quarta-feira, 28 de março de 2018



Retrato de Camões por Fernão Gomes
em cópia de Luís de Resende


“E aqueles que por obras valorosas
Se vão da lei da morte libertando”
(Luís de Camões)


Falar daqueles que da lei da morte de se podem ir libertando por obras valorosas é falar de toda a Humanidade em sentido lato, já que a ninguém está vedada essa apetência de poder fazer o bem sem olhar a quem, e assim perpetuar a memória de si para de si, assim se queira e não nos deixemos corromper pelo meio e pelas vicissitudes mundanas.

Desde os atos mais simples do nosso dia a dia (do cidadão anónimo), até às obras mais abrangentes e universais, como é fiel exemplo a grandiosa epopeia dos Portugueses, tão bem descrita e reconstruída na narrativa Os Lusíadas de Luís de Camões, sempre poderemos, todos sem exceção, assim pretendamos nos transcendermos; e por vezes um pequeno gesto anónimo e despretensioso de fazer o bem pelo simples prazer de o fazer, associado à utilidade simples e geral perante o próximo, poderá ter mais valor intrínseco do que obras grandiosas e sumptuosas, que, mesmo estas, sendo também realizadas a bem da Humanidade, se o forem de forma que não garanta e promova, por exemplo, a equalização de acesso, sem distinção de género de raça ou classe social, nunca, por muito amplo que seja o propósito, se lhe podem comparar em valia.

Para melhor compreendermos a valia a que me refiro, teremos de a desdobrar em dois planos de apreciação: no plano físico, tratar-se-á de uma obra com potencial e efetiva perdura para além morte física do seu criador (potencialmente de cada um de nós); no plano espiritual será uma obra que, independente de perdurar fisicamente para além do seu criador, perdure na memória pessoal ou coletiva dos seus destinatários e também porventura essencialmente na memória espiritual do seu auto.

Mas em ambos o casos é o ganho espiritual para o criador o que mais interessa, e que permite que esse, por essa via, muito para além de ser recordado pelos demais, possa ser impulsionado no seu trajeto rumo ao transcendente, rumo à luz. Dito de outra forma, e em alusão à distinta obra do nosso Luís de Camões, que aqui me inspira, muito para lá da consensualidade em torno da obra Os Lusíadas, enquanto obra prima em si, e que imortaliza a memória do seu autor, há que ter em conta que, no plano espiritual, Luís de Camões certamente terá sentido um ânimo e um conforto interior indescritível perante si mesmo, pelo trabalho realizado, ora é esse ânimo e essa luz interior que devemos procurar pela nossa ação, independentemente das palmas que as plateias, por vezes conjunturais, nos granjeiem - assim saibamos estar no caminho certo, ainda que por vezes de forma um pouco isolada.

Mas afinal o que é que isto tem a ver com Maçonaria? Tudo!

É nestas águas, por vezes largas, por vezes estreitas ou sinuosas, que um Maçom se move, sendo que deve procurar estar sempre à tona, que é como quem diz sempre atento e vigilante para fazer o bem sem olhar a quem. A todo o momento nunca faltarão oportunidades de o Maçom exercitar o dever/prazer de se ir da morte libertando, que é como quem diz de se ir elevando rumo à divindade, como parte efetiva e produtiva do Universo.


Muito mais haveria a dizer sobre Luís de Camões, mas isso já todos conhecemos de outros foros, porém o que neste âmbito deve ser relevado é que, tal como ele, também o Maçom, em geral, em pequenas ou grandes empreitadas, pode até estar sujeito à incompreensão do seu tempo, mas se o seu trabalho for valoroso de per si, intrinsecamente, então permitiu já ao seu autor uma afirmação positiva da sua espiritualidade, rumo à perfeição.

