terça-feira, 28 de agosto de 2018

Transmissão do Saber


Por vezes dou comigo a pensar porque não disse determinada coisa a um aluno e disse a outro sobre o mesmo aspecto ou o mesmo problema. Passados mais de trinta anos de ensino, além da memória selectiva normal da idade, há decididamente uma seleção natural a quem, como e que nível de saber se transmite, mesmo sem pensar nisso.

O acesso á informação e ao conhecimento deve ser igual para todos. Depois há que zelar para que os diferentes níveis de conhecimento mereçam da parte do neófito de acordo com o seu mérito académico, nível de empenho mas, no meu caso, zelo para que seja digno como homem ou mulher, dos mais altos níveis de saber. O edifício tem de ser erigido sobre terreno fiável, alicerces consistentes e perenes, para que não possa soçobrar sob as maiores tempestades. Antes de ser belo tem de ser forte nos valores que o sustentam

A beleza da obra final será tanto maior quanto os seus raios se alimentem de energia poderosa. Sobre os ombros do intendente cai a responsabilidade da história dos tempos o sofrimento de tantos e a morte do mestre dos mestres. A memória justa exige o maior desvelo na procura do saber mas um ainda maior cuidado na sua transmissão para que só os justos possam continuar a construção do templo.

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sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Justiça


A sentença de Salomão', tapeçaria de Almada Negreiros

Justiça e o estudo da história da humanidade confundem-se com a presença da Maçonaria que correu em socorro dos infelizes e sacrificados judeus. A Maçonaria e seus agentes , partiu, em nome do direito das gentes e da igualdade dos povos, para uma luta fiel, leal e corajosa contra a tirania, esta luta resultou com a derrubada de um dos grandes monstros que infelicitavam a humanidade – através da queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789. Foi seu período de grandiosidade, em que a DECLARAÇAO DOS DIREITOS DO HOMEM criou os ideais sagrados de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, que vieram a se constituir nos supremos landmarks da ordem.
E dentro da história brasileira  e sobre a Extinção da Escravatura, todos os acontecimentos desde 1826 a 1888, tiveram a participação da Maçonaria, quer direta ou indiretamente, através de seus membros que ocupavam altos cargos no Império, culminando com a participação do Maçom Rodrigo Augusto da Silva, Ministro da Agricultura, que compareceu perante a Câmara, onde leu:
“Augustos e Digníssimos Senhores Representantes da Nação: Venho em nome de sua Alteza e Princesa Imperial Regente, em nome de sua Majestade o Imperador, apresentar-vos a seguinte proposta:
Art. 1º - É declarada extinta a escravidão no Brasil
Art. 2º - Ficam revogadas as disposições em contrario.
Palácio do Rio de Janeiro, em 8 de maio de 1888.
Rodrigo Augusto da Silva.”
As Lojas Maçônicas são luzes da comunidade, buscam através da atuação de seus membros, praticar os atos necessários, para que a justiça social seja fato presente e constante em nossas atividades, pelo trabalho desinteressado de seus Iniciados. A Maçonaria hoje, mais evoluída e cristianizada – resume sua filosofia na tríade sublime: VERDADE, BELEZA E BONDADE; seu ideal político, nas palavras: LIBERDADE, IGUALDADE e FRATERNIDADE, englobando tudo, enfim, em: DEUS, VIRTUDE e CIÊNCIA. Onde houver um maçom, seja no Governo Nacional ou nas Câmaras, nas Juntas Municipais, nas Repartições Públicas, nos Consultórios Médicos ou nos Tribunais, nas Escolas ou no Comercio, enfim, aí estará algum pregoeiro da paz e da Justiça Social, através do exemplo, do trabalho, da moralidade no trato da coisa publica e da preservação dos bons costumes.

