quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

O SILÊNCIO

Albrecht Durer - 1514
O SILÊNCIO

No século XXI, especialmente nas grandes cidades, governadas pelo tráfego de veículos e por numerosas variedades de contaminação acústica o ruído reina. Este caos acústico procede do desenvolvimento tecnológico, especialmente no seu caráter portátil, pois hoje somos sempre acompanhados de dispositivos que nos recordam que estamos conectados, que nos avisam quando recebemos uma mensagem, que organizam os nossos horários com base no ruído, é neste contexto, que mesmo no plano profano, o silêncio implica uma forma de resistência, uma maneira de manter a salvo uma dimensão interior contra as agressões externas.
O Silêncio, é, pois, muito mais que uma forma de estar. É a expressão mais verdadeira e efetiva das coisas inomináveis. E a tomada de consciência de que há determinadas experiências para as quais a linguagem não serve, ou que a linguagem não alcança, é um traço decisivo do conhecimento e é também um dos princípios fundamentais da Maçonaria e uma das principais tarefas do Aprendiz Maçon. Afirmo ser uma tarefa porque como referiu Willian James, “O exercício do silêncio é tão importante quanto a prática da palavra”, ou seja, quase todos sabemos falar, mas poucos sabemos calar. O silêncio é, pois, uma virtude através da qual se faz o percurso da aprendizagem nos primeiros anos de formação maçónica. Podemos assumir que ao contrário do que se poderia pensar numa primeira análise, de que o silêncio é um condicionamento e uma restrição à liberdade de expressão do Aprendiz e do Companheiro Maçom, ele é na realidade uma ferramenta com a qual se exercita a autodisciplina e assim os Irmãos apreendem com mais intensidade tudo o que ouvem, veem e sentem. No silêncio, o Maçom dialoga consigo mesmo e, nesse diálogo, conhece-se melhor a si mesmo dessa forma potencia as suas possibilidades espirituais não como uma imposição de grau, mas, sim como uma virtude que alerta para a necessidade de nos prepararmos para o “Uso da Palavra”.
O tema do Silêncio, leva-nos a viajar no tempo, até ao dia da iniciação. Nesta importante, para mim a mais importante e bonita, cerimónia maçónica, o silêncio desempenha o papel principal da sessão, desde que somos vendados e levados para a câmara de reflexão e onde ainda profanos, a sós ou com os nossos futuros Irmãos gémeos, rodeados de símbolos, frases e palavras somos levados a desvendar o VITRIOL, e, portanto, a viajar internamente. Do mesmo modo, quando prestamos o nosso juramento, adquirimos a obrigação de estar em Silêncio, e de não desvendar os segredos, as palavras, nem os membros da ordem ao mundo profano. Aí o silêncio representa a discrição e a disciplina do Maçom, assim como a sua lealdade para consigo próprio e seus irmãos.
Após a Iniciação e já Maçom, o Aprendiz trabalha em silêncio, pois só assim é possível procurar a perfeição e dessa forma construir o seu templo interior cujos alicerces são os mais altos princípios intelectuais, morais e sociais que modelam o carácter. Não sendo uma tarefa fácil, o silêncio dota-nos da paciência necessária para a resolução de problemas e possibilitará escolher a palavra certa no momento em que estejamos habilitados para usar a palavra, com uma resposta inteligente, fraterna, livre e de bons costumes, como se espera ser a principal característica do obreiro Maçom.
Citando Fernando Pessoa, “existe no silêncio, uma tão profunda sabedoria que às vezes ele se transforma na mais perfeita resposta.” A sabedoria do silêncio é, pois, uma arte complexa, que não consiste somente em calar a palavra exterior, mas que se torna realmente completo com o silêncio interior do pensamento para que a Verdade possa intimamente revelar-se e manifestar-se na nossa consciência, isto significa que mesmo após ser exaltado a Mestre, o Maçom deve continuar a usar o silêncio como base de um trabalho contínuo de aperfeiçoamento, fazendo valer os princípios da circunspeção, da discrição, da disciplina e da tolerância. Apesar do Mestre Maçom adquirir o pleno direito ao uso da palavra, este tem que respeitar em absoluto a liberdade de expressão de cada um, de forma a manter a harmonia, o equilíbrio e a fraternidade e assim fazer cumprir o 6º Landmark, "A Maçonaria impõe a todos os seus membros o respeito das opiniões e crenças de cada um. Ela proíbe-lhes no seu seio toda a discussão ou controvérsia, política ou religiosa. Ela é ainda um centro permanente de união fraterna, onde reinam a tolerante e frutuosa harmonia entre os homens, que sem ela seriam estranhos uns aos outros."
Pode, nesta perspetiva, dizer-se que o silêncio e o "saber calar "são virtudes que a Maçonaria muito preza independentemente do grau e qualidade do Maçom e que a lei do silêncio nada mais é do que um perpétuo exercício do pensamento.
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“O Silêncio”