ELBF05

terça-feira, 20 de março de 2018

MESTRE PERFEITO



MESTRE PERFEITO
Albert Pike, in Moral e Dogma

Mestre Hiram era um homem honesto e trabalhador, que se entregava com diligência àquilo para que era contratado, e fazia-o bem e lealmente. Nunca recebeu salário que não fosse o devido. O Trabalho e a Honestidade são as virtudes tratadas neste grau. São virtudes comuns e diárias, mas nem por isso estão fora da nossa atenção. Da mesma maneira que as abelhas não amam nem respeitam os zângãos, a Maçonaria também não respeita a folgança, nem aqueles que vivem da fantasia; e menos ainda os parasitas que vivem de expedientes. Pois aqueles que são indolentes provavelmente tornar-se-ão dissipadores e viciosos: e a honestidade perfeita, que deveria ser característica de todos, torna-se mais rara que diamantes. Trabalhar com seriedade, diligência, lealdade e honestidade, pode parecer que não merece séria análise à luz da Lei Moral; todavia estas virtudes fazem parte da personalidade de um Mestre Perfeito.
A preguiça é o túmulo do homem vivo, pois o preguiçoso é inútil para os propósitos tanto de Deus como do homem, já que é como se estivesse morto, desatento às mudanças e necessidades do mundo. Ele só vive para passar o tempo e comer os frutos da terra. Como um selvagem ou um lobo, quando chega a sua hora morre e apodrece, sem entretanto ter sido nada. Nem move nem suporta cargas. Tudo o que faz é estéril e prejudicial.
Há um vasto labor destinado ao homem que não é preguiçoso e é grande o seu caminho até chegar à Virtude. Santo Ambrósio, e seguindo o seu exemplo, Santo Agostinho, dividia cada dia nestas três partes: oito horas para as necessidades da natureza e recreio, oito horas para a caridade, prestando ajuda ao próximo, ajudando na solução dos seus negócios, reconciliando-os com seus inimigos, reprimindo seus vícios, corrigindo os seus erros, instruindo a sua ignorância, e despachando os assuntos da sua diocese; e as outras oito horas empregavam-nas no estudo e na oração.
Aos 20 anos pensamos que a vida é demasiado longa para o que temos de aprender e fazer; e que há larga distância entre a nossa idade e a do nosso avô. Mas quando temos sessenta anos, se formos afortunados para lá chegar, ou desafortunados, conforme tenhamos aproveitado ou desbaratado o nosso tempo, detemo-nos e olhamos o caminho percorrido e avaliamos a nossa conta-corrente com o tempo face a tudo o que poderíamos ter alcançado e verificamos que a vida se tornou muito mais curta do que imagináramos e desperdiçamos boa parte do nosso tempo. Então, mentalmente, lamentamos todas as horas que passamos a dormir desnecessariamente; as horas utilizadas cada dia, durante as quais a superfície flácida do cérebro não foi agitada por um único pensamento; os dias que desperdiçamos em demoras irritantes esperando algo melhor; as horas desperdiçadas em loucuras e dissipação, ou malbaratadas em estudos inúteis ou improdutivos, e admitimos, com um suspiro, que poderíamos ter aprendido, só com a metade dos anos, mas bem empregues, mais do que temos conseguido em quarenta anos como seres humanos.
Aprender e fazer! Este é o trabalho da alma. A alma cresce tanto como cresce um carvalho. Conforme a árvore toma o carbono do ar, o vapor de água, a chuva e a luz, e o alimento que a terra proporciona às suas raízes e por sua misteriosa química transmuta em seiva e fibra, em madeira e em folha, flor e fruto, cor e perfume, assim a alma absorve o conhecimento e por uma química divina torna o conhecimento na própria substância, e cresce de dentro para fora com força e poder próprios, como aquilo que se encontra escondido num grão de trigo.
A alma, como o corpo, tem os seus sentidos, que podem ser cultivados, aumentados e refinados, da mesma maneira que o corpo cresce em estatura e proporção; e aquele que não pode apreciar uma boa pintura ou escultura, um belo poema, uma doce harmonia, um pensamento heróico ou uma acção desinteressada, ou aquele a quem a sabedoria da filosofia se transforma numa estupidez sem graça e incompreensível e as mais elevadas verdades lhe são de menos importância do que o preço do lote de algodão ou da promoção dos perversos aos cargos públicos, unicamente vive ao nível da mediocridade e sob o mais imperfeito desenvolvimento da própria alma.
Dormir pouco e estudar muito, falar pouco, e escutar e pensar muito, aprender que somos capazes de fazer, e então realizar, com seriedade e vigor, qualquer coisa que se nos seja solicitado por dever e pelo bem dos nossos semelhantes, do nosso país e da humanidade – estes são Deveres de todo o maçom que deseje imitar o mestre Hiram. O dever de um maçom como homem honesto, sincero e simples. Requer de nós honestidade nos contratos, sinceridade nas suas declarações, sinceridade ao negociar e lealdade ao actuar.
Nunca mintas, nem em pequeno, nem em grande, nem no essencial, nem no circunstancial, nem por palavras, nem por actos: isto é, não simules o que é falso, não encubras a verdade, e faz com que o alcance do que afirmas ou do que negas seja entendido pelo teu interlocutor, pois aquele que engana o comprador ou o vendedor de forma aparentemente verdadeira, mas através de artifícios que não o deixem entender o que verdadeiramente está em causa, é mentiroso e ladrão. Um Mestre Perfeito deve evitar aquilo que leva ao engano, da mesma maneira que evita o que é falso.
Dá os teus preços em conformidade com o verdadeiro valor do bem estabelecido de acordo com a voz corrente e a avaliação do mais sábio e piedoso dos homens, experimentado na manufactura e na fábrica; e que o teu ganho seja tal que, sem escândalo, seja legítimo para pessoas colocadas nas mesmas circunstancias.
No intercâmbio com os outros, não faças tudo o que possas fazer legalmente, outrossim, mantém uma margem dentro da tua esfera de poder; e, posto que há uma latitude no ganho ao comprar e ao vender, não tomes até ao último centavo que te seja permitido pela lei, ou que tu aches que te está permitido, pois ainda que seja legal, pode não ser o mais correcto; e aquele que obtém tudo o que pode este ano, no ano seguinte será tentado a ir mais além, para além mesmo do que é legal.
Não permitas a nenhum homem, por sua pobreza, tornar-se opressor e cruel no seu negócio, mas ao contrário, com calma, modéstia, diligência e pacientemente encomenda a Deus o seu património, e favorece o seu ganho deixando-lhe a ele o êxito.
Não demores o pagamento ao teu contratado, pois cada dia de atraso do pagamento para além do prazo é injusto e falho de caridade. Paga-lhe segundo o combinado, tendo em conta as suas necessidades.
Honra religiosamente todas as promessas e alianças, mesmo que te deixem em desvantagem e ainda que venhas a concluir que poderias ter conseguido um pacto melhor. Não permitas que um acordo venha a ser alterado por qualquer incidente posterior. Que nada te faça romper a tua promessa, a não ser que se converta em ilegal ou impossível, isto é, que em tua natureza ou em tua condição civil te encontres sob o poder de outro; ou que seja intoleravelmente prejudicial para ti mesmo e de nula utilidade para o outro; ou que tenhas o acordo da outra parte.
Não permitas a um homem tomar salário ou jorna por um trabalho que não é capaz de fazer, ou que provavelmente não é capaz de acometer ou de governar apropriadamente, com desembaraço e de forma proveitosa. Não permitas a ninguém usar para seu benefício aquilo que Deus, por especial misericórdia, ou a República, dispuseram para o bem comum, pois isso é contrário à Justiça e à Caridade. Quando tal sucede estamos incumprindo o mandamento de fazer aos outros o mesmo que queremos que nos façam a nós próprios, pois estamos a enriquecer à custa da ruína de outrem.
Não é honesto receber nada de outro sem lhe dar algo em troca. O jogador que ganha o dinheiro de outro é desonesto. Não deveria existir tal coisa como as apostas e o jogo entre maçons, pois nenhum homem honesto deveria desejar a troco de nada o que pertence a outro. O mercador que vende um artigo de má qualidade ao preço do de boa qualidade e o especulador que aumenta a sua fazenda explorando as desgraças e necessidades do próximo não são honestos, mas sim gente ruim, ignóbil e indigna da imortalidade.
Viver, tratar e actuar honradamente deveria ser o mais forte desejo de todo o Mestre Perfeito, de forma que quando lhe chegue a hora da morte, possa dizer, e assim o julgue a sua consciência, que nenhum homem é mais pobre porque ele é mais rico, que o que tem foi ganho honestamente, e que ninguém possa apresentar-se a Deus e reclamar pelas leis da Equidade administrada no seu grande Tribunal, que a casa em que morremos, a terra que legamos aos nossos herdeiros, o dinheiro que deixamos aos vivos que têm o nosso apelido, é seu e não nosso. Tudo pertence a Deus, nós somos tão-somente meros depositários. Deus é justo. E decretará uma compensação total e adequada para aqueles a quem espoliamos, a quem defraudamos e para aqueles de quem tomamos algo sem lhes darmos contrapartida justa.

