quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

“Do 4º ao 8º grau – o aprofundamento da consciência do ser”

Roberto Moura Bonini


“Do 4º ao 8º grau – o aprofundamento da consciência do ser”

Desde tenra idade que me habituei a ouvir que estamos sempre a aprender, e de facto assim o é, levamos uma vida inteira a aprender e nunca sabemos tudo; aliás quanto mais sabemos mais consciência temos da imensidão do conhecimento. Raros são os dias em que não somos surpreendidos com algo novo, por vezes vindo até de onde menos de espera, tal o preconceito de sabedoria vs conhecimento com que vamos impregnando a nossa mente…
E se de facto assim é no mundo profano, onde a profundidade e a largura da sabedoria e do conhecimento não têm limites, mais o é no mundo maçónico, onde cedo aprendemos o valor da sabedoria que nos é revelada pelo nosso estudo e reflexão, pelo exemplo e pelo valor dos símbolos – que nos despertam os sentidos e que nos alavancam para a (re)construção do templo, em harmonia com o universo.
Por vezes, ou as mais das vezes, não é fácil desprendermo-nos de dogmas que vamos criando e acumulando em redor da nossa mente e que cercam o nosso ser, fazendo com que tendamos a pensar que somos os melhores do mundo, que fazemos tudo bem e na perfeição, e que quando assim não acontece a culpa é sempre dos outros, que são maus, ou do mundo exterior, que conspira contra nós, e que, por contraponto, nós somos uns santos caridosos e muito benfeitores, e portanto quase deuses em nós mesmos, no nosso ego.
Porém a realidade é bem distinta, temos usualmente uma visão distorcida de nós mesmos, da realidade, do próprio contexto onde gravitamos, e mesmo até da nossa importância, que na realidade se resume a um grão de areia na imensidão do deserto, ou, se quisermos, a um grão de romã numa imensidão de romãzeiras, o que não significa que não possamos porém fazer a diferença.
É pois neste contexto de banho de humildade que se entra na maçonaria; vindo cheio de expectativas, que são sabiamente reconduzidas, pela boa prática da simbologia e do conhecimento ritual ancestral, a nós próprios, à nossa relação como o nosso eu, ao que somos, ao que pretendemos ser, ao que estamos aqui a fazer, à forma como nos relacionamos com os outros e com o próprio universo. E é por isso que seremos eternos aprendizes, como bem dizia sabiamente Martin Guia, pois esta é uma história sem fim, feita de avanços e recuos, onde, acreditando no valor do rumo à perfeição, nos compete trilhar o caminho, uma caminho que se faz caminhando…
É precisamente nessa lógica de aperfeiçoamento do templo, desse templo que cada um é em particular, um templo físico, mental, emocional, intuitivo e espiritual, que, uma vez chegados ao grau em que somos reconhecidos MM, é absolutamente inquestionável que haja necessidade de aprofundar ainda mais o conhecimento da mensagem codificada em cada simbologia, e nas lendas a ela associadas, como veículos do estudo de nós mesmos, e como referencial de valores e princípios a seguir, que temos em nós, mas que por vezes não estão suficientemente desenvoltos e aperfeiçoados.
E mais do que descrever o padrão de ensinamentos que é suposto que cada grau nos dê, e que do 4º ao 8º grau, sucintamente passa pela revisitação do verdadeiro valor do silêncio, pela consciência da luz que há em nós, pelo despertar para novas potencialidades, pela consciencialização e preparação para o mundo novo que se abre para lá do físico – seja antes seja após a morte do corpo, que nos leva por exemplo à reflexão sobre o valor da nossa Humanidade, e de que tudo o que criamos em nosso redor só é possível por sermos nós próprios parte da universalidade que nos rodeia…, sendo que logo somos levados a dar um novo significado, muito mais amplo e profundo, a princípios basilares, como a liberdade, a igualdade e fraternidade, e por isso valorizar de forma acrescida e melhor protagonizar o dever, a fidelidade, e o zelo, de forma natural, serena e baseada na ação concreta perante os outros, numa perspetiva muito espiritual de auto gratificação pelo bem-fazer aos outros, e aqui chegados, termos melhores condições de interpretar o que nos rodeia, perceber melhor as razões dos outros, que muitas vezes julgamos injustamente ao primeiro olhar, sem imparcialidade e equidade, e que por isso temos de nos esforçar de forma autêntica e produtiva, e sem fundamentalismos, na disseminação de uma justiça efetiva, sem dogmas e que a cada momento corresponda à dose certa de punição e de tolerância – parece fácil mas nunca o será; e depois há também que entender que nada estará definitivamente conquistado, e que tal como o lavrador cuida incessantemente da sua horta, também nós temos de cuidar constantemente das múltiplas dimensões do nosso ser, com equilíbrio e em busca dele, mas, como dizia, mais do que descrever o padrão de ensinamentos que nos é revelado pela simbologia aprendida, o importante mesmo é o processo, a vivência em si, dentro de nós mesmos, e essa, por muito que nos esforcemos, é única, indescritível, e positivamente transformadora no rumo do caminho que escolhemos – o caminho de cada um!

