MESTRE PERFEITO
Albert
Pike, in Moral e Dogma
Mestre
Hiram era um homem honesto e trabalhador, que se entregava com diligência àquilo
para que era contratado, e fazia-o bem e lealmente. Nunca recebeu salário que
não fosse o devido. O Trabalho e a Honestidade são as virtudes tratadas neste
grau. São virtudes comuns e diárias, mas nem por isso estão fora da nossa atenção.
Da mesma maneira que as abelhas não amam nem respeitam os zângãos, a Maçonaria
também não respeita a folgança, nem aqueles que vivem da fantasia; e menos
ainda os parasitas que vivem de expedientes. Pois aqueles que são indolentes
provavelmente tornar-se-ão dissipadores e viciosos: e a honestidade perfeita,
que deveria ser característica de todos, torna-se mais rara que diamantes. Trabalhar
com seriedade, diligência, lealdade e honestidade, pode parecer que não merece séria
análise à luz da Lei Moral; todavia estas virtudes fazem parte da personalidade
de um Mestre Perfeito.
A
preguiça é o túmulo do homem vivo, pois o preguiçoso é inútil para os
propósitos tanto de Deus como do homem, já que é como se estivesse morto, desatento
às mudanças e necessidades do mundo. Ele só vive para passar o tempo e comer os
frutos da terra. Como um selvagem ou um lobo, quando chega a sua hora morre e
apodrece, sem entretanto ter sido nada. Nem move nem suporta cargas. Tudo o que
faz é estéril e prejudicial.
Há
um vasto labor destinado ao homem que não é preguiçoso e é grande o seu caminho
até chegar à Virtude. Santo Ambrósio, e seguindo o seu exemplo, Santo
Agostinho, dividia cada dia nestas três partes: oito horas para as necessidades
da natureza e recreio, oito horas para a caridade, prestando ajuda ao próximo,
ajudando na solução dos seus negócios, reconciliando-os com seus inimigos,
reprimindo seus vícios, corrigindo os seus erros, instruindo a sua ignorância,
e despachando os assuntos da sua diocese; e as outras oito horas empregavam-nas
no estudo e na oração.
Aos
20 anos pensamos que a vida é demasiado longa para o que temos de aprender e
fazer; e que há larga distância entre a nossa idade e a do nosso avô. Mas
quando temos sessenta anos, se formos afortunados para lá chegar, ou
desafortunados, conforme tenhamos aproveitado ou desbaratado o nosso tempo,
detemo-nos e olhamos o caminho percorrido e avaliamos a nossa conta-corrente
com o tempo face a tudo o que poderíamos ter alcançado e verificamos que a vida
se tornou muito mais curta do que imagináramos e desperdiçamos boa parte do
nosso tempo. Então, mentalmente, lamentamos todas as horas que passamos a
dormir desnecessariamente; as horas utilizadas cada dia, durante as quais a superfície
flácida do cérebro não foi agitada por um único pensamento; os dias que
desperdiçamos em demoras irritantes esperando algo melhor; as horas desperdiçadas
em loucuras e dissipação, ou malbaratadas em estudos inúteis ou improdutivos, e
admitimos, com um suspiro, que poderíamos ter aprendido, só com a metade dos
anos, mas bem empregues, mais do que temos conseguido em quarenta anos como
seres humanos.
Aprender
e fazer! Este é o trabalho da alma. A alma cresce tanto como cresce um carvalho.
Conforme a árvore toma o carbono do ar, o vapor de água, a chuva e a luz, e o
alimento que a terra proporciona às suas raízes e por sua misteriosa química
transmuta em seiva e fibra, em madeira e em folha, flor e fruto, cor e perfume,
assim a alma absorve o conhecimento e por uma química divina torna o
conhecimento na própria substância, e cresce de dentro para fora com força e
poder próprios, como aquilo que se encontra escondido num grão de trigo.
A
alma, como o corpo, tem os seus sentidos, que podem ser cultivados, aumentados
e refinados, da mesma maneira que o corpo cresce em estatura e proporção; e
aquele que não pode apreciar uma boa pintura ou escultura, um belo poema, uma
doce harmonia, um pensamento heróico ou uma acção desinteressada, ou aquele a
quem a sabedoria da filosofia se transforma numa estupidez sem graça e
incompreensível e as mais elevadas verdades lhe são de menos importância do que
o preço do lote de algodão ou da promoção dos perversos aos cargos públicos,
unicamente vive ao nível da mediocridade e sob o mais imperfeito
desenvolvimento da própria alma.
Dormir
pouco e estudar muito, falar pouco, e escutar e pensar muito, aprender que
somos capazes de fazer, e então realizar, com seriedade e vigor, qualquer coisa
que se nos seja solicitado por dever e pelo bem dos nossos semelhantes, do
nosso país e da humanidade – estes são Deveres de todo o maçom que deseje
imitar o mestre Hiram. O dever de um maçom como homem honesto, sincero e
simples. Requer de nós honestidade nos contratos, sinceridade nas suas
declarações, sinceridade ao negociar e lealdade ao actuar.