  O Levantamento do Mestre
Giovanni Francesco Barbieri, Il Guercino (1591-1666)
  “O Silêncio”
Citando o filósofo e matemático grego Pitágoras:
“Escuta e serás sábio. O começo da sabedoria é o silêncio.”
Não poderia estar mais de acordo.
O silêncio é a pedra basilar do conhecimento.
É em silêncio que tudo se ouve, tudo se perscruta, tudo se interioriza, tudo se aprende, tudo se absorve, tudo se retém.
É em silêncio que podemos melhor buscar a perfeição mesmo sabendo que esta será sempre inatingível.
O silêncio é um amigo que nunca trai como disse e ensina o filósofo chinês Confúcio, dos primeiros pensadores a exaltar a virtude do silêncio e a quem é atribuído este diálogo com um discípulo:
- Eu gostaria de não mais falar.
- Se não falar mais que ensinamentos teremos a transmitir? Inquietou-se o seu discípulo Tsé-Kong.
A suprema beleza do Céu e da Terra é muda, o esquema do retorno das estações é límpido mas tácito, o princípio de desenvolvimento dos seres é inexpresso.”
O silêncio estaria assim para a linguagem como o absoluto para a finitude.
O silêncio nunca deve assim ser confundido com a ignorância.
O silêncio é sábio e crucial para reter e absorver conhecimento que nos é exterior.
Mas o silêncio também é fonte de conhecimento interior.
O silêncio, a meditação profunda, a concentração perfeita do espírito, o
alheamento total do mundo profano, do mundo dos sentidos que nos rodeia, é essencial para obter o conhecimento de nós mesmos e do Universo.
É em total silêncio que poderemos ouvir o “falador silencioso” a “voz do interior espiritual”, em que a união com o universo, como um todo, se torna mais profunda.
É em total silêncio que podemos dialogar com o nosso “eu” com uma
profundidade que só o silêncio permite.
O Chuang Tse, que juntamente com o Tao Te King, forma a base textual e filosófica da escola do pensamento Taoista, que cultiva a compaixão, moderação e humildade, fundada por Lao-Tsé (com quem Confúcio rivalizava no pensamento sobre, além do mais, o tema do silêncio), dá-nos exemplos dos chamados Mestres Silenciosos, como por exemplo o Mestre Nada (capítulo 22, 10.º Secção do Chuang-Tsé):
Brilho interrogou Nada:
Você é ou não é?
Como a sua pergunta ficou sem resposta ele examinou atentamente a aparência do mestre: uma noite sem fundo, um vazio sem medida. Examinou-o durante um dia inteiro, mas, embora olhasse com atenção, não via nada, embora ouvisse com atenção, não ouvia nada, e pondo nele as mãos, não tocava nada.
“Prodigioso chegar a tal evanescência! Eu também contenho o não ser, mas não como ele, que nada contém – nem mesmo o não ser! Ah! Como foi que ele procedeu para se fazer assim Nada!”
Tal pensamento ensina que os homens autênticos são seres evanescentes e silenciosos.
Outra passagem do Chuang-Tsé (capítulo 139) é uma metáfora em que melhor se percebe a importância do silêncio:
“Uma água adormecida é tão límpida que pode reflectir pelos de barba ou de sobrancelha de maneira perfeita. É tão uniforme que pode servir de nível a um carpinteiro. Se uma alma calma é reflectora, com mais forte razão o será para o espírito. O espírito do Santo é o espelho do Céu e da Terra, o espelho da criação. O vazio, a quietude, a insipidez, o silêncio, a inacção constituem a norma do universo e a substância da ordem das coisas.”
No pensamento taoista o sábio fala ao mesmo tempo que permanece silencioso:
A voz do silêncio.
No sufismo, corrente mística e contemplativa do Islão, também encontramos a exaltação do silêncio:
“Se a palavra que você vai pronunciar não é mais bela do que o silêncio. Não a pronuncie.”
O Silêncio é assim a base do conhecimento exterior e interior.

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“O Silêncio”

Blavatsky

 “O Silêncio”

