Albrecht Durer - 1514
O SILÊNCIO
No
século XXI, especialmente nas grandes cidades, governadas pelo tráfego de
veículos e por numerosas variedades de contaminação acústica o ruído reina.
Este caos acústico procede do desenvolvimento tecnológico, especialmente no seu
caráter portátil, pois hoje somos sempre acompanhados de dispositivos que nos
recordam que estamos conectados, que nos avisam quando recebemos uma mensagem,
que organizam os nossos horários com base no ruído, é neste contexto, que mesmo
no plano profano, o silêncio implica uma forma de resistência, uma maneira de
manter a salvo uma dimensão interior contra as agressões externas.
O
Silêncio, é, pois, muito mais que uma forma de estar. É a expressão mais verdadeira
e efetiva das coisas inomináveis. E a tomada de consciência de que há
determinadas experiências para as quais a linguagem não serve, ou que a
linguagem não alcança, é um traço decisivo do conhecimento e é também um dos
princípios fundamentais da Maçonaria e uma das principais tarefas do Aprendiz
Maçon. Afirmo ser uma tarefa porque como referiu Willian James, “O exercício do
silêncio é tão importante quanto a prática da palavra”, ou seja, quase todos
sabemos falar, mas poucos sabemos calar. O silêncio é, pois, uma virtude
através da qual se faz o percurso da aprendizagem nos primeiros anos de
formação maçónica. Podemos assumir que ao contrário do que se poderia pensar
numa primeira análise, de que o silêncio é um condicionamento e uma restrição à
liberdade de expressão do Aprendiz e do Companheiro Maçom, ele é na realidade
uma ferramenta com a qual se exercita a autodisciplina e assim os Irmãos
apreendem com mais intensidade tudo o que ouvem, veem e sentem. No silêncio, o
Maçom dialoga consigo mesmo e, nesse diálogo, conhece-se melhor a si mesmo
dessa forma potencia as suas possibilidades espirituais não como uma imposição
de grau, mas, sim como uma virtude que alerta para a necessidade de nos
prepararmos para o “Uso da Palavra”.
O
tema do Silêncio, leva-nos a viajar no tempo, até ao dia da iniciação. Nesta
importante, para mim a mais importante e bonita, cerimónia maçónica, o silêncio
desempenha o papel principal da sessão, desde que somos vendados e levados para
a câmara de reflexão e onde ainda profanos, a sós ou com os nossos futuros
Irmãos gémeos, rodeados de símbolos, frases e palavras somos levados a
desvendar o VITRIOL, e, portanto, a viajar internamente. Do mesmo modo, quando
prestamos o nosso juramento, adquirimos a obrigação de estar em Silêncio, e de
não desvendar os segredos, as palavras, nem os membros da ordem ao mundo
profano. Aí o silêncio representa a discrição e a disciplina do Maçom, assim
como a sua lealdade para consigo próprio e seus irmãos.
Após
a Iniciação e já Maçom, o Aprendiz trabalha em silêncio, pois só assim é
possível procurar a perfeição e dessa forma construir o seu templo interior
cujos alicerces são os mais altos princípios intelectuais, morais e sociais que
modelam o carácter. Não sendo uma tarefa fácil, o silêncio dota-nos da
paciência necessária para a resolução de problemas e possibilitará escolher a
palavra certa no momento em que estejamos habilitados para usar a palavra, com
uma resposta inteligente, fraterna, livre e de bons costumes, como se espera
ser a principal característica do obreiro Maçom.
Citando
Fernando Pessoa, “existe no silêncio, uma tão profunda sabedoria que às vezes
ele se transforma na mais perfeita resposta.” A sabedoria do silêncio é, pois,
uma arte complexa, que não consiste somente em calar a palavra exterior, mas que
se torna realmente completo com o silêncio interior do pensamento para que a
Verdade possa intimamente revelar-se e manifestar-se na nossa consciência, isto
significa que mesmo após ser exaltado a Mestre, o Maçom deve continuar a usar o
silêncio como base de um trabalho contínuo de aperfeiçoamento, fazendo valer os
princípios da circunspeção, da discrição, da disciplina e da tolerância. Apesar
do Mestre Maçom adquirir o pleno direito ao uso da palavra, este tem que
respeitar em absoluto a liberdade de expressão de cada um, de forma a manter a
harmonia, o equilíbrio e a fraternidade e assim fazer cumprir o 6º Landmark, "A Maçonaria impõe a todos os seus
membros o respeito das opiniões e crenças de cada um. Ela proíbe-lhes no seu seio
toda a discussão ou controvérsia, política ou religiosa. Ela é ainda um centro
permanente de união fraterna, onde reinam a tolerante e frutuosa harmonia entre
os homens, que sem ela seriam estranhos uns aos outros."
Pode,
nesta perspetiva, dizer-se que o silêncio e o "saber calar "são
virtudes que a Maçonaria muito preza independentemente do grau e qualidade do
Maçom e que a lei do silêncio nada mais é do que um perpétuo exercício do
pensamento.
ELBF24
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarO silêncio é um amigo que nunca trai.
ResponderEliminarConfúcio