Tem cuidado, pois, e não recebas um salário, aqui ou em qualquer outra parte, que não tenhas merecido! Pois se assim o fazes, prejudicas alguém, apropriando-te de algo que no Tribunal de Deus pertence a outro, e seja o que for que tomes para ti, seja saúde, seja honrarias, influência, reputação ou afecto, terás de pagar a contrapartida, se não for neste mundo, será no outro.
(tradução livre de Agostinho Costa)

LIBERDADE, IGUALDADE, FRATERNIDADE

Henri Paul Perrault - Tomada da Bastilha

LIBERDADE, IGUALDADE, FRATERNIDADE

Três palavras que trazem na sua essência os princípios mais valiosos da Nossa Augusta Ordem.
De acordo com Albert Pike, em Moral e Dogma, “do ponto de vista político, existe apenas um princípio: a soberania da pessoa sobre ela mesma. Esta soberania de uma pessoa sobre ela mesma é chamada de LIBERDADE. Aonde duas ou muitas destas soberanias se associam começa o Estado. Mas não existe abdicação nesta associação. Cada soberania reparte uma certa porção de si mesma para formar o direito comum. Tal porção é a mesma para todos. Existe contribuição igual de todos para a soberania conjunta. Esta identidade de concessão que cada um de nós faz para todos é IGUALDADE. O direito comum não é nada mais e nada menos do que a protecção de todos, derramando seus raios em cada um. E a protecção a cada um, vinda de todos, é a FRATERNIDADE. A liberdade é o topo e a igualdade é a base
Se exercermos a nossa actividade em harmonia coma nossa organização psicológica no meio onde nos inserimos e tendo como salvaguarda o direito que nos assiste de não sermos impedidos, senão pelos interesses legítimos e superiores da humanidade, de desenvolvermos a unidade que espiritualmente constituímos, temos a verdadeira e exacta noção do que seja LIBERDADE.
Todos deverão ter igualdade de direitos à vista da Lei, todos independentemente da condição financeira, etnia cargo, hereditariedade, religião ou outro qualquer factor. Os Homens nascem livres, com direitos iguais de oportunidade e de justiça as únicas distinções que a Nossa Augusta Ordem admite são o mérito, o talento, a sabedoria, a virtude e o trabalho. A IGUALDADE que combate a discriminação é um dos pilares indestrutíveis da Maçonaria.
No Dicionário podemos obter a definição de FRATERNIDADE como:
- amor ao próximo;
- irmandade: relação de parentesco entre irmãos; relação afectuosa
Definição que traduz de forma exemplar outro dos pilares da Nossa Ordem, para a qual devemos estar sempre prontos a sustentá-lo de coração aberto sempre que tratamos alguém de Irmão.

A nossa experiência de pessoas livres ensina-nos a aprender. Aprendi, até agora, muito pouco, o bastante porém, para saber que há tempo e espaço para sermos solidários e para (re)inventarmos a esperança e para erguermos as bandeiras da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade. Basta acreditar. Basta rasgar os horizontes do conhecimento e construir as avenidas da solidariedade e da compreensão. Poderemos, então caminhar para uma aproximação da perfeição. É preciso saber curar as cegueiras das paixões pobres e comuns que nos enevoam a vista e continuar a trabalhar a pedra.

ELBF02

sábado, 17 de março de 2018

“Eros e Psique”



“Eros e Psique”

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
Do além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino –
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão , e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