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Conhecimento

Templo de Apolo, em Delfos

Conhecimento é ter consciência dos seus afim de repará-los e evitar o mal. Na estrada de evolução de um Ir.˙. o conhecimento é fonte de riqueza emocional.
A Maçonaria Universal baseia sua filosofia na arte de construir, tendo como tarefa aperfeiçoar a estrutura da ciência maçônica. Utiliza para esse fim as alegorias e os símbolos dos construtores medievais que edificaram as grandes catedrais da Europa deste período.
Por isso os símbolos da maçonaria são os de pedreiro e os de arquiteto. Estes instrumentos são herança da maçonaria primitiva. A interpretação do significado da maçonaria é a de que a Instituição é a construção, e o Maçom, o seu artífice.
Segundo Sócrates, grande filósofo e pensador grego, a qual serviu de norte, tanto para a sua trajetória, como para a sua pregação filosófica, que é: “CONHECE-TE A TI MESMO”. A verdade é que a atividade de pensar confere asas ao maçom para mover-se, e raízes para aprofundar-se na realidade do mundo em que vivemos.
René Descartes, grande filósofo francês, cunhou o seguinte pensamento: “Se duvido, penso; se penso, existo”, ou seja: “COGITO, ERGO SUM” – penso, logo existo. Portanto, não se alcançará o conhecimento sem a observância dessas premissas, a qual precede até mesmo o primeiro passo.
Os maçons são os próprios sujeitos da formação do conhecimento maçônico.
Devemos ser sempre aprendizes,  e simplesmente, viver ... Simplesmente, observar tudo à sua volta ... Simplesmente captar a importância de tudo o que acontece em nosso redor, porque tudo é importante, uma vez que faz parte da vida ...
O Conhecimento é um caminho que vamos percorrendo, adquirindo a pouco e pouco aquilo que ainda não sabemos, diferentemente da Sabedoria, que é aquilo que faz parte de nós, do nosso inconsciente, do que já processamos no intelectual e no emocional. O conhecimento nos permite autodefesa, a sabedoria nos alerta para o autocontrole.
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Zelo

Estátua de Nicodemos no Adro do Bom Jesus, Braga

Sabemos e devemos compreender que o GADU criou as pessoas para que sejam amadas e as coisas para cuidar, por que amamos as coisas e usamos as pessoas? O zelo na concepção da vida é o que podemos fazer para mantermos as pessoas , os IIr.˙.   que vivem conosco bem cuidadas, emocional e socialmente, mas um dos principais inimigos do zelo ao próximo é a vaidade.
Existem diversas formas de exercer o bom zelo pela existência e pelo bom viver, e imensos esforços para tornar suas próprias vidas mais interessantes, todas estas formas passam inevitavelmente pelo aceite ao próximo, pela capacidade de olhar para si , mas não ver apenas o que se olha, procurar compreender as razões que levam uma pessoa a ter mais ou menos presença.
O zelo pela vida alheia, tem o querer “se engrandecer” sobre as falhas dos outros e não percebe que isso  caracteriza  gente miúda, que na tentativa de sentir-se bem, precisa preencher seu vazio com o conteúdo dos outros !
O Zelo pela ótica da boa conduta maçônica foi representado pelo hino maçônico brasileiro, que foi elaborado pelo Imperador do Brasil Dom Pedro I, e que diz: “... Da luz depósito augusto,recatando a hipocrisia, guarda em si com o zelo santo a pura Maçonaria...”, e figurativamente o zelo santo foi interpretado de uma forma talvez mais resiliente, e considerada por tanto menos filosófica; foi quando Tertuliano argumentou  que a filosofia pagã não tinha nenhuma influência ou mesmo relevância sobre o corpo em desenvolvimento de qualquer teologia revelada. Ele foi ainda mais a fundo, com um zelo fanático que acompanhou sua conversão, suas palavras também transmitiram a sua posição controversa de que as posições mundanas ocupadas pelos antigos filósofos gregos eram totalmente incompatíveis com a perspectiva do mundo cristão. Para Tertuliano, esses dois universos eram totalmente incompatíveis. Tertuliano foi a prova mais eloquente de que o zelo por uma convicção pode macular um entendimento mais sensato sobre qualquer tema, não pode haver zelo por convicções, nem zelo por coisas, a história da humanidade nos comprova que as convicções são por demais frágeis diante dos factos e da evolução humana, e todos os avanços deste mundo tiveram como foco central o ser humano, o zelo pelo dia menos doloso, pela criança menos sofrida, pelo idoso menos infeliz.
Guarda em si com zelo santo a pura Maçonaria.
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Lealdade

