que os agentes da autoridade zelem para que as leis sejam cumpridas pois trata-se de assegurar o bom funcionamento da comunidade. Se bem entendi, não basta garantir o acesso de todos à justiça mas, antes de mais, garantir que todos sejam julgados da mesma maneira e com os mesmos direitos e deveres. Zelar para que a democracia, além de respeitar a vontade da maioria, seja capaz de se embelezar respeitando as minorias, evitando que haja uma ditadura da maioria. Chegado aqui, creio que se impõe uma chamada de atenção: se as leis necessitam de ser aplicadas com bom-senso; se há circunstâncias atenuantes para os delitos; se mesmo a constituição não se esgota no seu texto, necessitando da sua boa aplicação no quotidiano...então entramos no poder discricionário dos seus zeladores-fiscais, procuradores, juízes, etc. O poder instituído deve zelar para que os que verificam a aplicação e cumprimento das leis tenham uma formação o mais abrangente e completa possível tanto a nível técnico como humanístico; ético, literário; pleno de integridade, honestidade, piedade, até. Os valores de sempre que nos transmitiram os avós junto com o chá e o leite mais uns docinhos. Esses valores, se zelarmos por eles, protegem-nos dos gulosos, dos chico-espertos, dos gestores modernaços, dos carreiristas, dos vaidosos e doutros delinquentes.
  Quando falo de nível literário, dou um exemplo recente. Perante o facto dos deputados das ilhas receberem dois subsídios para a mesma viagem, o presidente a assembleia disse que tal não era eticamente reprovável. Numa comunidade decente, e para fazer pedagogia senão jurisprudência, creio que seria mais correcto, zelando pela boa harmonia social, ser dito que sendo legal é éticamente reprovável. A omissão do zelar pelos valores que deviam ser republicanos, levou a esse lapsus linguae. Devemos zelar para que os valores sagrados não sejam submergidos por interesses pessoais, partidários, clubísticos, tribais ou outros que se sobreponham aos altos interesses da comunidade-nação. O zelo é algo incómodo. Obriga a um desapego, imparcialidade e é irmão da rectidão, da hombridade, da honestidade e da integridade. Nas sociedades onde é mais praticado, torna-se na expressão máxima da liberdade, da fraternidade e da igualdade.


ELBF04

domingo, 22 de abril de 2018

SECRETÁRIO ÍNTIMO



Templo de Salomão?