Fernando Pessoa

sexta-feira, 16 de março de 2018

O DEVER DO SILÊNCIO


As Guardiãs do Silêncio
Victor Silva Barros


O DEVER DO SILÊNCIO
Na bíblia, podemos verificar que é no silêncio que escutamos o nosso Deus.
Em todos os textos que tive a oportunidade de estudar sobre o dever do silêncio, verifico que o ruído atrapalha-nos a escuta física, assim como a escuta da gnose, o ruído a que me refiro, não se trata da poluição sonora, mas o ruído do nosso primeiro inimigo, aquele que todos observamos no espelho, no dia da nossa iniciação no primeiros grau. Este é, e será sempre o ruído mais ensurdecedor com que teremos de conviver até partirmos para oriente eterno, é aquele que deve ser talhado até ficar como uma pedra polida, até ficar como o mais sublime
som da gnose. No entanto, repare-se que o mundo está cheio de barulhos: veículos, a voz de multidões, o barulho das cidades, os animais, as arvores, etc, é um constante frenesim para a nossa consciência, pois no acessório, tudo atrapalha, tudo chama a nossa atenção, tudo nos distrai. Mas com o estudo e conhecimento, conseguiremos abstrair-nos deste ruído, obteremos o dito silêncio, conseguiremos acalmar e focar no mais importante, poderemos escutar o verdadeiro silêncio, instrutor da sapiência divina, aquele que interessa ouvir.
Várias culturas têm o hábito de praticar esta fantástica ferramenta, o dever de ficar em silêncio durante momentos, torna-nos mais disciplinados, clarifica-nos a mente e aumenta-nos a clarividência.
A temporada em que estamos em completo silêncio desde aprendizes a companheiros, assim como na qualidade de mestres, a maior parte do tempo, onde me incluo, deve ser constante e profundo no nosso Ser, no nosso Eu, deve ser como o ato de revelação da Luz, para que possamos cumprir algumas premissas do inquérito de S. João, devemos então enterrar os vícios e exaltar as virtudes, sendo o dever do silêncio uma das maiores virtudes que o ser humano possui, é aqui que nós mestres, devemos mostrar o nosso verdadeiro “Eu”, é esta a subida da escada de Jacó. Falar demais, sem cuidado, não é bom. Quando paramos de falar e ficamos em silêncio, passamos a ouvir com atenção. O silêncio aprofunda o nosso relacionamento com Deus e com os outros. Na bíblia em Eclesiastes, versículo 5, paragrafo 2 e 3, diz; “Não seja precipitado de lábios, nem apressado de coração para fazer promessas diante de Deus. Deus está nos céus, e você está na terra, por isso, fale pouco. Das muitas ocupações brotam sonhos; do muito falar nasce a prosa vã do tolo.” Em Tiago, versículo 3, no parágrafo 2º, diz, “Todos tropeçamos de muitas maneiras. Se alguém não tropeça no falar, tal homem é perfeito, sendo também capaz de dominar todo o seu corpo.”
Como Mestres Maçons, todos interiorizamos que a oportunidade de usar a palavra, deve ser, além de extrema importância, carregada de sabedoria e usada unicamente quando é absolutamente indispensável, correndo o risco de usarmos a palavra para fazermos ruído naqueles que nos escutam.
A principal lição do dever do silêncio que devemos retirar, enquanto Mestres Maçons é que a palavra deve ser usada com mestria. Mas como em quase tudo na vida, cada um é como cada qual e todos evoluem ou podem fazê-lo. Há aqueles que quase não precisaram de estudar esta lição, por temperamento são pessoas caladas, reflexivas, ponderadas, que raramente falam e, quando o fazem, são, precisamente pela raridade da situação, muito atentamente ouvidos. Há pessoas que quase nunca falam a despropósito, mas algumas vezes, precisamente pelo seu particular zelo na selecção das palavras deixam de dar contributos preciosos, se partilhados no momento próprio. Há outros que, pelo contrário, são de natureza interventiva, não deixam de dar a sua opinião, não temem estar em minoria, entendem que participar, implica opinar, contribuir, ainda que por vezes apenas marginalmente. Esses correm o risco de se equivocar algumas vezes, de opinar sem o conhecimento ou a ponderação adequada, de darem a impressão de que, sobretudo, gostam é de ouvir a própria voz, estes tendem a ser a maioria.
Há um encontro entre o dever, o dever de ser, de ser do silencio com os deveres enquanto homens, entes estão na dignidade, na dignidade de sermos humanos, diferentes de todas as classes animais, este encontra-se no valor de que se reveste tudo aquilo que não tem preço, ou seja, não é passível de ser trocado por algo que possa parecer idêntico. Dessa forma, a dignidade é uma qualidade inerente aos seres humanos enquanto entes morais: na medida em que exercem de forma autónoma a sua razão prática, os seres humanos constroem distintas personalidades humanas, cada uma delas absolutamente individual e insubstituível.
Concludentemente, a dignidade é totalmente inseparável da autonomia para o exercício da razão prática, e é por esse motivo que apenas os seres humanos se sobrevestem de dignidade, é por este motivo, o da dignidade humana que o dever do silencio deverá ser uma constante de trabalho afincado na profundidade no nosso Ser, do nosso Eu.
Há várias escrituras no passado que declararam, “As palavras terminam onde começa a verdade”.

ELBF18

terça-feira, 13 de março de 2018

CRISTO

O Encoberto
Lima de Freitas

“CRISTO”

O seu Nascimento era desejado. Desejado e esperado, diz-se.
Desejado, mas não por todos.
Cristo, nasce sob o signo do Sacrifício.
Nasce para redimir toda a Humanidade, diz-se.
Contudo, a sua vinda, é inexplicavelmente, temida por alguns.
E é nesta aparente contradição, que reside um imenso Mistério.
Cristo, vem pagar um Karma.
Não o seu, obviamente. Cristo vem "Morrer", por outrem.
Por quem? E Onde?
Quem cometeu um tão terrível erro, que obrigou a que Um Cristo, descesse à Terra, para o redimir?
As Leis do Universo, são claras e imutáveis. Podemos segui-las ou podemos ignorá-las.
O Livre Arbítrio é nosso.
Algures no nosso Passado, alguém se julgou Deus e as consequências dos seus actos foram tão trágicas, o Karma gerado, foi tão pesado, que nunca seria saldado, sem a vinda de Cristo.
No dia em que soubermos responder a esta questão, perceberemos a razão do encobrimento de toda História.
Perceberemos a razão, porque Portugal teve que ser criado
Perceberemos, quem o fundou e sob que pressupostos.
Desvendaremos os Segredos, os Rituais, as Iniciações e porque tiveram que existir ao longo dos Séculos.
Nesse dia, seremos capazes de ver claramente, não o nevoeiro, mas a encruzilhada, em que um dos caminhos, nos conduzirá inevitavelmente ao abismo.

E eu receio, que quando esse dia chegar, a maioria escolha de novo o Abismo.


ELBF13

segunda-feira, 12 de março de 2018

Albert Pike




Albert Pike
Conhecido por reestruturar o REAA
Nascimento 29 de Dezembro de 1809, Boston, EUA
Morte          2 de abril de 1891 (81 anos), Washington, EUA
Nacionalidade:Estados Unidos
Ocupação   Advogado, Maçom, Escritor
Magnum opus: Moral & Dogma
Escola/tradição    REAA
Vida
Pike nasceu em Boston, Massachusetts, filho de Ben e Sarah (Andrews) Pike e descendentes de John Pike, o fundador de Woodbridge (Nova Jérsei). Passou sua infância em Byfield e Newburyport, duas pequenas cidades de Massachusetts. Frequentou a escola em Newburyport e Framingham, até 15 de Agosto de 1825, quando ele passou nos exames de admissão da Universidade de Harvard, porem ele escolheu não frequentar a faculdade, optando por um programa de auto educação e tornando-se, posteriormente, professor em Gloucester, North Bedford, Fairhaven e Newburyport.

