Templo de Salomão?
SECRETÁRIO ÍNTIMO
Albert Pike, in Moral e Dogma
Neste
grau serás especialmente instruído para seres escrupuloso e leal,
desinteressado e benevolente, e para actuares como pacificador em caso de dissensões,
disputas e querelas entre os irmãos.
O
Dever é um magnetismo moral que controla e guia o rumo do verdadeiro maçom
sobre as tumultuosas águas da vida. Enquanto que as estrelas, que representam a
honra, a reputação e as recompensas, brilham ou não brilham tanto à luz do dia
como na obscuridade da noite da adversidade e das tribulações, tanto na calma
como na tormenta, a bússola infalível mostra sempre o verdadeiro rumo a seguir
e indica com total certeza a meta onde se acha o porto ao qual, se não se
chegasse, significaria naufrágio ou desonra. O maçom prossegue o seu silencioso
rumo da mesma maneira que o marinheiro, quando após dias em que já não se
divisa terra e o oceano, sem trilhos nem marcos, se espalha ao seu redor, segue
a orientação da agulha magnética, que jamais duvida de onde está o Norte.
Cumprir as próprias obrigações, quer haja ou não haja recompensa, é a sua única
intenção. Sendo indiferente que esse facto não conte com qualquer testemunho ou
que permaneça desconhecido para toda a humanidade.
Uma
breve reflexão ensinar-nos-á que a Fama tem limites diferentes dos das
montanhas e dos oceanos e que aquele que busca a felicidade na frequente
repetição do seu nome pode passar a vida a propagá-lo, sem correr os riscos ou os
anseios da procura de novos mundos ou a necessidade de atravessar o Atlântico.
Aquele que considera que o mundo deve ser cheio com os seus ecos e vaidades,
afastará do número dos seus admiradores todos aqueles que jazem por debaixo do
voo da fama, e a quem não escutaram no vale da vida mais apelos do que os da
necessidade, bem como todos aqueles que se consideram a si próprios demasiado
importantes para o contemplar e que consideram a menção do seu nome como
usurpação do seu tempo; a todos aqueles que estão demasiado satisfeitos com
eles próprios para prestar atenção às coisas alheias; a todos os atraídos pelo
prazer, ou aos que, por estarem dependentes de diferentes empresas, não lhes
será dado contemplar o seu triunfo; e a todos os que dormem sumidos na
negligência universal. O que busca a fama encontrará o seu nome entorpecido por
limites mais fechados do que as montanhas rochosas do Cáucaso, e perceberá que
um homem não pode ser tido por venerável ou formidável mais que do que para uma
pequena parte dos seus semelhantes. E portanto, já que não podemos esmorecer em
nossos intentos de alcançar a excelência, é necessário que, tal como Africano
aconselhava a seus descendentes, devemos elevar os nossos olhos para os altos
propósitos, e contemplar o nosso futuro sem ceder à vaidade das multidões. Não
nascemos unicamente para nós. A mossa Nação reclama a sua parte de nós, e os
nossos amigos outra parte. E posto que tudo o que a Terra produz é criado para
uso do homem, assim os homens são criados para o bem-estar da humanidade e para
que se faça o bem entre as pessoas. Nisto devíamos seguir os ditames da
Natureza, e entregarmo-nos às regras da cidadania que impõem a reciprocidade de
direitos e deveres, umas vezes recebendo e outras vezes contribuindo, cimentando
a sociedade humana através da arte, da indústria e dos nossos recursos.
Perante
os louvores aos outros, aceitai a glória deles e o seu bem com alegria, e em
caso algum os menosprezeis ou rebaixeis seus méritos e jamais os apouqueis. E
não penseis que a exaltação de vosso irmão é feita com menosprezo de vossa
valia. Não realceis a debilidade de ninguém para consterná-lo, nem a façais
pública para desacreditá-lo, nem te recries em recordá-lo para apequená-lo ou
para te colocares a ti próprio acima dele; nem nunca te vanglories a ti mesmo
ou menosprezes a outrem, a não ser que razões suficientemente ponderosas o
justifiquem. Lembrai-vos que muita vezes esquecemos os altos merecimentos dos
outros e recordamos as pequenas falhas que lhes encontramos. Deveríamos ser
mais severos connosco, ou mais indulgentes com os outros, e pensar que por
muito bem que alguém possa pensar de nós, nós poderíamos contar-lhe muitas
acções que praticamos, indignas, insensatas e talvez piores, acções que a terem
sido cometidas por outro nos bastariam para destroçar a sua reputação.
Se
consideramos que o povo é sábio e sagaz, justo e perspicaz, quando nos
envaidece e nos converte em ídolos, não o chamemos de iletrado e ignorante, nem
juiz débil e idiota, quando é nosso vizinho o incensado pela fama pública e o
aplauso popular. Cada homem carrega suficientes pecados em sua vida, suficiente
desassossego em sua alma, suficiente maldade em sua fortuna e mais que
suficientes erros em seus trabalhos para se entreter a procurar censuras no seu
próximo. De maneira que a curiosidade sobre os assuntos de outros não pode
pressupor se não inveja e mente perversa. O homem generoso entregar-se-á de
forma solícita e estrita à beleza e ordem de uma família bem governada, e às
virtudes de pessoas excelentes.