ELBF09

“O Conhecimento”

Paul Gaugin

“O Conhecimento”

Do latim, cognoscere, "ato de conhecer"), é o ato ou efeito de conhecer, seja ele o conhecimento de uma realidade factual, em sentido estrito, de uma Lei em sentido lato, ou mesmo de uma transcendência imaterial, intangível, sendo todos aceites como verdade comprovada ou comprovável.

Mas, sem entrar em grandes conceitos técnico filosóficos, o que mais interessa, para além da obtenção do conhecimento em si, é, na minha opinião, conseguir mobilizá-lo em avanço civilizacional do Homem, ou seja, o que nos deve preocupar, e é um tema muitíssimo atual e desafiante, é como democratizar o conhecimento, fazendo-o fluir de forma natural simultaneamente no espaço, entre raças, países, confissões religiosas, gerações, e no tempo, entre gerações.

E este é de facto um desafio que não é de hoje, será antes um desiderato que se eterniza no tempo e espaço, convivendo com o Homem desde que este se conhece como tal, pois se por um lado o bicho Homem tem em si a semente do coletivo, por outro tem simultaneamente a ambição da afirmação individual. É uma dualidade em (des) equilíbrio constante!

Por outro lado, informação há muita, nunca houve tanta e tão disponível, mas cuidado, informação não é conhecimento, e muita da informação, é desinformação, levando à negação do conhecimento.

Sendo vocação central da Humanidade a sua sobrevivência, há que priorizar que, para além das questões genéticas, e complementarmente a elas, podemos e devemos, enquanto individuais que fazem parte do coletivo, preocuparmo-nos mais, e de forma autêntica e decisiva, em preservar e gerar conhecimento digno desse nome, entregando-o aos vindouros para que possam dar continuidade a esse esforço entre gerações.

E se até aqui, nada de novo, há porém de reconhecer como absolutamente atual e emergente que um dos conhecimentos mais prementes e basilares que temos obrigação de repassar aos que nos sucedem é o de melhor aprender a saber distinguir (questionar) o que é verdadeiro conhecimento, pois se por um lado a diferença entre ele o a mera informação é óbvia, por outro, e esse é o grande perigo, há “conhecimento” que tende a ser gerado de realidades alternativas – que não existem e foram fabricas (ao estilo fake news), seja por individualismos, seja por pretenderem anestesiar a Humanidade que há em nós.

É pois urgente, e deve continuar a ser uma prioridade de todos nós, continuar a dotar o mundo de uma Educação livre e universal, não aprisionada por redes fechadas, e que permita almejar um futuro mais justo e perfeito!