Em 1831, Pike deixou Massachusetts e viajou para o oeste, primeiro parando em St. Louis e depois passando por Independence, em Missouri. Lá, juntou-se a uma expedição que partiu para Taos, Novo México, para caçar e tratar de comércios. Durante a excursão Pike perdeu o controle do seu cavalo, que soltando-se das rédeas fugiu, forçando Pike a caminhar os restantes 800 quilómetros até Taos. Depois disso, participou de uma expedição prendendo para o Llano Estacado, Novo México e depois Texas. Parando o mínimo pelo caminho, viajou cerca de 2000 quilômetros (970 pé), finalmente chegando a Fort Smith, seu destino.

Maçonaria
Entrou para a Independent Order of Odd Fellows em 1840, e logo em seguida juntou-se a uma Loja Maçónica e tornou-se extremamente activo nos assuntos da organização. Dez anos depois, já sendo um maçom do Real Arco e Cavaleiro Templário no Rito de York, foi convencido por Albert Mackey a ingressar no Rito Escocês indo do 4º ao 32º grau. Em 1885 começou a organizar o Rito Escocês e terminou o trabalho em apenas dois anos, em 1887. O trabalho foi visto como perigosamente rápido e pediu-se que ele levasse mais tempo, revendo o ritual. Mas o empenho garantiu que ele fosse investido do grau 33 em 1858 e um ano depois foi eleito Soberano Grande Comendador da jurisdição do sul do Rito Escocês em 1859. A revisão do rito foi interrompida pela Guerra Civil Americana, além disso o Supremo Conselho, que tinha sede em Charleston, mudou sua sede para Washington, DC em 1870. Em 1871 publica seus estudos sobre todos os graus do Rito Escocês no livro intitulado Moral e Dogma do Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria, ou simplesmente Moral e Dogma, tendo tido varias revisões e republicações até a edição oficial definitiva, em 1884. A implantação prática dos estudos foi executada de imediato servindo até para outros Supremos Conselhos.

Pike ainda é considerado, nos Estados Unidos, como um eminente e influente franco-maçom, principalmente na jurisdição do sul, do Rito Escocês. No Brasil ele exerce sua influencia de modo mais implícito, pela sua participação na construção do Rito Escocês, o rito mais difundido na maçonaria brasileira.

Seu maior discípulo foi Dom Elias I, o mais jovem 33 da história brasileira e por isso perseguido pela ala conservadora, que por inveja e ganância contrataram ninjas para assassinar Dom Elias I, o Judeu (como era mundialmente conhecido).

Obras
Pike escreveu uma vasta bibliografia. São mais de trinta livros sobre maçonaria, esoterismo, filosofia, assuntos militares e poesia.

Do Autor
Morals and Dogma of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry
Beyond the Law : The Religious and Ethical Meaning of the Lawyer's Vocation - Albert Pike
Book of the Words - Albert Pike
1909 - Digest Index of Morals & Dogma
Esoteric Work of the 1 Degree - 3 Degree, According to the Ancient and Accepted Scottish Rite
1858 - Evil Consequences of Schisms and Disputes for Power in Masonry and of Jealousies and Dissensions Between Masonic Rites
Ex Corde Locutiones: Words from the Heart Spoken of His Dead Brethren
1900 - General Albert Pike's Poems
1883 - Historical Inquiry in Regard to the Grand Constitutions of 1786
Hymns to the Gods and Other Poems
Indo-Aryan Deities and Worship As Contained in the Rig-Veda
Irano-Aryan Faith and Doctrine As Contained in the Zend-Avesta
Lectures of the Arya
Lectures on Masonic Symbolism and a Second Lecture on Symbolism or the Omkara and Other Ineffable Words
Legenda and Readings of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry

(da Vikipédia)

MESTRE SECRETO

Tábuas da Lei com o Bezerro de Ouro,
afrescos por Cosimo Rosselli (1439-1507), Itália