Deveria
ser razão suficiente para excluir a qualquer homem da sociedade de maçons, que
este não seja desinteressado e generoso tanto em seus actos, como em suas
opiniões sobre os homens, como em sua forma de conduzir-se pela vida. Aquele
que é egoísta e avaro, ou mesquinho e interesseiro, não permanecerá muito tempo
dentro dos estritos limites da honestidade e da verdade, sendo certo que em
breve cometerá alguma injustiça.
O
homem generoso não está pendente de dar segundo o que recebe, preferindo que os
apontamentos na conta-corrente da boa-vontade sejam a favor dos outros. Aquele
que foi pago por completo por todo o bem e favores que outorgou é como um
perdulário que consumiu toda a sua fazenda e se lamenta por ter a carteira
vazia. Aquele que agradece a minha generosidade com ingratidão aumenta, em vez
de diminuir, a minha riqueza; e aquele que é incapaz de devolver um favor é
igualmente pobre, provenha a sua debilidade de pobreza de espírito, sordidez de
alma ou indigência material.
Se
é opulento aquele que tem grandes somas investidas, e o grosso da sua fortuna
consiste em obrigações que exigem a outros homens pagar-lhe dinheiro, mais
devedor é na realidade perante aqueles aos quais deve um largo rol de
amabilidades e favores. Mais do que uma moderada soma cada ano, o homem rico
tão só investe o seu capital, e a parte que nunca usa é como favores não
retribuídos ou amabilidade não retribuída, e normalmente é uma importante parte
da sua fortuna.
A
generosidade e o espírito liberal fazem dos homens seres humanos e perenes, de
coração aberto, francos e sinceros, responsáveis em sua bonomia, de trato fácil
e afável e benevolentes com a humanidade. Protegem o débil contra o forte, e a
inocência perante a rapacidade e o artifício. Socorrem e confortam o pobre e
são os guardiães, perante Deus, de seus pupilos inocentes e indefesos. Valoram
os amigos mais que a riqueza ou a fama, e a gratidão mais que o dinheiro ou o
poder. São nobres por patente divina, e seus escudos de armas e suas linhagens
encontram-se inscritos no grande livro heráldico dos Céus. Nenhum homem pode
ser mais maçom que gentil-homem a não ser que seja generoso, liberal e
desinteressado. Ser liberal, mas apenas com aquilo que é nosso; ser generoso,
mas tendo sido primeiramente justo; dar, quando dar nos priva de luxo ou
conforto, isto é realmente a Maçonaria.
Aquele
que é mundano, ganancioso ou materialista deve mudar antes de se tornar um bom maçom.
Se somos governados pelas paixões e não pelo dever, se somos descorteses,
severos, críticos ou maledicentes nas relações humanas ao longo da vida; se
somos pais descuidados ou filhos irresponsáveis; se somos amigos traiçoeiros ou
maus vizinhos ou competidores desagradáveis ou políticos corruptos e sem
princípios ou negociantes abusivos nos negócios, estamos a larga distância do
que é a verdadeira Luz Maçónica. Os maçons devem ser corteses e afectuosos uns
com os outros. Ao frequentar os mesmos templos e ao ajoelhar-se ante os mesmos
altares deveriam sentir pelos demais esse respeito e cortesia inspirados na sua
relação comum e na sua relação com Deus único. Faz falta muito do espírito da
antiga fraternidade entre nós; mais condescendência perante os erros dos
demais, mais perdão. Mais interesse pelo bem-estar e pela sorte do outro, e
algum sentimento fraternal, de maneira que não seja vergonhoso empregar a
palavra “irmão”.
Nada
deveria interferir com essa amabilidade e afecto; nem o espírito dos negócios,
absorvente, ansioso, açambarcador e duro do regateio, mercantil e amargo em
suas competições, baixo e sórdido em seus propósitos; nem tão pouco o espírito
da ambição, egoísta, mercenário, incansável, desonesto, que vive unicamente da
opinião dos outros, invejoso da sorte alheia, ambicioso de seu próprio êxito,
injusto, sem escrúpulos e farsante. Aquele que me faz um favor obriga-me a um
eterno retorno de gratidão. A obrigação não nasce de um pacto nem por uma manifestação
de intenções, mas pela natureza própria do facto. E é um dever que nasce no
espírito da pessoa obrigada por um favor, para a qual sempre será mais natural
amar o amigo e devolver bem por bem que não mal por mal; pois um homem pode
esquecer uma ofensa, mas nunca deve esquecer um favor. Aquele que recusa fazer
o bem àqueles aos quais está obrigado por amor, ou que recusa amar a quem lhe
fez bem, é antinatural e de sentimentos monstruosos, e crê que o mundo inteiro
foi criado para seu serviço; padece de uma avidez pior que a do mar, pois ao
menos o mar, ainda que receba todos os rios, provoca as nuvens e os mananciais
de toda a água que necessitam. Nosso dever para com todos aqueles que são
nossos benfeitores é estimar e amar a essas pessoas, devolver-lhes o serviço ou
benefício proporcionalmente, segundo as nossas possibilidades, ou segundo a sua
necessidade, ou segundo o que a ocasião permita, e conforme a natureza das suas
amabilidades.