São inúmeras as variantes de significância e os contextos em que se usa profanamente a palavra silêncio (silentium), estado de quem se abstém ou pára de falar, cessação de som ou ruído, omissão de uma explicação, sossego, quietude, calma, segredo, sigilo, expressão, usada, para impedir de falar ou pedir que alguém se cale.
O silêncio e as suas interrupções é uma constante das nossas vidas, desde o nascer do bebé – que irrompe do silêncio do ventre materno, até ao silêncio do velho – ao partir e renascer para a espiritualidade. É também uma constante do Universo e de toda a existência – o silêncio do movimento perfeito dos planetas em harmonia consigo mesmo e com o firmamento – o silêncio do vácuo que interliga as galáxias…
Podemos pois compreender, com segurança, que o silêncio faz naturalmente parte da vida de toda a criação, e de modo muito especial da vida do Homem; aqui atingindo a sua plenitude quando tal silêncio é consciente, positivo, humanizado, e orientado, podendo então expressar uma universalidade de sentidos, dentre eles: compreensão; compaixão; reconhecimento; humildade; autodomínio; paz; tranquilidade; harmonia; determinação; respeito; aprendizagem; ordem; segredo; reflexão; meditação; abertura para a revelação; progresso.
Todos estes sentidos dados ao silêncio, se bem conduzidos, terão em si como que um denominador comum, a vontade do Homem se superar dentro de si mesmo, extravasando para o exterior, e perante os seus semelhantes, uma aprendizagem de gratidão pela vida e procura de novos horizontes através do imenso poder da mente e do pensamento, tendo por intenção a busca incessante da sabedoria e autoconhecimento que a todos aproveite.
Creio que a Maçonaria, enquanto ordem iniciática que prima pela prevalência do espírito sobre a matéria, tendo por escopo o aperfeiçoamento intelectual, social e moral da humanidade, e onde o todo é enriquecido pelo somatório do enriquecimento individual de cada Homem – em primeiro lugar perante si próprio, e como corolário perante os seus semelhantes, não poderia cumprir os seus desígnios reconhecesse à aprendizagem do silêncio e à sua boa orientação uma importância central no caminho do desenvolvimento espiritual do Homem.
Posso hoje afirmar, de forma mais esclarecida, e por isso ainda mais humilde – pelo conhecimento cada vez maior do infinito tamanho do desconhecido, que urge que cada um de nós se empenhe e envolva no processo de se encontrar consigo próprio e com a divindade que há em si, ainda que de forma latente, e também em harmonia com a divindade do próximo e do ecossistema em geral – o Universo, pois só dessa forma nos conseguiremos elevar na busca incessante, e porém sempre inatingível, da perfeição – nisto consiste muito sinteticamente saber ouvir a VOZ do SILÊNCIO.
Pode parecer contraditório, pois o silêncio é ausência de som, de voz, mas não é de facto uma impossibilidade, e nem sequer é uma mera metáfora; saber ouvir a VOZ DO SILÊNCIO (a voz do nosso silêncio) é um processo que convoca, e leva para a grandeza da meditação e reflexão questões como o que somos, de onde viemos, e para onde queremos ir – e não me refiro apenas ao pedaço de matéria que cada um de nós é hoje – de forma efémera, mas àquilo que somos e continuaremos a ser na nossa essência, e que desconheceremos sempre em absoluto, mas que prevejo e acredito se vá vislumbrando melhor à medida que aumentarmos, com compromisso pessoal e sem radicalismos, o nosso investimento (o querer, e o fazer), para estarmos o mais perto possível da busca incessante de harmonia com o GADU, nosso criador.
Ainda sem sabermos muito bem o que era, todos nós pudemos experienciar o silêncio maçónico, desde logo, ab initio, na Câmara de Reflexão, quando éramos candidatos a Aprendizes. E foi logo aí que o silêncio foi de Ouro, por nos ter permitido, cada qual à sua maneira, ter a oportunidade, que porventura nunca tínhamos tido, de meditação séria e de contemplação sobre o que somos, de onde vimos e para onde queremos ir, fazendo-o num contexto próprio que nos ajudou a despir perante os nossos futuros Irmãos e perante nós próprios, alguns dos muitos estereótipos que nos subjugam no dia-a-dia. Podemos pois dizer que o silêncio de nós perante nós mesmos nos ajuda a libertarmo-nos, a reposicionarmo-nos com igualdade perante os outros, permitindo-nos assim almejar atingir o caminho da fraternidade.
Seremos eternos Aprendizes; o silêncio será sempre o mesmo; e porém tenho já a certeza que a forma como conseguimos ouvir a sua voz dentro de nós, ou seja, o que cada um consegue retirar de útil do seu silêncio, vai evoluindo à medida de que a sua mente consciente é alertada e despertada pelos ensinamentos que lhe são revelados pela Maçonaria.