ELBF09

“JUSTIÇA, IMPARCIALIDADE E EQUIDADE”

Leonardo da Vinci

“JUSTIÇA, IMPARCIALIDADE E EQUIDADE”

Falar de Justiça, Imparcialidade e Equidade, é na prática falar de Humanismo, pois na verdade o desenvolvimento do Homem, rumo ao refinamento da sua superioridade a isso convoca – a busca de um Humanismo e de uma Humanidade mais e mais perfeitos, em sintonia com a Natureza (o Cosmos), na aceção física e espiritual.
Mas nada podemos dar por adquirido na longa linha do tempo onde o Homem coexiste como ator principal do ecossistema, visto este na dupla perspetiva carnal não carnal.
Se “ontem” uma geração de homens (os dessa época) fez evoluir e porventura “avançar”, de forma cuidadosa e sustentada, a Humanidade, num sentido positivo – o da maior perfeição, dotando, acautelando e potenciando uma justiça, uma imparcialidade e uma equidade mais autênticas entre os Homens, e entre estes e o ecossistema, já “hoje”, uma outra geração pode, através de lideranças impreparadas, dissimuladas, ou mesmo mal escolhidas, fazer colocar tudo por terra, regredindo a evolução anterior – este é aliás um tema bem atual, onde depois de pelo menos duas décadas de expansão da liberdade, da justiça, da imparcialidade e da equidade à escala global, vimos agora assistindo a forte retrocessos, sob a capa de nacionalismos, populismos e outras prepotências afins.
Interiorizando que, em cada tempo, a geometria da Humanidade do Homem estará constantemente em equação, é urgente prevenir, ou seja educar, educar, educar. Educar uma cultura de justiça, de imparcialidade e de equidade, sem nunca esquecer que a Justiça se faz da proporção certa de tolerância e de castigo, que Imparcialidade remete para isenção e neutralidade racional, e que Equidade pode e deve levar-nos a apreciar de forma distinta o que não é igual.
Esta é sem dúvida a maior herança geracional: preparar os vindouros para terem as bases que lhe permitam serem mais justos e mais perfeitos, e deixando, contundo, a eles a arte e o engenho de o alcançarem, ao mesmo tempo que terão como missão preparar também os que lhe venham a suceder.
Que nunca esqueçamos que aos olhos do criador, nunca ninguém é (deterministicamente) culpado!



ELBF09

“A Lealdade”

“David and Jonathan” - Rembrandt 


“A Lealdade”

O Homem, na busca constante pela sua sobrevivência, nunca teria tido êxito se não tivesse descoberto o poder do trabalho coletivo, ou seja o poder da Lealdade, que é como quem diz, da fidelidade, da dedicação a uma objetivo (comum) e, em sentido intrínseco, o poder da sinceridade, do zelo perante o próximo, da fraternidade.
É precisamente aqui que o Homem tem muito a aprender com o “cosmos”, e até com outros seres terrenos, pois não é raro ver o Homem a ser enganado, espoliado, explorado e desgraçado pelo próprio Homem, sendo porém certo que a sua condição de “ser racional e espiritual” já lhe devia ter permitido aprender o supremo valor, essencialmente para o próprio, mas para todos, da autenticidade, da genuinidade de um comportamento de vigilância e cuidado perante o seu semelhante, não de uma forma paternal, mas simplesmente fraterna e desapegada de estereótipos de raça, credos religiosos ou outras catalogações que possam ser feitas entre nós.
O que verdadeiramente está em causa é que valores com a lealdade, o zelo, a fraternidade estão muito acima da Lei criada pelos Homens (estrito senso), sendo verdadeiramente essenciais à Humanidade dos Homens e à possibilidade de desenvolvimento.
Portanto urge aprender e difundir uma cultura de fraternidade que propicie a união e a harmonia.
Mas cuidado, porque lealdade não significa dizer sempre que sim a tudo e todos; a verdadeira lealdade e fraternidade com o próximo não se faz de complacência e de desinteresse pelo que os outros fazem ou deixam de fazer, pelo contrário, faz-se de atitude e interesse positivo pelo outro, se necessário dizendo-lhe energicamente que não, que esse não é o caminho… Quanto mais zelosos da nossa lealdade, mais nos incumbe o dever de tomarmos ação, em casa, no trabalho, na escola, nas associações, entre amigos ou desconhecidos, devemos tentar participar o mais possível, de forma leal, urbana e assertiva na afirmação dos princípios e dos valores universais.