SECRETÁRIO ÍNTIMO
Albert Pike, in Moral e Dogma

Neste grau serás especialmente instruído para seres escrupuloso e leal, desinteressado e benevolente, e para actuares como pacificador em caso de dissensões, disputas e querelas entre os irmãos.
O Dever é um magnetismo moral que controla e guia o rumo do verdadeiro maçom sobre as tumultuosas águas da vida. Enquanto que as estrelas, que representam a honra, a reputação e as recompensas, brilham ou não brilham tanto à luz do dia como na obscuridade da noite da adversidade e das tribulações, tanto na calma como na tormenta, a bússola infalível mostra sempre o verdadeiro rumo a seguir e indica com total certeza a meta onde se acha o porto ao qual, se não se chegasse, significaria naufrágio ou desonra. O maçom prossegue o seu silencioso rumo da mesma maneira que o marinheiro, quando após dias em que já não se divisa terra e o oceano, sem trilhos nem marcos, se espalha ao seu redor, segue a orientação da agulha magnética, que jamais duvida de onde está o Norte. Cumprir as próprias obrigações, quer haja ou não haja recompensa, é a sua única intenção. Sendo indiferente que esse facto não conte com qualquer testemunho ou que permaneça desconhecido para toda a humanidade.
Uma breve reflexão ensinar-nos-á que a Fama tem limites diferentes dos das montanhas e dos oceanos e que aquele que busca a felicidade na frequente repetição do seu nome pode passar a vida a propagá-lo, sem correr os riscos ou os anseios da procura de novos mundos ou a necessidade de atravessar o Atlântico. Aquele que considera que o mundo deve ser cheio com os seus ecos e vaidades, afastará do número dos seus admiradores todos aqueles que jazem por debaixo do voo da fama, e a quem não escutaram no vale da vida mais apelos do que os da necessidade, bem como todos aqueles que se consideram a si próprios demasiado importantes para o contemplar e que consideram a menção do seu nome como usurpação do seu tempo; a todos aqueles que estão demasiado satisfeitos com eles próprios para prestar atenção às coisas alheias; a todos os atraídos pelo prazer, ou aos que, por estarem dependentes de diferentes empresas, não lhes será dado contemplar o seu triunfo; e a todos os que dormem sumidos na negligência universal. O que busca a fama encontrará o seu nome entorpecido por limites mais fechados do que as montanhas rochosas do Cáucaso, e perceberá que um homem não pode ser tido por venerável ou formidável mais que do que para uma pequena parte dos seus semelhantes. E portanto, já que não podemos esmorecer em nossos intentos de alcançar a excelência, é necessário que, tal como Africano aconselhava a seus descendentes, devemos elevar os nossos olhos para os altos propósitos, e contemplar o nosso futuro sem ceder à vaidade das multidões. Não nascemos unicamente para nós. A mossa Nação reclama a sua parte de nós, e os nossos amigos outra parte. E posto que tudo o que a Terra produz é criado para uso do homem, assim os homens são criados para o bem-estar da humanidade e para que se faça o bem entre as pessoas. Nisto devíamos seguir os ditames da Natureza, e entregarmo-nos às regras da cidadania que impõem a reciprocidade de direitos e deveres, umas vezes recebendo e outras vezes contribuindo, cimentando a sociedade humana através da arte, da indústria e dos nossos recursos.
Perante os louvores aos outros, aceitai a glória deles e o seu bem com alegria, e em caso algum os menosprezeis ou rebaixeis seus méritos e jamais os apouqueis. E não penseis que a exaltação de vosso irmão é feita com menosprezo de vossa valia. Não realceis a debilidade de ninguém para consterná-lo, nem a façais pública para desacreditá-lo, nem te recries em recordá-lo para apequená-lo ou para te colocares a ti próprio acima dele; nem nunca te vanglories a ti mesmo ou menosprezes a outrem, a não ser que razões suficientemente ponderosas o justifiquem. Lembrai-vos que muita vezes esquecemos os altos merecimentos dos outros e recordamos as pequenas falhas que lhes encontramos. Deveríamos ser mais severos connosco, ou mais indulgentes com os outros, e pensar que por muito bem que alguém possa pensar de nós, nós poderíamos contar-lhe muitas acções que praticamos, indignas, insensatas e talvez piores, acções que a terem sido cometidas por outro nos bastariam para destroçar a sua reputação.
Se consideramos que o povo é sábio e sagaz, justo e perspicaz, quando nos envaidece e nos converte em ídolos, não o chamemos de iletrado e ignorante, nem juiz débil e idiota, quando é nosso vizinho o incensado pela fama pública e o aplauso popular. Cada homem carrega suficientes pecados em sua vida, suficiente desassossego em sua alma, suficiente maldade em sua fortuna e mais que suficientes erros em seus trabalhos para se entreter a procurar censuras no seu próximo. De maneira que a curiosidade sobre os assuntos de outros não pode pressupor se não inveja e mente perversa. O homem generoso entregar-se-á de forma solícita e estrita à beleza e ordem de uma família bem governada, e às virtudes de pessoas excelentes.
Deveria ser razão suficiente para excluir a qualquer homem da sociedade de maçons, que este não seja desinteressado e generoso tanto em seus actos, como em suas opiniões sobre os homens, como em sua forma de conduzir-se pela vida. Aquele que é egoísta e avaro, ou mesquinho e interesseiro, não permanecerá muito tempo dentro dos estritos limites da honestidade e da verdade, sendo certo que em breve cometerá alguma injustiça.
O homem generoso não está pendente de dar segundo o que recebe, preferindo que os apontamentos na conta-corrente da boa-vontade sejam a favor dos outros. Aquele que foi pago por completo por todo o bem e favores que outorgou é como um perdulário que consumiu toda a sua fazenda e se lamenta por ter a carteira vazia. Aquele que agradece a minha generosidade com ingratidão aumenta, em vez de diminuir, a minha riqueza; e aquele que é incapaz de devolver um favor é igualmente pobre, provenha a sua debilidade de pobreza de espírito, sordidez de alma ou indigência material.
Se é opulento aquele que tem grandes somas investidas, e o grosso da sua fortuna consiste em obrigações que exigem a outros homens pagar-lhe dinheiro, mais devedor é na realidade perante aqueles aos quais deve um largo rol de amabilidades e favores. Mais do que uma moderada soma cada ano, o homem rico tão só investe o seu capital, e a parte que nunca usa é como favores não retribuídos ou amabilidade não retribuída, e normalmente é uma importante parte da sua fortuna.
A generosidade e o espírito liberal fazem dos homens seres humanos e perenes, de coração aberto, francos e sinceros, responsáveis em sua bonomia, de trato fácil e afável e benevolentes com a humanidade. Protegem o débil contra o forte, e a inocência perante a rapacidade e o artifício. Socorrem e confortam o pobre e são os guardiães, perante Deus, de seus pupilos inocentes e indefesos. Valoram os amigos mais que a riqueza ou a fama, e a gratidão mais que o dinheiro ou o poder. São nobres por patente divina, e seus escudos de armas e suas linhagens encontram-se inscritos no grande livro heráldico dos Céus. Nenhum homem pode ser mais maçom que gentil-homem a não ser que seja generoso, liberal e desinteressado. Ser liberal, mas apenas com aquilo que é nosso; ser generoso, mas tendo sido primeiramente justo; dar, quando dar nos priva de luxo ou conforto, isto é realmente a Maçonaria.