Maria de Magdala de Giovanni Girolamo Savoldo

D. Duarte com uma dimensão de código moral e social da nobreza da sua época, valorizava em muito o valor normativo que lhe era conferido nos códigos de comportamento da nobreza: dizia sobretudo respeito à espiritualidade, à sensibilidade, ao coração. Prendia-se antes com a «verdadeira amizade», era a sua base, o seu fundamento . Futuramente foi o tema da lealdade da nação portuguesa ao seu príncipe herdeiro e ao seu rei que deu o inspiração às orações proferidas no juramento do príncipe João, nesta oração em que é aclamado o seu filho :  “maravilha fatal da nossa idade”, D. Sebastião —, o sábio bispo de Miranda e Leiria, na eloquência e elegância da sua doutrinação política, digna de um mestre de príncipes, não deixa de pôr o acento nesta virtude lusa, e numa época em que a fides política recebera forte abalo com as novas concepções de Maquiavel, fez se latente a leitura da Lealdade não apenas por subverniência , mas por invocação divina.
Lembrei-me de ilustrar isto, por que a real concepção de Lealdade não está vinculada a um juramento ou a uma obrigação, os evoluídos IIr.˙. aceitam no seu dia a dia a verdade pela verdade e são leais aos princípios dos bons costumes, não por uma obrigação filosófica ou institucional, mas por uma invocação intelectual e pelo entendimento de que a evolução do homem como agente de um universo mais fraternal passa inevitavelmente pela prática de ações leais ao próximo.
Não é preciso olhar muito distante do convívio diário para percebermos que o ser humano, esconde-se por detrás de títulos, condições e graus acadêmicos, e mantem-se alheios aos princípios mais simples de lealdade, quando procuram se colocar acima dos outros pela titulagem ou aparência, isto é o que mais devemos combater como Maçons, nosso estímulo deve ser estender as mãos não apenas para o cumprimento, mas prolongar relacionamentos pela essência da boa fé.
 Talvez a maioria das pessoas fecham-se em seus nichos por que só gostam das verdades que elas desejam ouvir. E junto com essa característica peculiar, carregam a hipocrisia de se acharem menos egoístas que outros a ponto de se permitirem o direito de criticar aquelas que são diferentes. O maçom dos tempos atuais tem um enorme desafio pela frente, porque as pessoas se tornaram mais egocêntricas como tentativa de defesa .

ELBF12


quarta-feira, 1 de agosto de 2018

O PROFESSOR COMO MESTRE



O PROFESSOR COMO MESTRE 

Não me basta o professor honesto e cumpridor dos seus deveres; a sua norma é burocrática e vejo-o como pouco mais fazendo do que exercer a sua profissão; estou pronto a conceder-lhe todas as qualidades, uma relativa inteligência e aquele saber que lhe assegura superioridade ante a classe; acho-o digno dos louvores oficiais e das atenções das pessoas mais sérias; creio mesmo que tal distinção foi expressamente criada para ele e seus pares. De resto, é sempre possível a comparação com tipos inferiores de humanidade; e ante eles o professor exemplar aparece cheio de mérito. Simplesmente, notaremos que o ser mestre não é de modo algum um emprego e que a sua actividade se não pode aferir pelos métodos correntes; ganhar a vida é no professor um acréscimo e não o alvo; e o que importa, no seu juízo final, não é a ideia que fazem dele os homens do tempo; o que verdadeiramente há-de pesar na balança é a pedra que lançou para os alicerces do futuro.
A sua contribuição terá sido mínima se o não moveu a tomar o caminho de mestre um imenso amor da humanidade e a clara inteligência dos destinos a que o espírito o chama; errou o que se fez professor e desconfia dos homens, se defende deles, evita ir ao seu encontro de coração aberto, paga falta com falta e se mantém na moral da luta; esse jamais tornará melhores os seus alunos; poderão ser excelentes as palavras que profere; mas o moço que o escuta vai rindo por dentro porque só o exemplo o abala. Outros há que fazem da marcha do homem sobre a Terra uma estranha concepção; vêem-no girando perpetuamente nos batidos caminhos; e, julgando o mundo por si, não descobrem em volta mais que uma eterna condenação à maldade, à cegueira e à miséria; bem no fundo da alma nenhuma luz que os alumie e solicite; porque não acreditam em progresso nenhuma vontade de melhorar; são os que troçam daquilo a que chamam «a pedagogia moderna»; são os que se riem de certos loucos que pensam o contrário.
Ora o mestre não se fez para rir; é de facto um mestre aquele de que os outros se riem, aquele de que troçam todos os prudentes e todos os bem estabelecidos; pertence-lhe ser extravagante, defender os ideais absurdos, acreditar num futuro de generosidade e de justiça, despojar-se ele próprio de comodidades e de bens, viver incerta vida, ser junto dos irmãos homens e da irmã Natureza inteligência e piedade; a ninguém terá rancor, saberá compreender todas as cóleras e todos os desprezos, pagará o mal com o bem, num esforço obstinado para que o ódio desapareça do mundo; não verá no aluno um inimigo natural, mas o mais belo dom que lhe poderiam conceder; perante ele e os outros nenhum desejo de domínio; o mestre é o homem que não manda; aconselha e canaliza, apazigua e abranda; não é a palavra que incendeia, é a palavra que faz renascer o canto alegre do pastor depois da tempestade; não o interessa vencer, nem ficar em boa posição; tornar alguém melhor — eis todo o seu programa; para si mesmo, a dádiva contínua, a humildade e o amor do próximo.