ELBF09

Os Graus Inefáveis – A continuação da Lenda de Hiram

Veloso

Os Graus Inefáveis – A continuação da Lenda de Hiram

Todo o Mestre Maçon tem a obrigação de procurar o seu aperfeiçoamento.
Os Graus Inefáveis permitem ao M:.M:. percorrer o caminho em busca da perfeição, através do estudo e desenvolvimento da “Lenda de Hiram”.
Nos cinco primeiros Graus Inefáveis o M:.M:. aperfeiçoa, o estudo dos seus deveres morais e iniciáticos.
No primeiro desses graus, o Grau 4, o M:. M:. é admitido numa Loja de Perfeição, onde reiterará os seus juramentos de discrição e fidelidade, sendo elevado a Mestre Secreto.
O dever do silêncio é o primeiro e talvez o mais importante dever exigido a todos os maçons. Representa o seu compromisso em não revelar os segredos que lhe são transmitidos, mostrando-se, assim, um homem de confiança.
A fidelidade representa o seu compromisso em seguir/obedecer à lei verdadeira, original e única de todos os povos. Todo o homem deve seguir e respeitar a lei universal dos homens, de respeito pelos outros.
No Grau 5 o M:.M:. é elevado a Mestre Perfeito, tendo como deveres o trabalho e honestidade. Estas virtudes quotidianas devem ser seguidas pelo M:.M:. com maior rigor, praticando-as diariamente.
Viver e atuar honradamente deve ser o desejo fundamental de qualquer Mestre Perfeito.
A lealdade, zelo, benevolência e desinteresse são os deveres do grau seguinte, Grau 6, em que o M:.M:. é elevado a Secretário Íntimo.
Para construir a grande Sociedade da Paz no Mundo é necessário que todos pratiquem estes deveres. Só assim, as injustiças, os conflitos e ódios poderão ser combatidos.
A elevação do M:.M:. à condição de Preboste/Juiz ocorre no Grau 7, sendo seu dever a justiça. Neste grau, o M:.M:. estuda os cuidados que deve ter quando um dia julgar alguém. Só um homem imparcial, sem preconceitos e ideias preconcebidas é capaz de praticar a justiça. No final do estudo deste grau, o verdadeiro M:.M:. deve saber que “não deve julgar se não quer ser julgado, pois da mesma maneira que avalia os demais assim será avaliado”.
Finalmente, no último dos cinco primeiros Graus Inefáveis, o M:.M:. é elevado a Intendente dos Edifícios. Os deveres e ensinamentos deste grau são muito importantes para que M:.M:. avance no seu dever de aperfeiçoamento. Neste grau, deverá particularmente praticar a benevolência e caridade.
Em suma, conclui-se que não basta o trabalho e as solenidades diárias. É necessário procurar a sabedoria e ensinamentos que elas guardam. Só quando o M:.M:. for capaz de praticar diariamente sem qualquer dificuldade os ensinamentos que aprendeu até este grau é que poderá prosseguir o estudo dos mais altos graus filosóficos da curva do conhecimento da Luz e da Verdade.
No final destes primeiros 5 Graus Inefáveis o M:.M:. deverá conhecer para além dos seus deveres morais, pois os símbolos e cerimónias da Maçonaria têm vários significados.
O M:.M:. deve dormir pouco e estudar muito; falar pouco, ouvir e pensar muito; aprender que somos capazes de fazer e depois realizar com seriedade e vigor qualquer coisa que nos seja pedida pelo dever e o bem dos nossos semelhantes, do nosso país e da humanidade.
A Maçonaria procurar ensinar que não existe uma Verdade, mas sim várias, a moral, a política, a filosófica e até a religiosa. A Maçonaria é Paz, Amor Fraternal e Concórdia.