Produzir este Balaústre, sob a inspiração da obra “A VOZ DO SILÊNCIO”, conforme sugerido pelo nosso T:.V:.P:.M:. Agostinho Costa, foi um enorme privilégio de aprendizagem – e de muito difícil descrição – quer ela sua magnitude, quer pela curiosidade e pesquisa que motivou sobre a obra da sua autora, Helena Petrovna Blavatsky, quer ainda, em especial, pela oportunidade de percecionar uma obra que traduz ensinamentos poderosíssimos da civilização tibetana, mas que afinal, tiradas as necessárias ilações são ensinamentos universais, revelados por todo o mundo através das figuras que mais se vêm destacando ao longo da história universal.
Quanto ao conteúdo da obra “A VOZ DO SILÊNCIO”, seria impossível descrever aqui toda a relevância do que percecionei, e certamente percecionei pouco, já que os ensinamentos irão certamente sendo distintamente percebidos à medida que nos desenvolvemos na compreensão da vida; sem prejuízo de outros, é porém merecido que faça breve menção de alguns enfoques que nos devem despertar.
Cito: “Para te tornares conhecedor da Personalidade Total, tens primeiro de conhecer a Personalidade. Para chegares ao conhecimento dessa Personalidade, tens de abandonar a personalidade à não-personalidade, o ser ao não-ser, e poderás então repousar entre as asas da Grande Ave.”
O Universo é revelado assim como um caminho em direção à unidade; este enfoque é também realçado mais à frente pela chamada “Heresia da Separação”, onde nos é revelado que a separação entre nós pelo ar é uma ilusão que nos afasta, e onde todos nós pertencemos (como de um átomo se tratasse) a algo maior de que fazemos parte; algo que tem uma ordem maior, não entendível ao humano, dentro do seu referencial de espaço e tempo, e muito menos o será sem a meditação interior que lhe dê pistas de autoconhecimento.
“Porque quando para si mesmo sua própria forma parece irreal, como o parecem, ao acordar, todas as formas que ele vê em sonhos, quando deixar de ouvir os muitos, poderá divisar o UM – o sonho interior que mata o exterior”.
É pois ao mergulhamos profundamente na nossa vida interior que podemos vir a perceber o quanto temos estado desligados de nós mesmos, e que tudo pode mudar quando assim buscamos o mistério do nosso Eu e do Universo.
A ideia das três salas, que também nos lembra o mito da caverna, de Platão, transmite-nos três estádios do processo por que passamos na nossa tentativa de compreensão sobre o Universo, e dá-nos pistas sobre os perigos de cada etapa.
Na primeira sala (ignorância) a sobrevivência é o objetivo, com o maior conforto possível e sem qualquer preocupação com o próximo; na segunda (a aprendizagem), já começamos a evoluir mentalmente, mas não conseguimos as mais das vezes deixar a vaidade e a soberba, ou seja o conhecimento vem como que impregnado das motivações malévolas da afirmação do individualismo que podem levar à petulância; na terceira sala, a da sabedoria, estaremos já num estádio em que através do conhecimento poderemos vir a atingir ideais de igualdade, de fraternidade, de compaixão e de compromisso, mas ainda aqui há o risco de nos perdermos em egoísmos e egocentrismos que nos farão perder o rumo.
“Se queres atravessar seguramente a primeira sala, que o teu espírito não tome os fogos da luxúria que ali ardem pela luz do Sol”. Alerta-nos para os perigos de compreendermos a vida de forma meramente física.
“O nome da segunda sala é a Aprendizagem. Nela a tua Alma encontrará as flores da vida, mas debaixo de cada flor uma serpente enrolada”. Somos aqui alertados para a ilusão da informação, que nunca é conhecimento e sabedoria, quando ainda lhe falta a profundidade, e que nos pode levar por caminhos contraditórios ao nosso Eu.
“…na Sala da Sabedoria, a sala que está para além, onde todas as sombras são desconhecidas e onde a luz da verdade brilha com imorredoura”; “Esta luz brilha na joia do grande enganador (Mara). Enfeitiça os sentidos, cega o espírito e deixa o descuidado naufragado e sozinho”. Alertados somos aqui para o facto de a sabedoria não se bastar a si mesma, ela é dinâmica e infinita e só ter real serventia se foi constantemente mobilizada ao serviço do coletivo.
“Se, passando pela Sala da Sabedoria, queres chegar ao vale da felicidade, fecha, discípulos os teus sentidos à grande e cruel heresia da separação, que te afasta dos outros.” Somos aqui alertados para o egoísmo e para os seus malefícios que resultam de acharmos que, por estarmos separados por um espaço de ar entre nós, somos (ilusoriamente) entidades identidades distintas, e que por isso o mal que façamos ao próximo não magoará também enquanto parte do todo.
Muito e muito mais haveria para dizer, como mera tentativa de ilustração sumária dos ensinamentos que nos são revelados pela “VOZ DO SILÊNCIO”, o que é manifestamente impossível, quer pela limitação deste balaústre, quer pela grandeza da obra inspiradora, pelo que me resta agradecer novamente a oportunidade de ter sido contacto com esta obra, da qual aconselho leitura, com profundidade e interpretação à medida de cada um – é pois uma obra para reler periodicamente, e ir retirando ensinamentos – o que farei com grato prazer ao longo da vida.
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O Silêncio na Maçonaria