Aquele que é mundano, ganancioso ou materialista deve mudar antes de se tornar um bom maçom. Se somos governados pelas paixões e não pelo dever, se somos descorteses, severos, críticos ou maledicentes nas relações humanas ao longo da vida; se somos pais descuidados ou filhos irresponsáveis; se somos amigos traiçoeiros ou maus vizinhos ou competidores desagradáveis ou políticos corruptos e sem princípios ou negociantes abusivos nos negócios, estamos a larga distância do que é a verdadeira Luz Maçónica. Os maçons devem ser corteses e afectuosos uns com os outros. Ao frequentar os mesmos templos e ao ajoelhar-se ante os mesmos altares deveriam sentir pelos demais esse respeito e cortesia inspirados na sua relação comum e na sua relação com Deus único. Faz falta muito do espírito da antiga fraternidade entre nós; mais condescendência perante os erros dos demais, mais perdão. Mais interesse pelo bem-estar e pela sorte do outro, e algum sentimento fraternal, de maneira que não seja vergonhoso empregar a palavra “irmão”.
Nada deveria interferir com essa amabilidade e afecto; nem o espírito dos negócios, absorvente, ansioso, açambarcador e duro do regateio, mercantil e amargo em suas competições, baixo e sórdido em seus propósitos; nem tão pouco o espírito da ambição, egoísta, mercenário, incansável, desonesto, que vive unicamente da opinião dos outros, invejoso da sorte alheia, ambicioso de seu próprio êxito, injusto, sem escrúpulos e farsante. Aquele que me faz um favor obriga-me a um eterno retorno de gratidão. A obrigação não nasce de um pacto nem por uma manifestação de intenções, mas pela natureza própria do facto. E é um dever que nasce no espírito da pessoa obrigada por um favor, para a qual sempre será mais natural amar o amigo e devolver bem por bem que não mal por mal; pois um homem pode esquecer uma ofensa, mas nunca deve esquecer um favor. Aquele que recusa fazer o bem àqueles aos quais está obrigado por amor, ou que recusa amar a quem lhe fez bem, é antinatural e de sentimentos monstruosos, e crê que o mundo inteiro foi criado para seu serviço; padece de uma avidez pior que a do mar, pois ao menos o mar, ainda que receba todos os rios, provoca as nuvens e os mananciais de toda a água que necessitam. Nosso dever para com todos aqueles que são nossos benfeitores é estimar e amar a essas pessoas, devolver-lhes o serviço ou benefício proporcionalmente, segundo as nossas possibilidades, ou segundo a sua necessidade, ou segundo o que a ocasião permita, e conforme a natureza das suas amabilidades.
O homem generoso não pode deixar de lamentar as dissensões e disputas entre os seus irmãos. Só o perverso e egoísta se deleita com a discórdia. Não há ocupação mais pobre para a humanidade do que passar a vida a dizer mal do próximo, como se faz a partir da imprensa, do púlpito e da tribuna. O dever do maçom é esforçar-se para conseguir que o homem pense melhor do seu vizinho; aplacar, em vez de agravar, as dificuldades; reconciliar aqueles que estão separados ou inimizados, impedir que os amigos se inimizem e persuadir os adversários para que se tornem amigos. Para fazer isto, ele necessita de controlar as suas próprias paixões, não ser irascível nem precipitado, nem rápido a ofender-se nem fácil de zangar. Pois a ira é inimiga declarada do consenso. É uma tormenta directa, na qual não se pode ouvir a nenhum homem falar nem se pode oferecer ensinança, pois se não aconselhas moderadamente serás ignorado. A ira torna o casamento num conflito constante e inevitável e faz da amizade, da sociedade e do trato familiar algo intolerável. Multiplica os males da embriaguez e precipita a suave virtude do vinho em loucura. Converte uma piada inocente em começo de tragédia. Torna a amizade em ódio, e faz com que um homem se perca, juntamente com a sua razão e juízo, em bizarrias. Converte os desejos de conhecimento em irritação e querelas. Acrescenta insolência ao poder, converte a justiça em crueldade e o livre arbítrio em opressão. Converte a disciplina em tédio e ódio às instituições liberais. Provoca inveja do homem próspero e afasta o sentimento de piedade para o desafortunado.
Portanto, trata de primeiramente controlar o teu próprio temperamento e de governar as tuas próprias paixões, pois só assim serás capaz de manter a paz e a harmonia entre outros homens, especialmente entre os irmãos. Antes de tudo, recorda que a maçonaria é o reino da paz e que “entre maçons não deve haver dissensão, senão unicamente nobre emoção, que favorece o trabalho comum e o melhor acordo”. Onde quer que haja discórdia e ódio entre os irmãos não há Maçonaria, pois a Maçonaria é Paz, Amor Fraternal e Concórdia. A Maçonaria é a grande Sociedade da Paz no mundo. Onde ela existe, luta por impedir as dificuldades e disputas internacionais e por unificar as repúblicas, reinos e impérios numa grande pátria de paz e amizade. Não haveria conflitos tão amiúde se os maçons conhecessem o seu poder e valorassem os seus juramentos em sua justa medida.
Quem pode relatar os horrores e aflições acumuladas numa só guerra? A Maçonaria não se deixa levar pela pompa e circunstância da guerra e  suas vãs glórias. A guerra entra secretamente com as suas mãos sangrentas nas nossas casas, e leva consigo de muitos milhares de lugares aqueles que ali viviam na paz e conforto que lhes proporcionam os doces laços familiares e domésticos. Arrasta-os para o abandono e a morte, para a doença, em locais insalubres; faz com que sejam destroçados, despedaçados e mutilados na feroz contenda; ou que caiam no sangrento campo de batalha para nunca mais se levantarem, ou que sejam levados em agonia para hospitais fedorentos e horrorosos. Os gemidos no campo de batalha encontram o seu eco nos lamentos da dor de milhares de corações desolados. Há um falecido em cada casa, um lugar vazio a cada mesa. Ao voltar a casa, o soldado traz à sua terra pesar ainda maior, seja pela doença que contraiu ou pelos vícios adquiridos na vida de soldado. A nação está desmoralizada, a alma do país degrada-se afastando-se do nobre intercâmbio das tarefas e ofícios com o resto do povo; generalizam-se a ira e a vingança, o orgulho malvado, e o hábito de medir força bruta contra força bruta nas lutas. Consomem-se erários que teriam chegado para construir milhares e milhares de igrejas, hospitais e universidades ou para articular e unir todo um continente por meio de carris de ferro. A perda desse tesouro na guerra é pior do que se caísse ao fundo mar! Já que se consome em cortar as veias e artérias da vida humana alagando a num mar de sangue.

