Helena Petrovna Blavatsky
O Silêncio
A Mente, com a qual o homem contemporâneo pensa poder dominar o mundo, é
a grade assassina do Real, pelo que importa matar o assassino. Como nos diz Helena
Blavatsky «então, só então, abadanará ele a região de Asat, o falso, para chegar ao reino
de Sat, o verdadeiro. (...) Antes que a Alma possa ouvir, o ser humano tem de se tornar
surdo aos rugidos como aos segredos, aos gritos dos elefantes em fúria como ao sussurro
prateado do pirilampo de ouro».
Reparemos que n’A Voz do Silêncio, Helena Petrovna Blavatsky procurou
transmitir como é que os monges tibetanos alcançavam a plenitude espiritual e a perfeita
comunhão entre corpo e alma. Esta obra, editada em 1889, surge num tempo em que
poucos se interessavam pela cultura oriental, mas Helena Blavatsky foi persistente na sua
busca e, deixando seu país de origem – que era a Rússia –, deu início às suas indagações.
Tentou diversas vezes entrar no Tibete, mas não conseguia. Até que numa das suas
tentativas, passando pela Índia, conseguiu cruzar as fronteiras e entrar no país. Ela obteve
o que queria com os monges, porém, não lhe foi permitido usar qualquer tipo suporte para
anotar as suas experiências. Foi obrigada a decorar textos enormes. Esta obra é, então, a
transcrição dos ensinamentos que aquela investigadora conseguiu reter na sua memória.
Um dos ensinamentos que mais me impactou foi a necessidade de matar o desejo,
mas com o cuidado de, matando-o, não deixar que ele renasça na morte. Este movimento
aparentemente contraditório é muito verdadeiro. Não poucas vezes, depois de se superar
dificuldades que implica cavar masmorras ao vício, as perniciosas consequências do vício
ressurgem pela via da vã glória.
É por isso que nestes ensinamentos se aprende que «Há só uma senda até ao
Caminho; só chegado bem ao fim se pode ouvir a Voz do Silêncio. A escada pela qual o
candidato sobe é formada por degraus de sofrimento e de dor; estes só podem ser calados
pela voz da virtude. Ai de ti, pois, discípulo, se há um único vício que não abandonaste;
porque então a escada abaterá e far-te-á cair; a sua base assenta no lodo fundo dos teus
pecados e defeitos, e antes que possas tentar atravessar esse largo abismo de matéria, tens
de lavar os teus pés nas águas da renúncia. Acautela-te, não vás pousar um pé ainda sujo
no primeiro degrau da escada. Ai daquele que ousa poluir um degrau com seus pés
lamacentos. A lama vil e viscosa secará, tornar-se-á pegajosa, e acabara por colar-lhe o
pé ao degrau; e, como uma ave presa no visco do caçador sutil, ele será afastado de todo
o progresso ulterior. Os seus vícios tomarão forma e puxá-lo-ão para baixo. Os seus
pecados erguerão a voz (...) Os seus pensamentos tornar-se-ão um exército e levá-lo-ão,
como um escravo cativo».
Mais adiante adverte: «Lembra-te, tu que lutas pela libertação humana, que cada
falência é um triunfo, e cada tentativa sincera ao seu tempo recebe o seu prémio. Os santos
germes que brotam e crescem invisíveis na Alma do discípulo, dobram como juncos, mas
não quebram, nem podem eles perder-se. Mas quando a hora soa, desabrocham». Vemos
aqui um grande apelo à esperança e à perseverança, confiando que o trabalho que se
começa no silêncio e na descrição, acabará por dar o seu fruto. Confia!
Confia, pois o silêncio é uma entidade volátil e enigmática, que provoca
meditações paradoxais, com termos que se contradizem: há alturas em que é nada e
noutras é tudo; é o princípio, o vazio, mas é o fim, a plenitude; é vazio que enche e o nada
que preenche...
A sua ambiguidade admite todas as metáforas. É diáfano e infinito, veículo e lugar
propício para ver no escuro a luz do Uno.
ELBF26
E o Uno ouve as nossas preces!
ResponderEliminar“Meu Deus, dá-me a coragem de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites, todos vazios de Tua presença. Dá-me a coragem de considerar esse vazio como uma plenitude. Faz com que eu possa falar com este vazio tremendo e receber como resposta o amor materno que nutre e embala. Faz com que eu tenha a coragem de Te amar” (Clarice Lispector).
(ELBF426)
Clarice Lispector (Chechelnyk, 10 de dezembro de 1920 — Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977) foi uma escritora e jornalista nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira — e declarava, quanto a sua brasilidade, ser pernambucana —, autora de romances, contos e ensaios, sendo considerada uma das escritoras brasileiras mais importantes do século XX e a maior escritora judia desde Franz Kafka.( da VIKIPEDIA)
ResponderEliminarFala se tens palavras mais fortes do que o silêncio, ou então guarda silêncio.
ResponderEliminarEurípedes