Roberto Moura Bonini
“Do 4º ao 8º grau – o aprofundamento
da consciência do ser”
Desde tenra idade que me habituei
a ouvir que estamos sempre a aprender, e de facto assim o é, levamos uma vida
inteira a aprender e nunca sabemos tudo; aliás quanto mais sabemos mais
consciência temos da imensidão do conhecimento. Raros são os dias em que não
somos surpreendidos com algo novo, por vezes vindo até de onde menos de espera,
tal o preconceito de sabedoria vs conhecimento com que vamos impregnando a
nossa mente…
E se de facto assim é no mundo
profano, onde a profundidade e a largura da sabedoria e do conhecimento não têm
limites, mais o é no mundo maçónico, onde cedo aprendemos o valor da sabedoria
que nos é revelada pelo nosso estudo e reflexão, pelo exemplo e pelo valor dos
símbolos – que nos despertam os sentidos e que nos alavancam para a
(re)construção do templo, em harmonia com o universo.
Por vezes, ou as mais das vezes,
não é fácil desprendermo-nos de dogmas que vamos criando e acumulando em redor
da nossa mente e que cercam o nosso ser, fazendo com que tendamos a pensar que
somos os melhores do mundo, que fazemos tudo bem e na perfeição, e que quando
assim não acontece a culpa é sempre dos outros, que são maus, ou do mundo
exterior, que conspira contra nós, e que, por contraponto, nós somos uns santos caridosos
e muito benfeitores, e portanto quase deuses em nós mesmos, no nosso ego.
Porém a realidade é bem distinta,
temos usualmente uma visão distorcida de nós mesmos, da realidade, do próprio
contexto onde gravitamos, e mesmo até da nossa importância, que na realidade se
resume a um grão de areia na imensidão do deserto, ou, se quisermos, a um grão
de romã numa imensidão de romãzeiras, o que não significa que não possamos
porém fazer a diferença.
É pois neste contexto de banho de
humildade que se entra na maçonaria; vindo cheio de expectativas, que são
sabiamente reconduzidas, pela boa prática da simbologia e do conhecimento
ritual ancestral, a nós próprios, à nossa relação como o nosso eu, ao que
somos, ao que pretendemos ser, ao que estamos aqui a fazer, à forma como nos
relacionamos com os outros e com o próprio universo. E é por isso que seremos
eternos aprendizes, como bem dizia sabiamente Martin Guia, pois esta é uma
história sem fim, feita de avanços e recuos, onde, acreditando no valor do rumo
à perfeição, nos compete trilhar o caminho, uma caminho que se faz caminhando…
É precisamente nessa lógica de
aperfeiçoamento do templo, desse templo que cada um é em particular, um templo
físico, mental, emocional, intuitivo e espiritual, que, uma vez chegados ao
grau em que somos reconhecidos MM, é absolutamente inquestionável que haja
necessidade de aprofundar ainda mais o conhecimento da mensagem codificada em
cada simbologia, e nas lendas a ela associadas, como veículos do estudo de nós
mesmos, e como referencial de valores e princípios a seguir, que temos em nós,
mas que por vezes não estão suficientemente desenvoltos e aperfeiçoados.
E mais do que descrever o padrão
de ensinamentos que é suposto que cada grau nos dê, e que do 4º ao 8º grau,
sucintamente passa pela revisitação do verdadeiro valor do silêncio, pela
consciência da luz que há em nós, pelo despertar para novas potencialidades,
pela consciencialização e preparação para o mundo novo que se abre para lá do
físico – seja antes seja após a morte do corpo, que nos leva por exemplo à
reflexão sobre o valor da nossa Humanidade, e de que tudo o que criamos em
nosso redor só é possível por sermos nós próprios parte da universalidade que
nos rodeia…, sendo que logo somos levados a dar um novo significado, muito mais
amplo e profundo, a princípios basilares, como a liberdade, a igualdade e
fraternidade, e por isso valorizar de forma acrescida e melhor protagonizar o
dever, a fidelidade, e o zelo, de forma natural, serena e baseada na ação
concreta perante os outros, numa perspetiva muito espiritual de auto
gratificação pelo bem-fazer aos outros, e aqui chegados, termos melhores
condições de interpretar o que nos rodeia, perceber melhor as razões dos
outros, que muitas vezes julgamos injustamente ao primeiro olhar, sem
imparcialidade e equidade, e que por isso temos de nos esforçar de forma
autêntica e produtiva, e sem fundamentalismos, na disseminação de uma justiça
efetiva, sem dogmas e que a cada momento corresponda à dose certa de punição e
de tolerância – parece fácil mas nunca o será; e depois há também que entender
que nada estará definitivamente conquistado, e que tal como o lavrador cuida
incessantemente da sua horta, também nós temos de cuidar constantemente das
múltiplas dimensões do nosso ser, com equilíbrio e em busca dele, mas, como
dizia, mais do que descrever o padrão de ensinamentos que nos é revelado pela
simbologia aprendida, o importante mesmo é o processo, a vivência em si, dentro
de nós mesmos, e essa, por muito que nos esforcemos, é única, indescritível, e
positivamente transformadora no rumo do caminho que escolhemos – o caminho de
cada um!
ELBF09
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