As Guardiãs do Silêncio
Victor Silva Barros
O DEVER DO SILÊNCIO
Na
bíblia, podemos verificar que é no silêncio que escutamos o nosso Deus.
Em
todos os textos que tive a oportunidade de estudar sobre o dever do silêncio,
verifico que o ruído atrapalha-nos a escuta física, assim como a escuta da
gnose, o ruído a que me refiro, não se trata da poluição sonora, mas o ruído do
nosso primeiro inimigo, aquele que todos observamos no espelho, no dia da nossa
iniciação no primeiros grau. Este é, e será sempre o ruído mais ensurdecedor
com que teremos de conviver até partirmos para oriente eterno, é aquele que
deve ser talhado até ficar como uma pedra polida, até ficar como o mais sublime
som
da gnose. No entanto, repare-se que o mundo está cheio de barulhos: veículos, a
voz de multidões, o barulho das cidades, os animais, as arvores, etc, é um
constante frenesim para a nossa consciência, pois no acessório, tudo atrapalha,
tudo chama a nossa atenção, tudo nos distrai. Mas com o estudo e conhecimento,
conseguiremos abstrair-nos deste ruído, obteremos o dito silêncio,
conseguiremos acalmar e focar no mais importante, poderemos escutar o verdadeiro
silêncio, instrutor da sapiência divina, aquele que interessa ouvir.
Várias
culturas têm o hábito de praticar esta fantástica ferramenta, o dever de ficar
em silêncio durante momentos, torna-nos mais disciplinados, clarifica-nos a
mente e aumenta-nos a clarividência.
A
temporada em que estamos em completo silêncio desde aprendizes a companheiros,
assim como na qualidade de mestres, a maior parte do tempo, onde me incluo,
deve ser constante e profundo no nosso Ser, no nosso Eu, deve ser como o ato de
revelação da Luz, para que possamos cumprir algumas premissas do inquérito de
S. João, devemos então enterrar os vícios e exaltar as virtudes, sendo o dever
do silêncio uma das maiores virtudes que o ser humano possui, é aqui que nós
mestres, devemos mostrar o nosso verdadeiro “Eu”, é esta a subida da escada de
Jacó. Falar demais, sem cuidado, não é bom. Quando paramos de falar e ficamos
em silêncio, passamos a ouvir com atenção. O silêncio aprofunda o nosso relacionamento
com Deus e com os outros. Na bíblia em Eclesiastes, versículo 5, paragrafo 2 e 3,
diz; “Não seja precipitado de lábios, nem
apressado de coração para fazer promessas diante de Deus. Deus está nos céus, e
você está na terra, por isso, fale pouco. Das muitas ocupações brotam sonhos;
do muito falar nasce a prosa vã do tolo.” Em Tiago, versículo 3, no parágrafo
2º, diz, “Todos tropeçamos de muitas maneiras.
Se alguém não tropeça no falar, tal homem é perfeito, sendo também capaz de
dominar todo o seu corpo.”
Como
Mestres Maçons, todos interiorizamos que a oportunidade de usar a palavra, deve
ser, além de extrema importância, carregada de sabedoria e usada unicamente
quando é absolutamente indispensável, correndo o risco de usarmos a palavra
para fazermos ruído naqueles que nos escutam.
A
principal lição do dever do silêncio que devemos retirar, enquanto Mestres
Maçons é que a palavra deve ser usada com mestria. Mas como em quase tudo na
vida, cada um é como cada qual e todos evoluem ou podem fazê-lo. Há aqueles que
quase não precisaram de estudar esta lição, por temperamento são pessoas
caladas, reflexivas, ponderadas, que raramente falam e, quando o fazem, são,
precisamente pela raridade da situação, muito atentamente ouvidos. Há pessoas
que quase nunca falam a despropósito, mas algumas vezes, precisamente pelo seu particular
zelo na selecção das palavras deixam de dar contributos preciosos, se
partilhados no momento próprio. Há outros que, pelo contrário, são de natureza
interventiva, não deixam de dar a sua opinião, não temem estar em minoria,
entendem que participar, implica opinar, contribuir, ainda que por vezes apenas
marginalmente. Esses correm o risco de se equivocar algumas vezes, de opinar
sem o conhecimento ou a ponderação adequada, de darem a impressão de que,
sobretudo, gostam é de ouvir a própria voz, estes tendem a ser a maioria.
Há
um encontro entre o dever, o dever de ser, de ser do silencio com os deveres
enquanto homens, entes estão na dignidade, na dignidade de sermos humanos,
diferentes de todas as classes animais, este encontra-se no valor de que se
reveste tudo aquilo que não tem preço, ou seja, não é passível de ser trocado
por algo que possa parecer idêntico. Dessa forma, a dignidade é uma qualidade
inerente aos seres humanos enquanto entes morais: na medida em que exercem de
forma autónoma a sua razão prática, os seres humanos constroem distintas personalidades
humanas, cada uma delas absolutamente individual e insubstituível.
Concludentemente,
a dignidade é totalmente inseparável da autonomia para o exercício da razão
prática, e é por esse motivo que apenas os seres humanos se sobrevestem de
dignidade, é por este motivo, o da dignidade humana que o dever do silencio
deverá ser uma constante de trabalho afincado na profundidade no nosso Ser, do
nosso Eu.
Há
várias escrituras no passado que declararam, “As palavras terminam onde começa a verdade”.
ELBF18
SOB ESCOMBROS
ResponderEliminarUm tempo houve em que,
de tão próximo, quase podias ouvir
o silêncio do mundo pulsando
onde também tu eras mundo, coisa pulsante.
Extinguiu-se esse canto
não na morte
mas na vida excluída
da clarividência da infância
e de tudo o que pulsa,
fins e começos,
e corrompida pela estridência
e pela heterogeneidade.
Agora respondes por nomes supostos,
habitante de países hábeis e reais,
e precisas de ajuda para as coisas mais simples,
o pensamento, o sofrimento, a solidão.
A música, só voltarás a escutá-la
numa noite lívida,
uma noite mais vulnerável do que todas
(o presente desvanecendo-se, o passado cada vez mais lento)
um pouco antes de adormeceres
sob escombros.
Manuel António Pina