O Levantamento do Mestre
Giovanni Francesco
Barbieri, Il Guercino (1591-1666)
“O
Silêncio”
Citando
o filósofo e matemático grego Pitágoras:
“Escuta
e serás sábio. O começo da sabedoria é o silêncio.”
Não
poderia estar mais de acordo.
O
silêncio é a pedra basilar do conhecimento.
É
em silêncio que tudo se ouve, tudo se perscruta, tudo se interioriza, tudo se aprende,
tudo se absorve, tudo se retém.
É
em silêncio que podemos melhor buscar a perfeição mesmo sabendo que esta será
sempre inatingível.
O
silêncio é um amigo que nunca trai como disse e ensina o filósofo chinês Confúcio,
dos primeiros pensadores a exaltar a virtude do silêncio e a quem é atribuído
este diálogo com um discípulo:
-
Eu gostaria de não mais falar.
-
Se não falar mais que ensinamentos teremos a transmitir? Inquietou-se o seu discípulo
Tsé-Kong.
A
suprema beleza do Céu e da Terra é muda, o esquema do retorno das estações é
límpido mas tácito, o princípio de desenvolvimento dos seres é inexpresso.”
O
silêncio estaria assim para a linguagem como o absoluto para a finitude.
O
silêncio nunca deve assim ser confundido com a ignorância.
O
silêncio é sábio e crucial para reter e absorver conhecimento que nos é exterior.
Mas
o silêncio também é fonte de conhecimento interior.
O
silêncio, a meditação profunda, a concentração perfeita do espírito, o
alheamento
total do mundo profano, do mundo dos sentidos que nos rodeia, é essencial para
obter o conhecimento de nós mesmos e do Universo.
É
em total silêncio que poderemos ouvir o “falador silencioso” a “voz do interior
espiritual”, em que a união com o universo, como um todo, se torna mais profunda.
É
em total silêncio que podemos dialogar com o nosso “eu” com uma
profundidade
que só o silêncio permite.
O
Chuang Tse, que juntamente com o Tao Te King, forma a base textual e filosófica
da escola do pensamento Taoista, que cultiva a compaixão, moderação e
humildade, fundada por Lao-Tsé (com quem Confúcio rivalizava no pensamento
sobre, além do mais, o tema do silêncio), dá-nos exemplos dos chamados Mestres
Silenciosos, como por exemplo o Mestre Nada (capítulo 22, 10.º Secção do
Chuang-Tsé):
Brilho
interrogou Nada:
Você
é ou não é?
Como
a sua pergunta ficou sem resposta ele examinou atentamente a aparência do
mestre: uma noite sem fundo, um vazio sem medida. Examinou-o durante um dia
inteiro, mas, embora olhasse com atenção, não via nada, embora ouvisse com
atenção, não ouvia nada, e pondo nele as mãos, não tocava nada.
“Prodigioso
chegar a tal evanescência! Eu também contenho o não ser, mas não como ele, que
nada contém – nem mesmo o não ser! Ah! Como foi que ele procedeu para se fazer
assim Nada!”
Tal
pensamento ensina que os homens autênticos são seres evanescentes e silenciosos.
Outra
passagem do Chuang-Tsé (capítulo 139) é uma metáfora em que melhor se percebe a
importância do silêncio:
“Uma
água adormecida é tão límpida que pode reflectir pelos de barba ou de sobrancelha
de maneira perfeita. É tão uniforme que pode servir de nível a um carpinteiro.
Se uma alma calma é reflectora, com mais forte razão o será para o espírito. O
espírito do Santo é o espelho do Céu e da Terra, o espelho da criação. O vazio,
a quietude, a insipidez, o silêncio, a inacção constituem a norma do universo e
a substância da ordem das coisas.”
No
pensamento taoista o sábio fala ao mesmo tempo que permanece silencioso:
A
voz do silêncio.
No
sufismo, corrente mística e contemplativa do Islão, também encontramos a exaltação
do silêncio:
“Se
a palavra que você vai pronunciar não é mais bela do que o silêncio. Não a pronuncie.”
O
Silêncio é assim a base do conhecimento exterior e interior.
ELBF17
Se soubéssemos quantas e quantas vezes as nossas palavras são mal interpretadas, haveria muito mais silêncio neste mundo.
ResponderEliminarOscar Wilde