ELBF23

A SABEDORIA AO SERVIÇO DA VIDA

Veloso
A ignorância é uma poção activa, transmite-se por osmose, engrossa por conformismo, aumenta com o conforto, ferve com a cegueira, transborda de surdez e mascara-se na ostentação.
Ser ignorante requer esforço.
É impossível não ver, não ouvir, não sentir o que se passa diante de nós. Ao recusarmos qualquer reflexão sobre o que nos rodeia é o garante de nada penetrar no nosso cérebro, isso requer um esforço enorme de estúpida passividade perante os eventos.
Não sentir os efeitos de actos, acontecimentos, alguns causando imensa dor a nós e a outrem, exige falta de um pingo de caridade, empatia e a maior insensibilidade.
Diz o povo: "coração que não vê, não sente".
Vê mas não quer sentir, não quer reflectir, não quer reagir.
Ignorância não é uma qualidade inata ou um vício apurado.
Tão pouco é uma fatalidade. Trata se de uma escolha deliberada.
Não pensar, não avaliar, não sentir, logo não se aperceber, não captar, não medir!
Esta escolha deliberada da ignorância repousa na sensação muito humana de necessidade de segurança/conforto. O exemplo extremo mais recente foram as eleições no Brasil.
Há dois meses, num pequeno almoço com um velho amigo, ponderado, informado, sempre calmo e cheio de bom senso o qual é professor catedrático na universidade de Brasília, percebi que ele ia votar Bolsonaro por duas razões: segurança pública e a enorme e abjecta corrupção vigente. Sei que muitos outros irmãos do Brasil o fizeram.
Ignorância inata ou vontade de ignorar?
Escolha de um mal menor mesmo depois de reflexão, conhecimento, provas.De mansinho o mesmo se está a passar na Europa.Tenho para mim que temos de ir mais além dos chavões e das verdades adquiridas.Lutar pelos valores mais nobres, reconhecer o nosso conformismo latente, o nosso comodismo, a nossa indiferença por tudo o que achamos que não é connosco. Partir para a empatia, o desapego de nós, a sensibilidade pela dor de outrem e partilhar mais a nossa dor, os nossos anseios, as nossas dúvidas e levantar o céu.Rejubilar com a natureza e dar graças por estarmos debaixo do mesmo céu.
Ignorar, porque não, as dicotomias gastas de esquerda, direita, crentes, ateus, europeus, árabes, asiáticos etc..Voltar às raízes que nos fizeram evoluir e progredir como humanos - prover à nossa sobrevivência; cultivar a associação que mostrou ao homem pré histórico como prevalecer sobre outros animais; lembrar os valores que preservaram a espécie, começando na família, alfobre do nosso caráter.
Nesses valores ancestrais reside a disciplina fundamental sem a qual não existe liberdade.A liberdade não é unívoca antes se exerce e se sente em função do outro ou da sociedade.Para tal é necessário desde logo igualdade perante a lei. Mais, a lei deve ser exercida de modo igual e o acesso também.
A única observância justa deve ser a equidade a qual julga as motivações, justificações e eventuais atenuantes para que as penas possam ser diferenciadas no mesmo crime.Um juiz tem de ser um baluarte de sabedoria, empatia e bom senso.
O poder judicial tem de estar separado do poder executivo.Isto é algo que tem vindo a degradar-se em muitos países ultimamente.
Estes princípios básicos já permitem uma dose enorme de liberdade em sociedade.Ao indivíduo cabe não esmorecer nos valores que lhe foram confiados, não ceder perante o que enunciei no início e ter a coragem de estender a sua mão para o seu irmão.Quanto mais nos abrimos, mais partilharmos, mais confiarmos, mais aprendemos e estamos mais próximos da liberdade a qual, como o mais belo monumento, nunca está completo,nunca a sua profundidade estará totalmente desvelada, nunca o seu pináculo estará alcançável pois ele será tanto maior quanto mais profunda for a busca do nosso interior.E no que pensamos que estará a palavra perdida, encontraremos outro desafio ainda maior: o tamanho da nossa ignorância.

