quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

“O Silêncio”



  O Levantamento do Mestre
Giovanni Francesco Barbieri, Il Guercino (1591-1666)
  “O Silêncio”
Citando o filósofo e matemático grego Pitágoras:
“Escuta e serás sábio. O começo da sabedoria é o silêncio.”
Não poderia estar mais de acordo.
O silêncio é a pedra basilar do conhecimento.
É em silêncio que tudo se ouve, tudo se perscruta, tudo se interioriza, tudo se aprende, tudo se absorve, tudo se retém.
É em silêncio que podemos melhor buscar a perfeição mesmo sabendo que esta será sempre inatingível.
O silêncio é um amigo que nunca trai como disse e ensina o filósofo chinês Confúcio, dos primeiros pensadores a exaltar a virtude do silêncio e a quem é atribuído este diálogo com um discípulo:
- Eu gostaria de não mais falar.
- Se não falar mais que ensinamentos teremos a transmitir? Inquietou-se o seu discípulo Tsé-Kong.
A suprema beleza do Céu e da Terra é muda, o esquema do retorno das estações é límpido mas tácito, o princípio de desenvolvimento dos seres é inexpresso.”
O silêncio estaria assim para a linguagem como o absoluto para a finitude.
O silêncio nunca deve assim ser confundido com a ignorância.
O silêncio é sábio e crucial para reter e absorver conhecimento que nos é exterior.
Mas o silêncio também é fonte de conhecimento interior.
O silêncio, a meditação profunda, a concentração perfeita do espírito, o
alheamento total do mundo profano, do mundo dos sentidos que nos rodeia, é essencial para obter o conhecimento de nós mesmos e do Universo.
É em total silêncio que poderemos ouvir o “falador silencioso” a “voz do interior espiritual”, em que a união com o universo, como um todo, se torna mais profunda.
É em total silêncio que podemos dialogar com o nosso “eu” com uma
profundidade que só o silêncio permite.
O Chuang Tse, que juntamente com o Tao Te King, forma a base textual e filosófica da escola do pensamento Taoista, que cultiva a compaixão, moderação e humildade, fundada por Lao-Tsé (com quem Confúcio rivalizava no pensamento sobre, além do mais, o tema do silêncio), dá-nos exemplos dos chamados Mestres Silenciosos, como por exemplo o Mestre Nada (capítulo 22, 10.º Secção do Chuang-Tsé):
Brilho interrogou Nada:
Você é ou não é?
Como a sua pergunta ficou sem resposta ele examinou atentamente a aparência do mestre: uma noite sem fundo, um vazio sem medida. Examinou-o durante um dia inteiro, mas, embora olhasse com atenção, não via nada, embora ouvisse com atenção, não ouvia nada, e pondo nele as mãos, não tocava nada.
“Prodigioso chegar a tal evanescência! Eu também contenho o não ser, mas não como ele, que nada contém – nem mesmo o não ser! Ah! Como foi que ele procedeu para se fazer assim Nada!”
Tal pensamento ensina que os homens autênticos são seres evanescentes e silenciosos.
Outra passagem do Chuang-Tsé (capítulo 139) é uma metáfora em que melhor se percebe a importância do silêncio:
“Uma água adormecida é tão límpida que pode reflectir pelos de barba ou de sobrancelha de maneira perfeita. É tão uniforme que pode servir de nível a um carpinteiro. Se uma alma calma é reflectora, com mais forte razão o será para o espírito. O espírito do Santo é o espelho do Céu e da Terra, o espelho da criação. O vazio, a quietude, a insipidez, o silêncio, a inacção constituem a norma do universo e a substância da ordem das coisas.”
No pensamento taoista o sábio fala ao mesmo tempo que permanece silencioso:
A voz do silêncio.
No sufismo, corrente mística e contemplativa do Islão, também encontramos a exaltação do silêncio:
“Se a palavra que você vai pronunciar não é mais bela do que o silêncio. Não a pronuncie.”
O Silêncio é assim a base do conhecimento exterior e interior.

ELBF17

1 comentário:

  1. Se soubéssemos quantas e quantas vezes as nossas palavras são mal interpretadas, haveria muito mais silêncio neste mundo.
    Oscar Wilde

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