O
homem generoso não pode deixar de lamentar as dissensões e disputas entre os
seus irmãos. Só o perverso e egoísta se deleita com a discórdia. Não há ocupação
mais pobre para a humanidade do que passar a vida a dizer mal do próximo, como
se faz a partir da imprensa, do púlpito e da tribuna. O dever do maçom é
esforçar-se para conseguir que o homem pense melhor do seu vizinho; aplacar, em
vez de agravar, as dificuldades; reconciliar aqueles que estão separados ou inimizados,
impedir que os amigos se inimizem e persuadir os adversários para que se tornem
amigos. Para fazer isto, ele necessita de controlar as suas próprias paixões, não
ser irascível nem precipitado, nem rápido a ofender-se nem fácil de zangar.
Pois a ira é inimiga declarada do consenso. É uma tormenta directa, na qual não
se pode ouvir a nenhum homem falar nem se pode oferecer ensinança, pois se não aconselhas
moderadamente serás ignorado. A ira torna o casamento num conflito constante e
inevitável e faz da amizade, da sociedade e do trato familiar algo intolerável.
Multiplica os males da embriaguez e precipita a suave virtude do vinho em
loucura. Converte uma piada inocente em começo de tragédia. Torna a amizade em
ódio, e faz com que um homem se perca, juntamente com a sua razão e juízo, em
bizarrias. Converte os desejos de conhecimento em irritação e querelas.
Acrescenta insolência ao poder, converte a justiça em crueldade e o livre
arbítrio em opressão. Converte a disciplina em tédio e ódio às instituições
liberais. Provoca inveja do homem próspero e afasta o sentimento de piedade
para o desafortunado.
Portanto,
trata de primeiramente controlar o teu próprio temperamento e de governar as
tuas próprias paixões, pois só assim serás capaz de manter a paz e a harmonia
entre outros homens, especialmente entre os irmãos. Antes de tudo, recorda que
a maçonaria é o reino da paz e que “entre
maçons não deve haver dissensão, senão unicamente nobre emoção, que favorece o
trabalho comum e o melhor acordo”. Onde quer que haja discórdia e ódio
entre os irmãos não há Maçonaria, pois a Maçonaria é Paz, Amor Fraternal e
Concórdia. A Maçonaria é a grande Sociedade da Paz no mundo. Onde ela existe,
luta por impedir as dificuldades e disputas internacionais e por unificar as
repúblicas, reinos e impérios numa grande pátria de paz e amizade. Não haveria
conflitos tão amiúde se os maçons conhecessem o seu poder e valorassem os seus
juramentos em sua justa medida.
Quem
pode relatar os horrores e aflições acumuladas numa só guerra? A Maçonaria não se
deixa levar pela pompa e circunstância da guerra e suas vãs glórias. A guerra entra secretamente
com as suas mãos sangrentas nas nossas casas, e leva consigo de muitos milhares
de lugares aqueles que ali viviam na paz e conforto que lhes proporcionam os
doces laços familiares e domésticos. Arrasta-os para o abandono e a morte, para
a doença, em locais insalubres; faz com que sejam destroçados, despedaçados e
mutilados na feroz contenda; ou que caiam no sangrento campo de batalha para nunca
mais se levantarem, ou que sejam levados em agonia para hospitais fedorentos e
horrorosos. Os gemidos no campo de batalha encontram o seu eco nos lamentos da
dor de milhares de corações desolados. Há um falecido em cada casa, um lugar
vazio a cada mesa. Ao voltar a casa, o soldado traz à sua terra pesar ainda
maior, seja pela doença que contraiu ou pelos vícios adquiridos na vida de
soldado. A nação está desmoralizada, a alma do país degrada-se afastando-se do
nobre intercâmbio das tarefas e ofícios com o resto do povo; generalizam-se a
ira e a vingança, o orgulho malvado, e o hábito de medir força bruta contra
força bruta nas lutas. Consomem-se erários que teriam chegado para construir milhares
e milhares de igrejas, hospitais e universidades ou para articular e unir todo
um continente por meio de carris de ferro. A perda desse tesouro na guerra é
pior do que se caísse ao fundo mar! Já que se consome em cortar as veias e
artérias da vida humana alagando a num mar de sangue.
Estas
são as lições deste grau. Fizeste voto de as converter em lei, preceito e guia
da tua vida e da tua conduta. Se assim o fizeres estarás legitimado, pois serás
merecedor de continuar avançando na Maçonaria.
(tradução livre de Agostinho Costa)
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