MESTRE SECRETO
Albert Pike, in Moral e Dogma
A Maçonaria é uma sucessão de alegorias que mais não são do que meros veículos de grandes lições de moral e filosofia. Apreciarás cada vez mais o seu espírito, objecto e propósitos à medida que avançares nos vários graus, que virás a descobrir serem como um vasto sistema, completo e harmonioso.
Se ficaste decepcionado com os três primeiros graus, tal qual os recebeste, e se te pareceu que os resultados não estiveram à altura do prometido, que as lições de moralidade não são novas, que a instrução é rudimentar e que os símbolos são explicados de maneira insuficiente, lembra-te que as cerimónias e lições desses graus foram-se abreviando e caindo na mediocridade durante séculos para se acomodarem às frequentemente limitadas memória e capacidade do Mestre Instrutor assim como ao intelecto e necessidades do Aluno Iniciado. Lembra-te que nos chegam de uma época em que os símbolos se empregavam, não para revelar, mas sim para ocultar; quando a aprendizagem mais comum era reservada a uma minoria seleccionada e os mais simples princípios de moral pareciam verdades recém-descobertas. E que esses graus antigos e simples agora aparecem como as colunas arruinadas de um templo druida sem tecto, em sua tosca e mutilada grandeza.
De igual modo, muitas partes foram corrompidas pelo tempo ou desfiguradas por adições modernas e interpretações absurdas. Estes primeiros graus não são mais do que o acesso ao grande Templo Maçónico, a tríplice colunata do pórtico.
Deste o primeiro passo através do seu umbral, o primeiro passo na direcção do santuário interior e do coração do templo. Encontras-te no caminho que conduz ao alto da montanha da Verdade, dependendo da tua discrição, obediência e fidelidade avançares ou permaneceres parado.
Não imagines que te converterás num maçom aprendendo só o que comummente se denomina “o trabalho”, ou por simplesmente te familiarizares com as nossas tradições. A Maçonaria tem uma história, uma literatura, uma filosofia. As suas alegorias e tradições ensinaram-te muito, mas é muito o que deve ser procurado noutras partes. As correntes do conhecimento que agora correm transbordantes e amplas devem ser percorridas de novo até aos mananciais que brotam das suas fontes no passado remoto, e ali encontrarás a origem e o significado da Maçonaria.
Umas escassas lições de arquitectura, umas poucas máximas de moral admitidas universalmente e algumas tradições menores cujo significado real é desconhecido ou mal interpretado, não satisfarão aquele que busca a verdade maçónica com seriedade. Permiti a quem com estas se contente que não pretenda ascender mais alto. Mas aquele que deseje compreender as proporções harmónicas e formosas da Maçonaria deve ler, estudar, reflectir, fazer escolhas e discernir. O verdadeiro maçom é um ardente buscador do conhecimento, e sabe que tanto os livros como os antigos símbolos da Maçonaria são navios que descem cheios de riquezas intelectuais do passado e que na carga destes bergantins viajantes se inclui muito daquilo que lança luz sobre a história da Ordem e justifica a sua pretensão de ser reconhecida como benfeitora da humanidade, nascida no mesmo berço da raça humana.
O Conhecimento é o mais genuíno e real dos tesouros humanos, pois é Luz, como a Ignorância é Obscuridade. É a essência do desenvolvimento da alma humana, e a aquisição de Conhecimento faz crescer a alma, que ao nascer nada conhece e portanto, em certo sentido, pode dizer-se que nada é. É a semente que tem a capacidade de crescer, de adquirir Conhecimento e, ao adquiri-lo, de desenvolver-se, como a semente se transforma no rebento, na planta e na árvore. Não precisamos de nos deter no argumento comum de que pela aprendizagem o homem supera o homem naquilo em que o homem supera as bestas; que pela aprendizagem o homem ascende aos céus, à esfera divina, onde não pode chegar fisicamente, e às suas motivações. Contemplemos a dignidade e a excelência do conhecimento e a aprendizagem naquilo a que a natureza mais aspira, que é a imortalidade ou continuidade. Com efeito, a isso tende a gestação, a construção de casas e a constituição de famílias; a isto tendem os edifícios, os cimentos, e os monumentos; o desejo de memória, de fama e de celebração, e, por efeito da força latente, a vontade de todos os outros desejos. Que a nossa influência nos sobreviva e seja uma força viva quando estivermos nas nossas tumbas; e que os nossos nomes não sejam somente lembrados, mas também que os nossos trabalhos sejam lidos, que se fale dos nossos actos, que os nossos nomes sejam mencionados quando estivermos mortos, como evidências de que essa influência permanece e governa, rege e controla alguma porção da humanidade e do mundo, esta é a aspiração da alma humana. “Então veremos quanto mais duradouros são os Monumentos do génio e da aprendizagem do que os monumentos do poder ou de labores manuais. Pois não continuam os versos de Homero, vinte e cinco séculos ou mais sem a perda de uma só sílaba ou letra, tempo durante o qual infinitos palácios, templos, castelos e cidades se desmoronaram ou foram demolidos? Não é possível termos hoje as verdadeiras imagens ou estátuas de Ciro, Alexandre ou César, nem dos reis ou grandes personagens de épocas muito posteriores, pois os originais não podem perdurar, e as cópias não podem senão perder vida e verdade. Mas as imagens do génio e conhecimento humanos permanecem nos livros, isentas dos malefícios do tempo e susceptíveis de renovação perpétua”. Tão pouco é correcto chamar-lhes imagens, pois todavia são criadoras e implantam a sua semente na mente de outros, provocando e causando infinitas acções e opiniões nos tempos futuros; de forma que se a invenção do barco foi considerada tão nobre, pois leva riquezas e bens de lugar a lugar e liga as mais remotas regiões para participarem em comum dos frutos, quanto mais há que exaltar as letras, que, como os barcos, navegam através dos vastos oceanos do tempo e fazem com que épocas muito distantes participem da sabedoria, ilustração e invenções, umas das outras.
Aprender, adquirir conhecimento, ser sábio, é uma necessidade para toda a alma verdadeiramente nobre; ensinar, comunicar esse conhecimento, compartilhar essa sabedoria com os outros e não esconder esse património a sete chaves, nem colocar uma sentinela para afugentar o necessitado, é igualmente um impulso de natureza tão nobre como o mais meritório trabalho humano.
Havia uma pequena cidade”, disse o Pregador, o Filho de David, “e poucos homens dentro dela; e chegou um grande Rei e a cercou, e construiu grandes catapultas contra ela. Mas aconteceu que havia um homem pobre e sábio, e graças à sua sabedoria salvou a cidade e sem embargo ninguém recorda esse pobre homem. E ainda que a sabedoria seja maior que a força, a sabedoria desse homem foi depreciada e as suas palavras não foram ouvidas.” Se te acontecesse, irmão meu, que prestasses um bom serviço à humanidade e fosses recompensado com a indiferença e o esquecimento, não desanimes, recorda o conselho do Rei sábio. “Pela manhã semeia a semente, e pela tarde não escondas a mão, pois não sabes qual prosperará, se esta ou aquela outra, ou se as duas serão igualmente boas”. Planta a tua semente sem te importar quem a colha. Aprende que podes ser capaz de fazer o bem, e fá-lo porque é o correcto, encontrando no mesmo acto prémio suficiente, recompensa e retribuição.
Alcançar a verdade e servir a nossos semelhantes, à nossa nação e à humanidade, isto é o mais nobre destino do homem. Depois e durante toda a vida este deve ser o teu objectivo. Se desejares perseverar nele, avante. Se tens outros propósitos menos nobres e te contentas com voos menos elevados, detém-te. Deixa a outros a escalada das alturas e à Maçonaria completar a sua missão. Se vais avançar, prepara o teu fígado para a luta! Pois o caminho é largo e trabalhoso. O prazer, sempre atractivo, chamar-te-á por um lado, e por outro a indolência convidar-te-á a dormir entre as flores. Prepara-te, pelo segredo, pela obediência e pela fidelidade para resistir aos encantos de ambos!
O Segredo é indispensável a um maçom seja qual for o seu grau. Esta é a primeira e quase a única lição ensinada ao Aprendiz Iniciado. As obrigações que cada maçom assumiu perante todo o maçom vivo exige-lhe que ponha em prática os mais sérios e exigentes deveres face a essas pessoas que são desconhecidas para nós até solicitarem a nossa ajuda e devem ser cumpridas inclusive com o risco da nossa própria vida, ou os nossos solenes juramentos seriam destruídos e incumpridos e seríamos tidos por falsos maçons e homens indignos de confiança. E essas obrigações ensinam-nos quão profunda loucura seria entregar traiçoeiramente os nossos segredos àqueles que, não ligados a nós por nenhum laço de obrigação mútua, ao obtê-los poderiam reclamar a nossa ajuda em caso de extrema necessidade, quando a urgência da ocasião não nos concede tempo para averiguações e o peremptório mandato da nossa obrigação nos obriga a cumprir o nosso dever de irmão com um indigno impostor.