Nunca
mintas, nem em pequeno, nem em grande, nem no essencial, nem no circunstancial,
nem por palavras, nem por actos: isto é, não simules o que é falso, não
encubras a verdade, e faz com que o alcance do que afirmas ou do que negas seja
entendido pelo teu interlocutor, pois aquele que engana o comprador ou o
vendedor de forma aparentemente verdadeira, mas através de artifícios que não o
deixem entender o que verdadeiramente está em causa, é mentiroso e ladrão. Um
Mestre Perfeito deve evitar aquilo que leva ao engano, da mesma maneira que
evita o que é falso.
Dá
os teus preços em conformidade com o verdadeiro valor do bem estabelecido de
acordo com a voz corrente e a avaliação do mais sábio e piedoso dos homens,
experimentado na manufactura e na fábrica; e que o teu ganho seja tal que, sem
escândalo, seja legítimo para pessoas colocadas nas mesmas circunstancias.
No
intercâmbio com os outros, não faças tudo o que possas fazer legalmente,
outrossim, mantém uma margem dentro da tua esfera de poder; e, posto que há uma
latitude no ganho ao comprar e ao vender, não tomes até ao último centavo que
te seja permitido pela lei, ou que tu aches que te está permitido, pois ainda
que seja legal, pode não ser o mais correcto; e aquele que obtém tudo o que
pode este ano, no ano seguinte será tentado a ir mais além, para além mesmo do
que é legal.
Não
permitas a nenhum homem, por sua pobreza, tornar-se opressor e cruel no seu
negócio, mas ao contrário, com calma, modéstia, diligência e pacientemente
encomenda a Deus o seu património, e favorece o seu ganho deixando-lhe a ele o
êxito.
Não
demores o pagamento ao teu contratado, pois cada dia de atraso do pagamento
para além do prazo é injusto e falho de caridade. Paga-lhe segundo o combinado,
tendo em conta as suas necessidades.
Honra
religiosamente todas as promessas e alianças, mesmo que te deixem em desvantagem
e ainda que venhas a concluir que poderias ter conseguido um pacto melhor. Não
permitas que um acordo venha a ser alterado por qualquer incidente posterior.
Que nada te faça romper a tua promessa, a não ser que se converta em ilegal ou
impossível, isto é, que em tua natureza ou em tua condição civil te encontres
sob o poder de outro; ou que seja intoleravelmente prejudicial para ti mesmo e
de nula utilidade para o outro; ou que tenhas o acordo da outra parte.
Não
permitas a um homem tomar salário ou jorna por um trabalho que não é capaz de
fazer, ou que provavelmente não é capaz de acometer ou de governar
apropriadamente, com desembaraço e de forma proveitosa. Não permitas a ninguém
usar para seu benefício aquilo que Deus, por especial misericórdia, ou a
República, dispuseram para o bem comum, pois isso é contrário à Justiça e à
Caridade. Quando tal sucede estamos incumprindo o mandamento de fazer aos
outros o mesmo que queremos que nos façam a nós próprios, pois estamos a
enriquecer à custa da ruína de outrem.
Não
é honesto receber nada de outro sem lhe dar algo em troca. O jogador que ganha
o dinheiro de outro é desonesto. Não deveria existir tal coisa como as apostas
e o jogo entre maçons, pois nenhum homem honesto deveria desejar a troco de
nada o que pertence a outro. O mercador que vende um artigo de má qualidade ao
preço do de boa qualidade e o especulador que aumenta a sua fazenda explorando
as desgraças e necessidades do próximo não são honestos, mas sim gente ruim,
ignóbil e indigna da imortalidade.
Viver,
tratar e actuar honradamente deveria ser o mais forte desejo de todo o Mestre
Perfeito, de forma que quando lhe chegue a hora da morte, possa dizer, e assim
o julgue a sua consciência, que nenhum homem é mais pobre porque ele é mais
rico, que o que tem foi ganho honestamente, e que ninguém possa apresentar-se a
Deus e reclamar pelas leis da Equidade administrada no seu grande Tribunal, que
a casa em que morremos, a terra que legamos aos nossos herdeiros, o dinheiro
que deixamos aos vivos que têm o nosso apelido, é seu e não nosso. Tudo
pertence a Deus, nós somos tão-somente meros depositários. Deus é justo. E
decretará uma compensação total e adequada para aqueles a quem espoliamos, a
quem defraudamos e para aqueles de quem tomamos algo sem lhes darmos
contrapartida justa.
Tem
cuidado, pois, e não recebas um salário, aqui ou em qualquer outra parte, que
não tenhas merecido! Pois se assim o fazes, prejudicas alguém, apropriando-te de
algo que no Tribunal de Deus pertence a outro, e seja o que for que tomes para
ti, seja saúde, seja honrarias, influência, reputação ou afecto, terás de pagar
a contrapartida, se não for neste mundo, será no outro.
(tradução livre de Agostinho Costa)
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