ELBF04

A caminhada em direcção à luz

Ari Roussimoff

A caminhada em direcção à luz teve inicio no Grau 4, consagrado ao silêncio e à discrição
0 silêncio é uma virtude aprendida na Maçonaria e que é usada não só nos trabalhos maçónicos, mas na vida profana. 0 Silêncio Maçónico é a discrição que conquista a confiança dos que nos rodeiam. Esta virtude conduz-nos para, silenciosamente, corrigirmos nossos defeitos e usar prudência e tolerância em relação aos defeitos dos outros, assim, o propagado Silêncio Maçónico nada mais é do que a profunda atenção que todos nós devemos ter antes de falar,
Não devemos temer o Silêncio, ficar sozinho com os nossos pensamentos, senti-los invadir a nossa mente e tentar quebrá-lo com ruído nunca será uma boa prática a vontade de encontrar o caminho da Luz será sempre proporcional à utilização do Silêncio como força motriz capaz de promover a humildade para escutar, analisar, tirar as suas próprias conclusões, desenvolver a arte de pensar, ter a bondade para melhorar o nosso carácter e a alegria para crescer
No 5.º grau, pensamos na inevitabilidade da morte e da nossa necessidade de estarmos preparados para ela, o que pode ocorrer em qualquer momento. 0 exemplo da perfeição humana é Hiram, que preferiu a morte à perda da virtude. A designação de "Mestre Perfeito" refere-se à procura da perfeição que devemos sempre ter e não ao facto de sermos perfeitos.
Se exercermos a nossa atividade em harmonia coma nossa organização psicológica no meio onde nos inserimos e tendo como salvaguarda o direito que nos assiste de não sermos impedidos, senão pelos interesses legítimos e superiores da humanidade, de desenvolvermos a unidade que espiritualmente constituímos, temos a verdadeira e exata noção do que seja LIBERDADE.

Todos deverão ter igualdade de direitos à vista da Lei, todos independentemente da condição financeira, etnia, cargo, hereditariedade, religião ou outro qualquer fator. Os Homens nascem livres, com direitos iguais de oportunidade e de justiça; as únicas distinções que a Nossa Augusta Ordem admite são o mérito, o talento, a sabedoria, a virtude e o trabalho. A IGUALDADE que combate a discriminação é um dos pilares indestrutíveis da Maçonaria.
No Dicionário podemos obter a definição de FRATERNIDADE. como:
-              amor ao próximo;
-        irmandade; relação de parentesco entre irmãos; relação afetuosa.
Definição que traduz de forma exemplar outro dos pilares da Nossa Ordem, para a qual devemos estar sempre prontos a sustentá-lo de coração aberto sempre que tratamos alguém de Irmão
A nossa experiência de pessoas livres ensina-nos a aprender. Aprendi, até agora, muito pouco, o bastante porém, para saber que há tempo e espaço para sermos solidários e para (re)inventarmos a esperança e para erguermos as bandeiras da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade. Basta acreditar. Basta rasgar os horizontes do conhecimento e construir as avenidas da solidariedade e da compreensão. Poderemos, então caminhar para uma aproximação da perfeição. É preciso saber curar as cegueiras das paixões pobres e comuns que nos enevoam a vista. e continuar a trabalhar a pedra.
No Grau 6 testemunhamos como o zelo ao serviço dos outros é a nobre expressão do desapego pessoal.
Maçonicamente, generosidade é mais do que caridade.
Não retribuamos cada favor com favor idêntico, mas retribuamos com abundância um favor pequeno que nos façam.
O Homem a quem se deve gratidão tem tudo a seu favor.
No nosso dia a dia quando alguém solicita ajuda, o meu primeiro impulso é, e será sempre, procurar a melhor forma para dar o meu contributo a essa solicitação, pode estar, ou não, ao meu alcance satisfazer o pedido mas certamente irei efetuar o maior esforço para o conseguir.

