quarta-feira, 28 de março de 2018



Retrato de Camões por Fernão Gomes
em cópia de Luís de Resende


“E aqueles que por obras valorosas
Se vão da lei da morte libertando”
(Luís de Camões)


Falar daqueles que da lei da morte de se podem ir libertando por obras valorosas é falar de toda a Humanidade em sentido lato, já que a ninguém está vedada essa apetência de poder fazer o bem sem olhar a quem, e assim perpetuar a memória de si para de si, assim se queira e não nos deixemos corromper pelo meio e pelas vicissitudes mundanas.

Desde os atos mais simples do nosso dia a dia (do cidadão anónimo), até às obras mais abrangentes e universais, como é fiel exemplo a grandiosa epopeia dos Portugueses, tão bem descrita e reconstruída na narrativa Os Lusíadas de Luís de Camões, sempre poderemos, todos sem exceção, assim pretendamos nos transcendermos; e por vezes um pequeno gesto anónimo e despretensioso de fazer o bem pelo simples prazer de o fazer, associado à utilidade simples e geral perante o próximo, poderá ter mais valor intrínseco do que obras grandiosas e sumptuosas, que, mesmo estas, sendo também realizadas a bem da Humanidade, se o forem de forma que não garanta e promova, por exemplo, a equalização de acesso, sem distinção de género de raça ou classe social, nunca, por muito amplo que seja o propósito, se lhe podem comparar em valia.

Para melhor compreendermos a valia a que me refiro, teremos de a desdobrar em dois planos de apreciação: no plano físico, tratar-se-á de uma obra com potencial e efetiva perdura para além morte física do seu criador (potencialmente de cada um de nós); no plano espiritual será uma obra que, independente de perdurar fisicamente para além do seu criador, perdure na memória pessoal ou coletiva dos seus destinatários e também porventura essencialmente na memória espiritual do seu auto.

Mas em ambos o casos é o ganho espiritual para o criador o que mais interessa, e que permite que esse, por essa via, muito para além de ser recordado pelos demais, possa ser impulsionado no seu trajeto rumo ao transcendente, rumo à luz. Dito de outra forma, e em alusão à distinta obra do nosso Luís de Camões, que aqui me inspira, muito para lá da consensualidade em torno da obra Os Lusíadas, enquanto obra prima em si, e que imortaliza a memória do seu autor, há que ter em conta que, no plano espiritual, Luís de Camões certamente terá sentido um ânimo e um conforto interior indescritível perante si mesmo, pelo trabalho realizado, ora é esse ânimo e essa luz interior que devemos procurar pela nossa ação, independentemente das palmas que as plateias, por vezes conjunturais, nos granjeiem - assim saibamos estar no caminho certo, ainda que por vezes de forma um pouco isolada.

Mas afinal o que é que isto tem a ver com Maçonaria? Tudo!

É nestas águas, por vezes largas, por vezes estreitas ou sinuosas, que um Maçom se move, sendo que deve procurar estar sempre à tona, que é como quem diz sempre atento e vigilante para fazer o bem sem olhar a quem. A todo o momento nunca faltarão oportunidades de o Maçom exercitar o dever/prazer de se ir da morte libertando, que é como quem diz de se ir elevando rumo à divindade, como parte efetiva e produtiva do Universo.


Muito mais haveria a dizer sobre Luís de Camões, mas isso já todos conhecemos de outros foros, porém o que neste âmbito deve ser relevado é que, tal como ele, também o Maçom, em geral, em pequenas ou grandes empreitadas, pode até estar sujeito à incompreensão do seu tempo, mas se o seu trabalho for valoroso de per si, intrinsecamente, então permitiu já ao seu autor uma afirmação positiva da sua espiritualidade, rumo à perfeição.

ELBF05

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