Os segredos do nosso irmão, quando nos são comunicados, devem ser sagrados, se estão de acordo com a lei da nossa nação. Já que não estamos obrigados a guardar nenhum segredo se for contrário a uma lei que seja uma verdadeira lei, isto é, que tenha emanado da única fonte de poder, o Povo. Perante os éditos que dimanam unicamente da vontade arbitrária de um poder despótico, contrário à Lei de Deus e à Grande Lei da Natureza, ou vão contra os direitos inerentes ao homem, ou que violam a liberdade de pensamento, a liberdade de expressão ou a liberdade de consciência, é legítimo rebelar-se contra e lutar pela derrogação.
Pois a obediência da Lei não significa submissão à tirania, nem que, por um dissoluto sacrifício de cada nobre sentimento, devamos oferecer ao desportismo a homenagem da adulação. Por cada nova vítima que cai, podemos elevar a nossa voz cada vez mais alto. Podemos cair perante os pés orgulhosos, podemos mendigar, como prémio, a honra de beijar a mão ensanguentada que se levantou contra os indefesos. Podemos fazer mais: podemos trair o altar e o sacrifício, e implorar a Deus que não suba ao Céu tão cedo. Podemos fazer isto, e disso dá conta a triste recordação do que seres de forma e alma humana fizeram. Podemos dominar as nossas línguas para que digam falsidades, e nossas feições para que se acomodem ao semblante de apaixonada adoração que desejamos mostrar, e os nossos joelhos cairão prostrados. Mas não podemos dominar o nosso coração. Aí a virtude tem uma voz que não pode ser abafada por hinos ou aclamações. Nele, os crimes que louvamos como virtudes são mesmo assim crimes, e aquele a quem fizemos deus é o mais desdenhável da espécie humana, se, desde logo, não nos sentirmos nós os seres mais desprezíveis.
Mas essa lei que é a expressão da justa vontade e juízo do povo, representa a todos e cada um dos indivíduos. Invoquemos a lei de Deus e a grande Lei da Natureza, invoquemos o direito puro e abstracto mas temperado pela necessidade e interesse gerais – mesmo que contraposto ao interesse privado dos indivíduos -, essa Lei é obrigatória para todos, pois é a obra de todos, a vontade de todos, pois é o solene juramento de todos, perante o que não admite apelação possível.
Neste grau, meu irmão, deves especialmente aprender o dever de obediência a essa lei. Há uma lei verdadeira, conforme à razão e à natureza, que impregna tudo, invariável, eterna, que apela ao cumprimento do dever, a abster-se da injustiça, e que nos chama com voz irresistível cuja autoridade se sente onde quer que seja ouvida. Esta lei não pode ser abolida ou desprezada, nem as suas sanções podem ser alteradas por qualquer lei humana. Todo um senado, todo um povo, não podem desobrigar-se desta obrigação suprema. Não precisa de comentador para se tornar claramente inteligível, nem significa uma coisa em Roma e outra em Atenas, nem uma coisa agora e outra nos tempos futuros; outrossim, em todos os tempos e em todas as nações é, foi e será una e eterna; una como Deus, seu grande Autor e Promulgador, Soberano Comum de toda a humanidade, que é o próprio Uno. Nenhum homem pode desobedecer-lhe sem trair o seu próprio arbítrio e repudiar a sua própria natureza; e neste mesmo acto ele infligirá a si próprio o mais severo e justo dos castigos, ainda que escape do que terrenamente se considera um castigo.
É nosso dever obedecer às leis do nosso país, e cuidar que nem o prejuízo ou a paixão, a imaginação e o afecto, o erro e a ilusão sejam confundidos com a cordialidade. Nada mais habitual do que pretender sensatez em todos aqueles actos que são públicos e portanto não podem ser ocultados. Os desobedientes recusam submeter-se às leis, e em muitas ocasiões simulam ser judiciosos; e assim a desobediência e a rebelião convertem-se em cordialidade na qual não há nem conhecimento, nem fé, nem verdade, nem caridade, nem razão, nem religião. A sensatez está unida às leis. O Direito ou a Consciência da verdadeira razão levada à prática produz actos morais. Enquanto que a consciência perversa, baseada na imaginação ou nos afectos, produz princípios anómalos e defeituosos. Não é suficiente que a Consciência seja ensinada pela natureza, mas sim que deve ser ensinada por Deus, e portanto constituem as regras gerais de governo da Consciência; mas a necessidade também tem muito que dizer no tratamento dos assuntos humanos. E essas ideias gerais, como um grande rio que se divide em pequenas correntes, convertem-se em riachos e regueiros pela Lei e o Costume, pelas sentencias e acordos dos homens, e pelo despotismo absoluto da necessidade, que jamais permitirá que nem a justiça perfeita e abstracta nem a equidade sejam os únicos critérios de governo civil num mundo imperfeito; mas esse imperativo deve reflectir-se em leis que sejam as mais benéficas possíveis para o maior número possível de cidadãos.
Quando elevares um juramento a Deus, cumpre-o com presteza. Mais vale não jurar que jurar e não cumprir. Não sejas ligeiro com a tua boca, e não permitas ao teu coração ser precipitado em pronunciar nada perante Deus, pois Deus está no Céu, enquanto que tu estás na Terra; por isso faz com que as tuas palavras sejam poucas. Sopesa bem o alcance da tua promessa, mas uma vez que a promessa e o juramento tenham sido feitos recorda que o que é desleal com os seus compromissos é desleal à família e aos amigos, ao seu país e ao seu Deus.
Fides servanda est: a fé deve ser sempre mantida nas dificuldades, era uma máxima e axioma incluído entre os pagãos. O virtuoso romano afirmava: não permitais aquilo que parece conveniente mas é vil, ou se for vil, não permitais que pareça conveniente. Que pode haver na assim chamada conveniência de valioso, se te priva da tua reputação de bom homem e te rouba a tua integridade e a tua honra? Em todas as épocas, aquele que incumpre a sua palavra empenhada foi rotulado de perverso. A palavra de um maçom, como a palavra de um fidalgo nos tempos da cavalaria, uma vez dada deve ser sagrada; e o juízo dos seus irmãos sobre aquele que viola o seu juramento deve ser severo como os juízos dos censores romanos contra aquele que violava o seu. A Boa-fé é reverenciada entre os maçons como o era entre os romanos, que colocaram a sua estátua no Capitólio, junto à de Júpiter Máximo Óptimo; e nós, como eles, sustentamos que deve escolher-se a calamidade antes que a maldade, e como os cavaleiros antigos, dever-se-ia morrer antes que se fosse desonrado.
Sê leal, portanto, às promessas que fazes, aos compromissos que tomas, e aos votos que assumes, pois faltar-lhes é mesquinho e desonroso. Sê leal à tua família, e desempenha todos os compromissos de um bom pai, um bom filho, um bom marido e um bom ser humano. Sê leal aos teus amigos, pois a verdadeira amizade não só tem por fim sobrepor-se a todas as vicissitudes da vida, mas também a perdurar eternamente; nem deve unicamente aguardar o choque de opiniões em conflito e o rugido das revoluções que agitam o mundo, mas também perdurar quando os céus tenham deixado de existir e emanar renascida das ruínas do Universo. Sê leal ao teu país, e antepõe a sua dignidade e honra a qualquer popularidade e honra para ti mesmo, olhando por seus interesses mais que pelo teu próprio e preferindo-o ao prazer e aplauso do povo, que sempre variam em função do seu próprio bem-estar. Sê leal à Maçonaria, que é o mesmo que ser leal aos mais elevados interesses da humanidade. Trabalha, com o o ensino e o exemplo, para elevar a qualidade do carácter maçónico, para aumentar a sua esfera de influência, para divulgar os seus ensinamentos e juntar todos os homens no Grande Apostolado da Paz, da Harmonia e da Boa Vontade na Terra e entre os Homens; no Grande Apostolado da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade.
A Maçonaria é útil a todos os homens: aos ilustrados, porque lhes dá oportunidade de pôr o seu talento ao serviço dos assuntos merecedores da sua atenção; aos iletrados, porque lhes oferece sãos preceitos e bons exemplos, e habitua-os a reflectir sobre o correcto modo de viver; ao homem do mundo, porque lhe proporciona recompensa nobre e útil; ao viajante, porque lhe permite encontrar amigos e irmãos em países onde de outro modo se encontraria afastado e solitário; ao homem de valia na adversidade, pois lhe proporciona ajuda; ao aflito, pois lhe dá consolo; ao homem caridoso, pois lhe permite lhe permite fazer um maior bem ao juntá-lo àqueles que são caridosos como ele; e a todos cujas almas são capazes de apreciar a sua importância e de desfrutar os encantos de uma amizade fundada nos mesmos princípios de religião, moral e filantropia.
Um maçom, portanto, deve ser um homem de honra e responsável, olhando mais para o seu dever do que para qualquer outra coisa, inclusive a sua própria vida. Deve ser independente nas suas opiniões, de boa moral, respeitoso com as leis, comprometido com a humanidade, com o seu país e com a sua família; deve ser cortês e indulgente com os seus irmãos, amigos e todos os homens virtuosos, e deve estar sempre pronto a ajudar os seus semelhantes por todos os meios ao seu alcance.
Desta maneira serás leal a ti próprio, aos teus semelhantes e a Deus, e desta forma honrarás o nome e grau de Mestre Secreto que, como o resto dos graus maçónicos, se degradará se não for merecido.
(tradução livre de Agostinho Costa)