"O Ancião dos Dias"
William Blake

1794
O Silêncio na Maçonaria
Muito se escreve sobre a Lei Iniciática do Silêncio e inúmeras são as Peças de Arquitetura, escritas por Irmãos da Maçonaria ao redor do Mundo sobre o uso da palavra em Loja Maçônica.
Platão dizia a respeito de se conhecer os homens: “os homens e os vasos de terracota se conhecem do mesmo modo: os vasos, quando tocados, têm sons diferentes; os homens se distinguem pelo seu modo de falar”.
No que foi complementado por Aristóteles:”a tarefa mais difícil para um homem comum é guardar um segredo e permanecer em silêncio”.
O silêncio na maçonaria tem por finalidade o desenvolvimento da vontade e permite atingir um maior domínio sobre si mesmo. Não esqueçamos que somente um homem capaz de guardar o silêncio, quando necessário, pode ser seu próprio senhor. Não por acaso a doutrina Maçônica recomenda o silêncio a todos os Maçons durante o período de aprendizado, de acordo, aliás, com a Escola Pitagórica, da qual a Maçonaria extraiu alguns dos Princípios que compõem o seu acervo filosófico. A Escola fundada pelo Filósofo de Samos, na cidade de Crotona, preconizava o aperfeiçoamento do ser humano pelo estudo e pela prática da meditação e tinha um sistema de três graus: o de Preparação, de Purificação e Perfeição.
A imposição do silêncio não é somente uma disciplina que fortalece o caráter, é também, e principalmente, o meio pelo qual o iniciado pode entregar-se à meditação sobre os augustos mistérios que encerram as perguntas que todo o espiritualista se faz: donde vim? Quem sou? Para onde vou? Perguntas essas que o iniciado maçom defronta desde o início de sua caminhada. É também o meio de melhor observar os ensinamentos maravilhosos da maçonaria.
O maçom pensa duas vezes antes de emitir opinião, porque tem obrigação de emiti-la de forma correta e que jamais possa ofender a quem a ouve. Recorda que às vezes, o silêncio é a melhor resposta.
Ao cruzar as portas de uma Loja Maçônica, trazendo consigo os conceitos de liberdade total, os Irmãos paulatinamente aprendem a controlar os seus impulsos, aprimorando o seu caráter e preparando-se para ser mais um líder na construção da sociedade do futuro, na qual prevalecerão a Liberdade responsável, a Igualdade de oportunidades e a Fraternidade solidária. Por isso mesmo, a prática do silêncio na Maçonaria deve ser entendida como um exercício de auto aperfeiçoamento e jamais deverá ser entendida como uma proibição ritualística.
Os maçons trazem na memória, em silêncio, a gratificação do trabalho em união fraterna pela construção do templo interior e, certamente, o Grande Arquiteto do Universo ilumina e abençoa a todos os que pensam mais e falam menos, pois estes espiritualizam a sua matéria, e se tornam mais dignos e úteis na tarefa de tornar feliz a humanidade.
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SILÊNCIO

Gravura francesa do século XVIII

O Silêncio é a linguagem da alma, é a palavra não dita, é a sabedoria de todos os sábios.
A prática do Silencio conduz á sabedoria, permite que se escute que se pense e que se possa executar sem nada dizer.
O silêncio é enriquecedor, e quem sabe vai chegar o momento em que a comunicação por ele vai estar mais presente e tornar-se-á eficiente.
No mundo Maçónico, eu estou em Silêncio, faço Silêncio, comunico pelo Silêncio, aprendo em Silêncio.
“O Silencio Maçónico é tão importante quanto a execução da palavra”.
Esta frase resume bem o ensinamento maçônico do “permanecer calado”, não como uma imposição, mas sim como uma virtude a qual prepara para o uso da palavra.
O que não pode acontecer é confundir Silêncio com Sigilo ou Segredo. A todos os Maçons (independentes de Graus e Ritos) é obrigatório o Sigilo quanto ao conteúdo dos Rituais e a manutenção dos Segredos quanto ao Rito. O silêncio é uma virtude que se aprende na Maçonaria e que é usada não só nos trabalhos maçônicos, mas na vida profana. O Silêncio Maçônico é a discrição que conquista a confiança dos que nos rodeiam. Esta virtude remete-nos para silenciosamente corrigirmos nossos defeitos e usar a prudência e a tolerância em relação aos defeitos dos outros. Portanto, o propagado SILÊNCIO MAÇÔNICO nada mais é do que a profunda atenção que todos nós devemos ter antes de falar.
Quem não conhece frases que contém palavras que se tornam flechas imparáveis?
Palavras que após serem proferidas, ditas ou lançadas, não há como as interromper na sua trajetória e ao encontrarem o alvo, tornam o resultado proporcional à intenção com que foram disparadas.
Longe de estar tudo dito sobre o silêncio seja ele praticado no mundo profano ou maçônico, com uma certeza fiquei na execução deste trabalho, teremos de todos os dias de praticar o silencio para com mais certeza podermos usar a palavra, e para que essa palavra nunca se torne a arma da dor.
Esta foi o trabalho executado, e que na minha humilde opinião, e está perfeitamente adequando a qualquer condição da vida Maçónica e quiçá da vida profana.

