segunda-feira, 5 de março de 2018

O INOMINÁVEL

(pintura: Almada Negreiros)

Fernando Pessoa
(Então vindas d’Além de Deus, como um arrepio, mesmo do Ser sem falar; insinuam-se no vácuo estas palavras:)
                O INOMINÁVEL
No meu abismo medonho
Se despenha mudamente
A catarata de sonho
Do mundo eterno e presente.
Formas e ideias eu bebo
E o mistério e horror do mundo
Silentemente recebo
No meu abismo profundo.
O Ser-em-si nem é o nome
Do meu ser inominável;
No meu mundo Maëlstrom,
O grande mundo inestável,
Como um suspiro se apaga,
E um silêncio mais que infindo
Acolhe o morrer da vaga
Que em mim se vai esvaindo.

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