Estas são as lições deste grau. Fizeste voto de as converter em lei, preceito e guia da tua vida e da tua conduta. Se assim o fizeres estarás legitimado, pois serás merecedor de continuar avançando na Maçonaria. 
(tradução livre de Agostinho Costa)

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Certamente os de bons costumes


Rua do Amparo/Praça da Figueira - Lisboa

Certamente os de bons costumes

Desinstala-te e vem daí comigo…
Vamos reparar á nossa volta,
Lançar o olhar lá para trás,
Para descobrir o que permaneceu
Dos obreiros que já partiram,
A herança ainda relembrada
Que o esquecimento não apagou,
Por verdadeira e muito atual.

Olha bem, observa com atenção:
Por mais folhedo e mais frutos,
Flores ou cores que ostente,
Por mais que a queiras adornar,
Uma árvore é apenas uma árvore
Que somente se tornará eterna
Se possuir umas fortes raízes…
Sua sombra será companheira,
Abrigo de diferentes gerações.

Construtores de obras imponentes
Que traíram seus contemporâneos,
De quantos a Humanidade lembra?
E tu, quais os que tens presentes?
Certamente os de Bons Costumes
Que em ti depositaram a semente
Do que é antiquado e conservador,
Porém o cimento da Civilização:
Paz; Amor; Harmonia; Fraternidade!