Ao poder usar agora a voz, não elimina as virtudes que a prática do silêncio tem, principalmente quando este é a ante-camara do uso da palavra.
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SILÊNCIO



Silêncio, não sei que voltas lhe hei-de dar para o descrever.
Limpei o pensamento das principais impurezas, dei um jeito aos comportamentos mais desacertados, tentei, enfim, torna-lo legível. Por ele e por mim.
Por ele, porque apesar de tudo encontra-se tão pleno de Sabedoria e poder espiritual, como um grande bloco de mármore que, potencialmente, é uma grande escultura!

Silêncio, para ouvirmos a eloquente voz do Grande Arquiteto do Universo, soletrada pelos Irmãos, no nosso dialeto pomposo e consequente, que nos chama para um forte e verdadeiro compromisso, que nos ajuda abrir todos os canais da nossa Alma, a Razão da nossa insistência.

O Silêncio devolve-nos, após o saudável exercício de discrição verbal, o direito de novamente usar a Palavra que foi tão banalizada, com uma absoluta credibilidade e consciência.

Silêncio para, enfim, aprender com os Irmãos a lição de mais dizer por não falar.

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terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Silêncio Ensurdecedor


Victor da Silva Barros

SILÊNCIO ENSURDECEDOR       


Por entre a serenidade
Do vento que não sopra
No rijo rochedo agreste
Ou no delicado sussurro
Da magia do arvoredo,
Irrompem gritos silenciosos
De almas que sofrem…
Qual silêncio ensurdecedor
Que angustia e magoa!

São lamentos tortuosos
Duma multidão de vozes
Discretamente clamando auxilio,
Gente que não agita bandeira
Nem levanta o braço
Com berros de ameaça
Ou dedos acusadores.

Não têm, não querem, voz ruidosa,
Mas interpelam-nos seriamente
Com a angústia no olhar,
Questionando mais que os contestatários
Ou tumultuosos de voz grossa,
Exigem-nos em sofrimento retraído
Caminho de Renovada Esperança…


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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

SILÊNCIO

Carlos Dugos

Estamos a vivenciar nossa silenciosa e gratificante escalada em busca dos verdadeiros conhecimentos esotéricos, os “Grandes Mistérios”.
Segredos não profanos, segredos da construção do Templo de Salomão, e da morte e renascimento simbólico do espírito do Mestre Hiram, aqui na presença do nosso Mestre, Poderosíssimo.  Aqui, neste período de aprendizado, estão também o Rei de Tiro, e dois Adonhirans.
O silêncio é uma virtude aprendida na Maçonaria e deve ser praticado não só nos trabalhos maçônicos, mas na vida profana. O Silêncio é a discrição que conquista a confiança dos que nos rodeiam. Esta virtude nos remete ao VITRIOL para silenciosamente corrigirmos nossos defeitos e usarmos prudência e tolerância em relação aos defeitos dos outros.  Em constante evolução, vamos nos remeter aos antigos ensinamentos iniciáticos.
O desaparecimento violento de  mestre Hiram Abif nos reporta a Bíblia Reis II, 62 que fala na consagração do Templo, onde Salomão imolou vinte e dois mil bois e 120 mil ovelhas, sangue derramado d’alma dos homens que dedicaram vidas ao “sacrifício da completação”. O sangue do silêncio, que permite a evolução.
Adonhiram, Hiram  Abiff, passagens de luto dum segredo arcano de especial significado na história do Templo do Rei Salomão, verdades que nos permitem crescer pela dor do silêncio, pela mortalha que nos silencia, onde há de se lembrar do segundo vigilante, que agora vemos num manto negro ornado com lágrimas prateadas, que o mais elevado canto em silêncio remete-nos como irmãos que somos à Bíblia (Reis 12:18), pois diz que esse ou aquele poderá ter sido morto pela fúria que nasce de um furor, da cólera, do reverso do silêncio.
Galgamos uma eternidade , e em evolução inevitável vimos a perceber a Arca da Aliança, iluminada por um (menorah) de sete braços, que significa a aliança entre o homem e Deus, e uma chave de marfim para não nos esquecermos do Silêncio, pelo qual poderemos aceder numa ordem superior de conhecimento, uma nova vida num plano superior de consciência, mas esta chave também pode  “fechar”, pois é o poder sobre uma vida que o Mestre Secreto passa a viver nos graus superiores.