George Agostinho da Silva, in 'Considerações'

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“O Silêncio é de Ouro”



“O Silêncio é de Ouro” - alguém escreveu.
Nos nossos rituais de aprendizes é, a páginas tantas, referido que “(…) as palavras são o meio mais poderoso para comandar os homens”.
Nesta mesma preciosa Fonte é consagrado o valor do Silêncio do Aprendiz, o qual tem por prerrogativa, entre outras, proteger o Iniciado. Até (e, se calhar, principalmente) de si mesmo.
Com efeito, esta norma impositiva talvez comece por nos impressionar, pois não conseguimos imaginar que, uma vez admitidos nos mistérios da Ordem Real, vejamos ser-nos retirado um direito tão aparentemente natural quanto inalienável.
No entanto, com o tempo, e apenas com este e através da prática do Rito, temos a possibilidade de compreender a importância desta regra. Recordemos o estranhamento provocado pelo conhecimento da interdição de falar em Loja: “Então a palavra, a expressão máxima da oralidade, é negada àquele que principia o caminho das supostas Liberdade, Igualdade e Fraternidade? – Através do Ritual, da participação nas sessões rituais e do apoio dos nossos Irmãos Obreiros, conseguimos paulatinamente vir a contextualizar este Silêncio, que começa por nos ser imposto mas do qual, curiosamente, podemos vir a sentir falta. É que, realmente, o Silêncio do Aprendiz protege, possibilita a aprendizagem, convida à reflexão e incute disciplina em todo aquele que se dispõe à sua prática.
Num mundo tão poluído de estímulos sonoros e numa sociedade tão repleta de palavras, o Silêncio em Loja constitui praticamente um não-lugar, fora do espaço e do tempo, uma não-naturalidade que, tal como ao praticante de meditação, começa por gerar um turbilhão de pensamentos que se precipitam em todas as direções, como se de animais indomáveis saídos de todos os lados se tratassem.
Ter oportunidade de apreender estes factos através da consciência provoca invariavelmente alguma ansiedade. Medo até: “Onde é que eu me vim meter?” – Interroga-se o aprendiz, inquietado pela mente que, de forma automática, repetitiva e incessante, procura explicações. Na ausência destas, e da incerteza que daí advém, a “profanidade” parece chamar-nos, com vozes que no Silêncio Ritual se fazem ouvir ainda mais alto. Sentimos que o ego, o velho inimigo que nos mostraram no espelho da Iniciação continua lá, mesmo atrás de nós, pronto para nos confortar à sua velha maneira: egotista, apaixonada, viciosa e viciante.
O Silêncio é assim um desafio simultaneamente enorme e simples, num mundo em constante parafernália. Respeitar esta regra pode ser difícil, monótono, enfastiante até. Mas aceitá-lo e respeitá-lo, praticando-o não apenas em Loja mas, também, no mundo profano, pode ser um exercício tão instrutivo quanto valioso. Se, por exemplo e de forma simples, experimentarmos começar a ouvir as frases que os outros dizem até ao fim, ou então, nos preocuparmos em sermos concisos e assertivos sempre que falamos, tentando poupar os nossos interlocutores a palavras desnecessárias e seguindo o exemplo dos nossos irmãos em Loja, facilmente constataremos que o Silêncio e a sua prática são ferramentas de Virtude, através das quais podemos, como nos dizem os nossos Landmarks, aperfeiçoar-nos e, através de tal, modestamente contribuirmos também para o aperfeiçoamento da Humanidade.
Por isso, agora, nesta etapa de aperfeiçoamento filosófico, regressar ao Silêncio quando até já dispomos do direito de usar da Palavra em Loja e quando, porventura, até podemos já sentir saudades do protetor Silêncio do Aprendiz, desafia-nos a renovarmos a nossa Humildade, Obediência e Fraternidade, qualidades que devem caraterizar todo o Maçon que aspire à qualidade de eterno Aprendiz.
Compreendendo a Sabedoria do Silêncio melhor conseguiremos revestir as nossas palavras com a Força dos metais e a Beleza das colunas do Templo do Bem.
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