ELBF03


O silêncio é meditação


José Gonzaléz Collado

O silêncio é meditação,

ao libertar-se da realidade corporizada por ruído, movimento, media, relações humanas, fenómenos externos, a mente inicia uma viagem sem destino. Por vezes a mente eleva-se no êxtase da contemplação de um quadro, na leitura de um livro, na audição de uma obra musical, ao admirar um edifício. Mas também na expressão de um olhar que nos ama, na pureza da expressão de um recém-nascido.

  O silêncio é trágico quando, sem palavras, acompanhamos um ente querido na agonia do seu ocaso na antecâmara da morte. O silêncio torna-se a forma mais excelsa de dignidade quando se está numa cama de enfermaria e se cala o sofrimento físico pois se sabe que a morte nos espera. O enfermo cala o seu desespero a um filho, por exemplo, animando-o a seguir o seu caminho e fazendo crer que a vida será o mesmo sem ele.

O silêncio pode ser aviltante e salvador. Perante a opressão e o risco de perder a vida, quantos não calam a sua consciência e a sua dor para poderem sobreviver?!

  Sendo aviltante pode ser digno – um indivíduo que ganha 500 euros por mês, mulher desempregada, contrato a prazo, cala sua indignação para poder sustentar a família.

  O silêncio é opróbrio e indigno – quantos se calam perante injustiças, infâmias, indignidades, apesar de não correrem qualquer risco. Quantos calam os valores que lhes foram transmitidos pelos pais, avós, professores, instrutores, mestre de loja, por preguiça, desinteresse, egoísmo, avidez, vaidade no dia-a-dia esquecendo o zelo indispensável no compromisso que assumiram!?

  O silêncio, sendo fundamental para iniciar a viagem interior, pode ser aterrador à medida que vamos descendo ao inferno dos nossos desmandos, escavando nossas convicções, esmiuçando pensamentos e enfrentando nossos defeitos ficamos mais distantes da aparência de realidade que compõe nossa existência. Os demónios que obscurecem nossa mente constituem um ruído ensurdecedor ao sobreporem-se à nossa convicção do que é a realidade. No silêncio da nossa caverna mostramos a nossa coragem ao enfrentar nosso maior inimigo. Essa batalha será eterna e o silêncio será a nossa arma mais eficaz. O silêncio libertará nossa alma para a demanda da palavra perdida e tornar-nos-á companheiros da consciência universal.
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o silêncio tem cor


O Silêncio (1842–1843), escultura de Antoine-Augustin Préault

o silêncio tem cor,

sob a forma de uma folha, uma tela, uma prancha, uma pauta, o branco é a expressão do silêncio do criador ante a criação. Símbolo de angústia, desespero, entusiasmo, abnegação, fraternidade e outros valores que povoam o espírito do arquitecto de sons, de cores, de símbolos, de números, de geometrias. Ante toda a criação e o espírito que a anima, o silêncio é o ponto de partida e a voz do subconsciente.

  O silêncio, estado prévio e inalterável até ao grau de mestre na nossa Ordem, não é a minha preocupação, nem o meu objecto. Outros já o fizeram com acuidade e maestria. Algo no entanto me faz abordar a interpretação por alguns desse silêncio.

  Por vezes a prática do silêncio torna-se castrador e demasiado opressor.

  Não deveria provocar medo de nos ágapes, os neófitos serem participativos, especulativos mesmo e poderem aprender e partilhar algo mais que vivenciaram em loja. O receio e por vezes medo de dizer algo inconveniente, leva a que se diga tudo o mais certinho e direitinho, by the book, não permitindo uma maior prática espiritual e maior luz sobre os mais diversos temas. Perante a folha em branco não haverá criação se o compositor, arquitecto, pintor, escritor, poeta só debitar o que já se conhece mesmo que sob outra versão. O desenvolvimento científico é indissociável da experimentação, a qual pressupõe alguns desastres até que se chega a um resultado concreto, coerente e inovador. Sendo seres imperfeitos e tendo a humildade de o reconhecer, temos de admitir o erro, conviver com ele, aperfeiçoando o nosso ângulo de visão, a nossa abordagem e o nosso processo de crescimento interior, o qual, será sempre objecto de confronto de ideias que devemos receber com gratidão, atentamente e despidos de certezas que se forem só nossas, estarão ainda mais longe da verdade.

ELBF04