A realização pessoal, a satisfação e a alegria interior que obtenho quando foi possível contribuir para ajudar alguém é o maior tributo que posso receber, não são necessários elogios ou promessas de retribuição, pois a bondade da ação deve estar ser sempre no Nosso coração .
0 apoio que devemos estar sempre prontos a dar não entra na coluna do crédito do balancete comum dos nossos dias profanos, ele deve figurar no auto da nossa estima, no qual nunca constaram atos que atestam falta de ajuda ou de solidariedade para com o próximo, esses sim dignos de censura.
No final do dia quando passamos em retrospetiva o dia que termina, deveremos analisar, como respondemos hoje ás solicitações de ajuda que tivemos? Será que fizemos tudo o que estava ao nosso alcance?
Será que com pouco mais de esforço, num ou noutro caso, teria contribuído, para um melhor resultado?
Estamos satisfeitos connosco, ou acreditamos que ainda temos um caminho a percorrer para que essa alegria interior seja cada vez maior?
Certamente que estas questões levam-me a conhecer a mim mesmo, corrigir os meus defeitos e os meus erros e desenvolver a virtude e a verdade.
No Grau 7 tomamos conhecimento que a justiça estrita deve ser temperada com a clemência. A justiça estrita pode ser a maior injustiça.
Devemos ter cuidado com quem se sente a si próprio melhor conforme mais erros detetam nos outros.
Um acordo de princípios públicos de justiça, numa sociedade em que as pessoas divergem, quer quanto aos princípios de justiça, quer quanto às suas conceções do bem. Como o desenvolvimento dos projetos de existência depende das circunstâncias em que se encontram as pessoas, e como essas circunstâncias são intrinsecamente diferenciadas, dados os pressupostos ético - políticos subjacentes à teoria da justiça como equidade, o acordo não pode estar fundamentado nessa divergência inultrapassável. Razões pelas quais a escolha dos princípios da justiça se efetua segundo uma dúvida, que oculta aos autores da escolha a informação acerca do seu lugar na sociedade, a posição de classe ou estatuto social, a fortuna ou a distribuição de talentos naturais ou capacidades, a inteligência, etc., as suas conceções do bem, os pormenores do seu projeto de vida, as circunstâncias particulares da sua própria sociedade; isto é, os autores da escolha desconhecem a sua situação económica e o nível de civilização e cultura que conseguiram atingir, a que geração pertencem. Se, de acordo com a exigência de imparcialidade, as partes desconhecem o interesse atual na escolha dos princípios de justiça e, no ideal de equidade, os decisores ignoram as inúmeras diferenças sociais e naturais interpessoais, o carácter deontológico da sua teoria expressa-se no facto de a dúvida:
• permitir que os princípios de justiça sejam, escolhidos independentemente de qualquer conceção particular do bem.
  fundar a universalidade e imperatividade dos princípios num sujeito universal, correspondente à pessoa despojada de circunstâncias particulares;
    salvaguardar, na escolha, a autonomia dos decisores;
    sublinhar o ideal de pessoa livre e igual, entendida como um fim em si mesma e não como um meio. As limitações de informação são necessárias para garantir que é como pessoas livres e iguais que elas concordam acerca dos princípios básicos de justiça social;
    evitar as alianças e negociações durante o processo de escolha, de modo a impossibilitar a identificação dos princípios de justiça — o da igual liberdade e o da diferença — a imperativos hipotéticos e a impedir que do acordo se obtenham vantagens ou desvantagens, resultantes da boa ou má fortuna;
    permitir a unanimidade da escolha.
No Grau 8 verificamos a importância da educação ou seja, a transmissão do conhecimento de uma geração para a seguinte.
Como Arquitetos devemos caminhar no sentido do aperfeiçoamento do Nosso Templo interior desbastando as nossas impurezas e progredindo no desenvolvimento e aperfeiçoamento moral e espiritual.

É a partir da construção do Nosso Templo que podemos partir para a construção social, a construção social na sociedade profana e maçónica. Será nesta construção social que podemos tentar transmitir os Nossos conhecimentos para que possamos ter uma sociedade mais justa, com capacidade de olhar para os que mais precisam, menos indiferente e mais pro-activa face aos problemas atuais.
Toda esta construção só é possível com perseverança, trabalho, benevolência e humildade.