terça-feira, 6 de março de 2018

Silêncio



Silêncio
Assim como do fundo da música
brota uma nota
que enquanto vibra cresce e se adelgaça
até que noutra música emudece,
brota do fundo do silêncio
outro silêncio, aguda torre, espada,
e sobe e cresce e nos suspende
e enquanto sobe caem
recordações, esperanças,
as pequenas mentiras e as grandes,
e queremos gritar e na garganta
o grito se desvanece:
desembocamos no silêncio
onde os silêncios emudecem.


Octavio Paz, in "Liberdade sob Palavra"

segunda-feira, 5 de março de 2018

O INOMINÁVEL

(pintura: Almada Negreiros)

Fernando Pessoa
(Então vindas d’Além de Deus, como um arrepio, mesmo do Ser sem falar; insinuam-se no vácuo estas palavras:)
                O INOMINÁVEL
No meu abismo medonho
Se despenha mudamente
A catarata de sonho
Do mundo eterno e presente.
Formas e ideias eu bebo
E o mistério e horror do mundo
Silentemente recebo
No meu abismo profundo.
O Ser-em-si nem é o nome
Do meu ser inominável;
No meu mundo Maëlstrom,
O grande mundo inestável,
Como um suspiro se apaga,
E um silêncio mais que infindo
Acolhe o morrer da vaga
Que em mim se vai esvaindo.