sexta-feira, 16 de março de 2018

O DEVER DO SILÊNCIO


As Guardiãs do Silêncio
Victor Silva Barros


O DEVER DO SILÊNCIO
Na bíblia, podemos verificar que é no silêncio que escutamos o nosso Deus.
Em todos os textos que tive a oportunidade de estudar sobre o dever do silêncio, verifico que o ruído atrapalha-nos a escuta física, assim como a escuta da gnose, o ruído a que me refiro, não se trata da poluição sonora, mas o ruído do nosso primeiro inimigo, aquele que todos observamos no espelho, no dia da nossa iniciação no primeiros grau. Este é, e será sempre o ruído mais ensurdecedor com que teremos de conviver até partirmos para oriente eterno, é aquele que deve ser talhado até ficar como uma pedra polida, até ficar como o mais sublime
som da gnose. No entanto, repare-se que o mundo está cheio de barulhos: veículos, a voz de multidões, o barulho das cidades, os animais, as arvores, etc, é um constante frenesim para a nossa consciência, pois no acessório, tudo atrapalha, tudo chama a nossa atenção, tudo nos distrai. Mas com o estudo e conhecimento, conseguiremos abstrair-nos deste ruído, obteremos o dito silêncio, conseguiremos acalmar e focar no mais importante, poderemos escutar o verdadeiro silêncio, instrutor da sapiência divina, aquele que interessa ouvir.
Várias culturas têm o hábito de praticar esta fantástica ferramenta, o dever de ficar em silêncio durante momentos, torna-nos mais disciplinados, clarifica-nos a mente e aumenta-nos a clarividência.
A temporada em que estamos em completo silêncio desde aprendizes a companheiros, assim como na qualidade de mestres, a maior parte do tempo, onde me incluo, deve ser constante e profundo no nosso Ser, no nosso Eu, deve ser como o ato de revelação da Luz, para que possamos cumprir algumas premissas do inquérito de S. João, devemos então enterrar os vícios e exaltar as virtudes, sendo o dever do silêncio uma das maiores virtudes que o ser humano possui, é aqui que nós mestres, devemos mostrar o nosso verdadeiro “Eu”, é esta a subida da escada de Jacó. Falar demais, sem cuidado, não é bom. Quando paramos de falar e ficamos em silêncio, passamos a ouvir com atenção. O silêncio aprofunda o nosso relacionamento com Deus e com os outros. Na bíblia em Eclesiastes, versículo 5, paragrafo 2 e 3, diz; “Não seja precipitado de lábios, nem apressado de coração para fazer promessas diante de Deus. Deus está nos céus, e você está na terra, por isso, fale pouco. Das muitas ocupações brotam sonhos; do muito falar nasce a prosa vã do tolo.” Em Tiago, versículo 3, no parágrafo 2º, diz, “Todos tropeçamos de muitas maneiras. Se alguém não tropeça no falar, tal homem é perfeito, sendo também capaz de dominar todo o seu corpo.”
Como Mestres Maçons, todos interiorizamos que a oportunidade de usar a palavra, deve ser, além de extrema importância, carregada de sabedoria e usada unicamente quando é absolutamente indispensável, correndo o risco de usarmos a palavra para fazermos ruído naqueles que nos escutam.
A principal lição do dever do silêncio que devemos retirar, enquanto Mestres Maçons é que a palavra deve ser usada com mestria. Mas como em quase tudo na vida, cada um é como cada qual e todos evoluem ou podem fazê-lo. Há aqueles que quase não precisaram de estudar esta lição, por temperamento são pessoas caladas, reflexivas, ponderadas, que raramente falam e, quando o fazem, são, precisamente pela raridade da situação, muito atentamente ouvidos. Há pessoas que quase nunca falam a despropósito, mas algumas vezes, precisamente pelo seu particular zelo na selecção das palavras deixam de dar contributos preciosos, se partilhados no momento próprio. Há outros que, pelo contrário, são de natureza interventiva, não deixam de dar a sua opinião, não temem estar em minoria, entendem que participar, implica opinar, contribuir, ainda que por vezes apenas marginalmente. Esses correm o risco de se equivocar algumas vezes, de opinar sem o conhecimento ou a ponderação adequada, de darem a impressão de que, sobretudo, gostam é de ouvir a própria voz, estes tendem a ser a maioria.
Há um encontro entre o dever, o dever de ser, de ser do silencio com os deveres enquanto homens, entes estão na dignidade, na dignidade de sermos humanos, diferentes de todas as classes animais, este encontra-se no valor de que se reveste tudo aquilo que não tem preço, ou seja, não é passível de ser trocado por algo que possa parecer idêntico. Dessa forma, a dignidade é uma qualidade inerente aos seres humanos enquanto entes morais: na medida em que exercem de forma autónoma a sua razão prática, os seres humanos constroem distintas personalidades humanas, cada uma delas absolutamente individual e insubstituível.
Concludentemente, a dignidade é totalmente inseparável da autonomia para o exercício da razão prática, e é por esse motivo que apenas os seres humanos se sobrevestem de dignidade, é por este motivo, o da dignidade humana que o dever do silencio deverá ser uma constante de trabalho afincado na profundidade no nosso Ser, do nosso Eu.
Há várias escrituras no passado que declararam, “As palavras terminam onde começa a verdade”.

ELBF18

1 comentário:

  1. SOB ESCOMBROS

    Um tempo houve em que,
    de tão próximo, quase podias ouvir
    o silêncio do mundo pulsando
    onde também tu eras mundo, coisa pulsante.

    Extinguiu-se esse canto
    não na morte
    mas na vida excluída
    da clarividência da infância

    e de tudo o que pulsa,
    fins e começos,
    e corrompida pela estridência
    e pela heterogeneidade.

    Agora respondes por nomes supostos,
    habitante de países hábeis e reais,
    e precisas de ajuda para as coisas mais simples,
    o pensamento, o sofrimento, a solidão.

    A música, só voltarás a escutá-la
    numa noite lívida,
    uma noite mais vulnerável do que todas
    (o presente desvanecendo-se, o passado cada vez mais lento)
    um pouco antes de adormeceres
    sob escombros.
    Manuel António Pina

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