“O Silêncio é de Ouro” - alguém
escreveu.
Nos nossos rituais de aprendizes
é, a páginas tantas, referido que “(…) as palavras são o meio mais poderoso
para comandar os homens”.
Nesta mesma preciosa Fonte é
consagrado o valor do Silêncio do Aprendiz, o qual tem por prerrogativa, entre
outras, proteger o Iniciado. Até (e, se calhar, principalmente) de si mesmo.
Com efeito, esta norma impositiva
talvez comece por nos impressionar, pois não conseguimos imaginar que, uma vez
admitidos nos mistérios da Ordem Real, vejamos ser-nos retirado um direito tão
aparentemente natural quanto inalienável.
No entanto, com o tempo, e apenas
com este e através da prática do Rito, temos a possibilidade de compreender a
importância desta regra. Recordemos o estranhamento provocado pelo conhecimento
da interdição de falar em Loja: “Então a palavra, a expressão máxima da
oralidade, é negada àquele que principia o caminho das supostas Liberdade,
Igualdade e Fraternidade? – Através do Ritual, da participação nas sessões
rituais e do apoio dos nossos Irmãos Obreiros, conseguimos paulatinamente vir a
contextualizar este Silêncio, que começa por nos ser imposto mas do qual,
curiosamente, podemos vir a sentir falta. É que, realmente, o Silêncio do
Aprendiz protege, possibilita a aprendizagem, convida à reflexão e incute
disciplina em todo aquele que se dispõe à sua prática.
Num mundo tão poluído de
estímulos sonoros e numa sociedade tão repleta de palavras, o Silêncio em Loja
constitui praticamente um não-lugar, fora do espaço e do tempo, uma
não-naturalidade que, tal como ao praticante de meditação, começa por gerar um
turbilhão de pensamentos que se precipitam em todas as direções, como se de
animais indomáveis saídos de todos os lados se tratassem.
Ter oportunidade de apreender
estes factos através da consciência provoca invariavelmente alguma ansiedade.
Medo até: “Onde é que eu me vim meter?” – Interroga-se o aprendiz, inquietado
pela mente que, de forma automática, repetitiva e incessante, procura
explicações. Na ausência destas, e da incerteza que daí advém, a “profanidade”
parece chamar-nos, com vozes que no Silêncio Ritual se fazem ouvir ainda mais
alto. Sentimos que o ego, o velho inimigo que nos mostraram no espelho da
Iniciação continua lá, mesmo atrás de nós, pronto para nos confortar à sua
velha maneira: egotista, apaixonada, viciosa e viciante.
O Silêncio é assim um desafio
simultaneamente enorme e simples, num mundo em constante parafernália. Respeitar
esta regra pode ser difícil, monótono, enfastiante até. Mas aceitá-lo e
respeitá-lo, praticando-o não apenas em Loja mas, também, no mundo profano,
pode ser um exercício tão instrutivo quanto valioso. Se, por exemplo e de forma
simples, experimentarmos começar a ouvir as frases que os outros dizem até ao
fim, ou então, nos preocuparmos em sermos concisos e assertivos sempre que
falamos, tentando poupar os nossos interlocutores a palavras desnecessárias e
seguindo o exemplo dos nossos irmãos em Loja, facilmente constataremos que o
Silêncio e a sua prática são ferramentas de Virtude, através das quais podemos,
como nos dizem os nossos Landmarks, aperfeiçoar-nos e, através de tal,
modestamente contribuirmos também para o aperfeiçoamento da Humanidade.
Por isso, agora, nesta etapa de
aperfeiçoamento filosófico, regressar ao Silêncio quando até já dispomos do
direito de usar da Palavra em Loja e quando, porventura, até podemos já sentir
saudades do protetor Silêncio do Aprendiz, desafia-nos a renovarmos a nossa
Humildade, Obediência e Fraternidade, qualidades que devem caraterizar todo o
Maçon que aspire à qualidade de eterno Aprendiz.
Compreendendo a Sabedoria do
Silêncio melhor conseguiremos revestir as nossas palavras com a Força dos
metais e a Beleza das colunas do Templo do Bem.
ELBF25
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