Em símbolo, guardamos a Arca da Aliança, a que representa também o Tabernáculo, onde se situa o altar do “Santo dos Santos”, o local das Táboas da Lei, local onde somente o Sumo- sacerdote podia entrar para falar “pessoalmente” com o Senhor.
         A Maçonaria encarecerá sempre o zelo pela lei, pois não pode haver ordem, harmonia e felicidade numa sociedade onde o respeito á tradição e o zelo pelos acordos selados não sejam mantidos.
Entre o céu e a terra, se percebem o silêncio e a observância, que são capazes de combater a ignorância em todos os campos. As coisas do céu se aprendem mediante a busca sincera da Gnose divina, as coisas da terra se conhecem através da prática de uma filosofia de vida esclarecida.
A linguagem Espiritual é inefável por natureza contudo, ela se comunica com a Divindade.
A força de um pensamento emana sons peculiares que o vulgo não percebe, mas cujas vibrações atingem a quem são destinadas.
O silêncio nos faz perceber que as leis que regem o Universo são naturais e imutáveis, e a elas tudo está sujeito. Portanto será pelo estudo, raciocínio e sofrimento, derivado da luta contra os maus hábitos e as imperfeições, que o espírito do homem de bem , do maçom se esclarece para alcançar maior evolução. O silêncio nos permite obter segurança para o que nos cabe fazer, e põe em ação, sem fúria ou desestabilidade, o nosso livre-arbítrio para o bem, o silêncio irradia pensamentos para que o GADU nos envolva na sua luz e fluidos, e para que nos fortifique no cumprimento dos nossos deveres.

Silêncio é a primeira pedra do Templo da sabedoria.
Já dizia Confucio: “Ouça e Você vai ser sábio”, pois o início da sabedoria é silênciar.
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SILÊNCIO

Victor Silva Barros


Aquele que quiser ouvir a voz de Nada, a voz sem som, ou a "voz do silêncio", o Som sem som, e compreendê-la, terá de aprender a natureza do Dharana, a concentração intensa e perfeita do espírito sobre qualquer objeto interior, acompanhada da abstração completa de tudo quanto pertença ao universo exterior, ou mundo dos sentidos.
Ao ler este texto na ”Voz do Silêncio” de Helena Petrovna, percebemos que é no silêncio que conseguimos a mais perfeita analise do nosso ser, como janela para o nosso universo interior.
Podemos pensar como é que o silêncio poderia ser experimentado sem recurso a nenhuma técnica. Pode-se baixar a fasquia para encontrar o Silêncio e o equilíbrio. Não é preciso um curso de Silêncio ou de relaxamento para ser capaz de fazer simplesmente uma pausa. O Silêncio pode estar em qualquer lugar, a qualquer momento. Está mesmo à nossa frente. Eu crio-o para mim mesmo quando subo as escadas, preparo uma refeição ou simplesmente quando me foco na minha respiração. Sem dúvida que todos somos parte do mesmo continente, mas a possibilidade de sermos uma ilha para nós mesmos é algo que temos sempre connosco.
Não devemos temer o Silêncio, ficar sozinho com os nossos pensamentos, senti-los invadir a nossa mente e tentar quebra-lo com ruído nunca será uma boa prática a vontade de encontrar o caminho da Luz será sempre proporcional à utilização do Silêncio como força motriz capaz de promover a humildade para escutar, analisar, tirar as suas próprias conclusões, desenvolver a arte de pensar, ter a bondade para melhorar o nosso carácter e a alegria para crescer.
O silêncio é uma virtude aprendida na Maçonaria e que é usada não só nos trabalhos maçónicos, mas na vida profana. O Silêncio Maçónico é a discrição que conquista a confiança dos que nos rodeiam. Esta virtude conduz-nos para, silenciosamente, corrigirmos nossos defeitos e usar prudência e tolerância em relação aos defeitos dos outros, assim, o propagado Silêncio Maçónico nada mais é do que a profunda atenção que todos nós devemos ter antes de falar.
Ainda o silêncio apresenta-se como direito que está garantido no artigo 32º da Nossa Constituição da Republica, significando que o Silêncio não pode ser valorado negativamente e utilizado contra quem dele se socorre, deste modo se protegendo os direitos fundamentais, sobretudo o da dignidade da pessoa humana.
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O silêncio: Umas vezes uma virtude, outras nem por isso.

Collado


Na elaboração deste balaústre sobre o SILÊNCIO ficamos naturalmente inclinados para nos debruçar pelas qualidades deste.
Também durante os primeiros anos do nosso percurso maçónico, enquanto aprendizes e companheiros, somos convidados a estar calados, não apenas porque devemos permanecer em silêncio para melhor assimilar tudo aquilo que nos vai sendo revelado, mas também sejamos claros, porque devido a nossa ignorância maçónica, acabaríamos por dizer algumas asneiras. E isto é um facto. Também durante a nossa iniciação e ao longo de todas as sessões recordam-nos da obrigatoriedade de permanecermo-nos em silêncio relativamente a tudo quanto foi visto e dito dentro da nossa Ordem.
Também há a ideia, de que pelo facto de estarmos em silêncio, ouvimos com mais atenção. Particularmente não concordo com este pressuposto. Quantos e quantos, por mais que em silêncio estejam, não ouvem nada daquilo que lhe dizem. Nesta perspectiva penso que mais importante que estar em silêncio é ter a capacidade de ouvir e meditar sobre o que ouve.
Não faltará quem, através de outros balaústres, abordem o silêncio enquanto sinal de prudência, sensatez ou respeito.
Mas e quando o silêncio não é uma virtude mas antes um defeito.
Quando o silêncio é sinal de “estar calado”. De privarmo-nos de expressar aquilo que sentimos ou pensamos.
Quantas e quantas vezes o silêncio é significado de cobardia em denunciar algo ou alguém.
Quantas e quantas vezes o silêncio é significado de ausência de contestação ou de indignação por injustiças praticadas pela sociedade ou pelo ser humano que dela fazem parte.
Quantas e quantas vezes o silêncio é significado de submissão ou de apenas ”deixar andar”. Sim, “deixar andar”. Esta atitude tão comum nos dias de hoje, em deixar que as “coisas” se resolvam por elas, quando geralmente isto não acontece.
Quantas e quantas vezes o silêncio é significado de ausência de ATITUDE.
Pergunto e nós, enquanto homens livres e de bons costumes: Qual a nossa relação com o SILÊNCIO.
ELBF21

