quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

O Silêncio

Helena Petrovna Blavatsky 

O Silêncio
A Mente, com a qual o homem contemporâneo pensa poder dominar o mundo, é a grade assassina do Real, pelo que importa matar o assassino. Como nos diz Helena Blavatsky «então, só então, abadanará ele a região de Asat, o falso, para chegar ao reino de Sat, o verdadeiro. (...) Antes que a Alma possa ouvir, o ser humano tem de se tornar surdo aos rugidos como aos segredos, aos gritos dos elefantes em fúria como ao sussurro prateado do pirilampo de ouro». Reparemos que n’A Voz do Silêncio, Helena Petrovna Blavatsky procurou transmitir como é que os monges tibetanos alcançavam a plenitude espiritual e a perfeita comunhão entre corpo e alma. Esta obra, editada em 1889, surge num tempo em que poucos se interessavam pela cultura oriental, mas Helena Blavatsky foi persistente na sua busca e, deixando seu país de origem – que era a Rússia –, deu início às suas indagações. Tentou diversas vezes entrar no Tibete, mas não conseguia. Até que numa das suas tentativas, passando pela Índia, conseguiu cruzar as fronteiras e entrar no país. Ela obteve o que queria com os monges, porém, não lhe foi permitido usar qualquer tipo suporte para anotar as suas experiências. Foi obrigada a decorar textos enormes. Esta obra é, então, a transcrição dos ensinamentos que aquela investigadora conseguiu reter na sua memória. Um dos ensinamentos que mais me impactou foi a necessidade de matar o desejo, mas com o cuidado de, matando-o, não deixar que ele renasça na morte. Este movimento aparentemente contraditório é muito verdadeiro. Não poucas vezes, depois de se superar dificuldades que implica cavar masmorras ao vício, as perniciosas consequências do vício ressurgem pela via da vã glória. É por isso que nestes ensinamentos se aprende que «Há só uma senda até ao Caminho; só chegado bem ao fim se pode ouvir a Voz do Silêncio. A escada pela qual o candidato sobe é formada por degraus de sofrimento e de dor; estes só podem ser calados pela voz da virtude. Ai de ti, pois, discípulo, se há um único vício que não abandonaste; porque então a escada abaterá e far-te-á cair; a sua base assenta no lodo fundo dos teus pecados e defeitos, e antes que possas tentar atravessar esse largo abismo de matéria, tens de lavar os teus pés nas águas da renúncia. Acautela-te, não vás pousar um pé ainda sujo no primeiro degrau da escada. Ai daquele que ousa poluir um degrau com seus pés lamacentos. A lama vil e viscosa secará, tornar-se-á pegajosa, e acabara por colar-lhe o pé ao degrau; e, como uma ave presa no visco do caçador sutil, ele será afastado de todo o progresso ulterior. Os seus vícios tomarão forma e puxá-lo-ão para baixo. Os seus pecados erguerão a voz (...) Os seus pensamentos tornar-se-ão um exército e levá-lo-ão, como um escravo cativo». Mais adiante adverte: «Lembra-te, tu que lutas pela libertação humana, que cada falência é um triunfo, e cada tentativa sincera ao seu tempo recebe o seu prémio. Os santos germes que brotam e crescem invisíveis na Alma do discípulo, dobram como juncos, mas não quebram, nem podem eles perder-se. Mas quando a hora soa, desabrocham». Vemos aqui um grande apelo à esperança e à perseverança, confiando que o trabalho que se começa no silêncio e na descrição, acabará por dar o seu fruto. Confia! Confia, pois o silêncio é uma entidade volátil e enigmática, que provoca meditações paradoxais, com termos que se contradizem: há alturas em que é nada e noutras é tudo; é o princípio, o vazio, mas é o fim, a plenitude; é vazio que enche e o nada que preenche... A sua ambiguidade admite todas as metáforas. É diáfano e infinito, veículo e lugar propício para ver no escuro a luz do Uno.
ELBF26

3 comentários:

  1. E o Uno ouve as nossas preces!

    “Meu Deus, dá-me a coragem de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites, todos vazios de Tua presença. Dá-me a coragem de considerar esse vazio como uma plenitude. Faz com que eu possa falar com este vazio tremendo e receber como resposta o amor materno que nutre e embala. Faz com que eu tenha a coragem de Te amar” (Clarice Lispector).
    (ELBF426)

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  2. Clarice Lispector (Chechelnyk, 10 de dezembro de 1920 — Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977) foi uma escritora e jornalista nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira — e declarava, quanto a sua brasilidade, ser pernambucana —, autora de romances, contos e ensaios, sendo considerada uma das escritoras brasileiras mais importantes do século XX e a maior escritora judia desde Franz Kafka.( da VIKIPEDIA)

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  3. Fala se tens palavras mais fortes do que o silêncio, ou então guarda silêncio.
    Eurípedes

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