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

O Silêncio

Helena Petrovna Blavatsky 

O Silêncio
A Mente, com a qual o homem contemporâneo pensa poder dominar o mundo, é a grade assassina do Real, pelo que importa matar o assassino. Como nos diz Helena Blavatsky «então, só então, abadanará ele a região de Asat, o falso, para chegar ao reino de Sat, o verdadeiro. (...) Antes que a Alma possa ouvir, o ser humano tem de se tornar surdo aos rugidos como aos segredos, aos gritos dos elefantes em fúria como ao sussurro prateado do pirilampo de ouro». Reparemos que n’A Voz do Silêncio, Helena Petrovna Blavatsky procurou transmitir como é que os monges tibetanos alcançavam a plenitude espiritual e a perfeita comunhão entre corpo e alma. Esta obra, editada em 1889, surge num tempo em que poucos se interessavam pela cultura oriental, mas Helena Blavatsky foi persistente na sua busca e, deixando seu país de origem – que era a Rússia –, deu início às suas indagações. Tentou diversas vezes entrar no Tibete, mas não conseguia. Até que numa das suas tentativas, passando pela Índia, conseguiu cruzar as fronteiras e entrar no país. Ela obteve o que queria com os monges, porém, não lhe foi permitido usar qualquer tipo suporte para anotar as suas experiências. Foi obrigada a decorar textos enormes. Esta obra é, então, a transcrição dos ensinamentos que aquela investigadora conseguiu reter na sua memória. Um dos ensinamentos que mais me impactou foi a necessidade de matar o desejo, mas com o cuidado de, matando-o, não deixar que ele renasça na morte. Este movimento aparentemente contraditório é muito verdadeiro. Não poucas vezes, depois de se superar dificuldades que implica cavar masmorras ao vício, as perniciosas consequências do vício ressurgem pela via da vã glória. É por isso que nestes ensinamentos se aprende que «Há só uma senda até ao Caminho; só chegado bem ao fim se pode ouvir a Voz do Silêncio. A escada pela qual o candidato sobe é formada por degraus de sofrimento e de dor; estes só podem ser calados pela voz da virtude. Ai de ti, pois, discípulo, se há um único vício que não abandonaste; porque então a escada abaterá e far-te-á cair; a sua base assenta no lodo fundo dos teus pecados e defeitos, e antes que possas tentar atravessar esse largo abismo de matéria, tens de lavar os teus pés nas águas da renúncia. Acautela-te, não vás pousar um pé ainda sujo no primeiro degrau da escada. Ai daquele que ousa poluir um degrau com seus pés lamacentos. A lama vil e viscosa secará, tornar-se-á pegajosa, e acabara por colar-lhe o pé ao degrau; e, como uma ave presa no visco do caçador sutil, ele será afastado de todo o progresso ulterior. Os seus vícios tomarão forma e puxá-lo-ão para baixo. Os seus pecados erguerão a voz (...) Os seus pensamentos tornar-se-ão um exército e levá-lo-ão, como um escravo cativo». Mais adiante adverte: «Lembra-te, tu que lutas pela libertação humana, que cada falência é um triunfo, e cada tentativa sincera ao seu tempo recebe o seu prémio. Os santos germes que brotam e crescem invisíveis na Alma do discípulo, dobram como juncos, mas não quebram, nem podem eles perder-se. Mas quando a hora soa, desabrocham». Vemos aqui um grande apelo à esperança e à perseverança, confiando que o trabalho que se começa no silêncio e na descrição, acabará por dar o seu fruto. Confia! Confia, pois o silêncio é uma entidade volátil e enigmática, que provoca meditações paradoxais, com termos que se contradizem: há alturas em que é nada e noutras é tudo; é o princípio, o vazio, mas é o fim, a plenitude; é vazio que enche e o nada que preenche... A sua ambiguidade admite todas as metáforas. É diáfano e infinito, veículo e lugar propício para ver no escuro a luz do Uno.
ELBF26