ELBF02

sábado, 22 de dezembro de 2018

PREBOSTE E JUÍZ


Rafael

PREBOSTE E JUÍZ

Albert Pike, in Moral e Dogma

A lição que este grau nos traz é a Justiça, nas decisões e no juízo, assim como nas nossas relações e trato com outros homens.
Numa nação onde o julgamento com jurados é conhecido, todo o homem inteligente pode ser chamado a actuar como jurado, quer o seja unicamente de facto, ou como de facto e de direito,(1) e a assumir a pesada responsabilidade que lhe acarreta esse compromisso. Aqueles que são investidos com este poder devém julgar todas as causas com escrúpulo e imparcialidade, sem nenhum tipo de consideração face ao poder do poderoso, aos subornos do rico ou às necessidades do pobre. Esta é a norma cardinal, que ninguém discutirá, ainda que muitos não a observem. Mas não basta isso. Devem despojar-se de preconceitos e ideias preconcebidas. Devem escutar pacientemente, recordar com precisão e analisar cuidadosamente os factos e argumentos que se apresentam perante eles. Não devem lançar-se precipitadamente a tirar conclusões, nem formar opiniões antes de ter ouvido todas as partes. Não devem pressupor crime ou fraude. Nem devem ser tomados por uma obstinação teimosa, nem devem ser obstinados contra os pontos de vista e raciocínios alheios. Ao perscrutar o móbil de um facto provado não se deve presumir nem a melhor, nem a pior das intenções, se não aquela que ache que o mundo teria como justa e objectiva se fosse qualquer outra pessoa a levá-la a cabo; nem deve, por mera vaidade de se mostrar dotado de agudeza e sagacidade, esforçar-se por dar importância a pequenas circunstâncias que por si nada representariam, mas associadas a factos de relevo lhes poderiam acrescentar alguma aparente agravante. Estas são regras fundamentais que qualquer jurado deve observar.
No trato com o próximo há duas classes de injustiça: a primeira é a daqueles que provocam um prejuízo; a segunda é a dos que têm em sua mão desviar um prejuízo daqueles a quem é dirigido, e todavia não o fazem. Desta forma, a injustiça pode cometer-se de forma activa de duas maneiras, por força e por fraude. Por força, realizada à maneira do leão, e por fraude, realizada à maneira da raposa. Mas resultando ambas totalmente repugnantes perante o dever cívico, sendo, aliás, mais detestável a injustiça por fraude.
Qualquer dano causado por uma pessoa a outra, seja porque afecte a sua pessoa, a sua fazenda ou a sua reputação é um delito contra as leis da Justiça. O âmbito deste Grau é portanto amplo e vasto; e a Maçonaria persegue, da forma mais enérgica possível, a defesa da lei e da Justiça, e da forma mais efectiva possível a prevenção da maldade e da injustiça. Com esta finalidade ensina esta grande e transcendente verdade: que a maldade e a injustiça, uma vez praticadas, não podem ser desfeitas, outrossim são eternos em suas consequências, e uma vez consumados passam a fazer parte do Passado irrevogável; que o mal perpetrado contenha seu próprio castigo tão certa e naturalmente como a bolota nasce do carvalho. Se as consequências são o seu próprio castigo, então não precisa de maior penitência, pois não a pode haver mais pesada; estão implícitas no próprio cometimento da falta, e não podem ser separadas dela. Um mal causado ao próximo é um crime contra a nossa própria Natureza, um delito contra a nossa própria alma que desfigura a imagem da Beleza e do Bem. O castigo não é a execução de uma sentença, mas sim a sucessão de um efeito. Está escrito que o dito castigo sucede ao facto culpável, não por um decreto de Deus como juiz, mas sim por uma lei decretada por Ele como Criador e Legislador do Universo. Não se trata de um artifício acessório, mas sim de uma consequência lógica e ordinária; e portanto deve ser suportada pelo infractor, e através dele pode influenciar outros. É a decisão da infinita justiça de Deus, sob a forma de Lei.
Não pode haver interferência, nem moderação, nem protecção perante os efeitos naturais dos nossos maus actos. Deus não se interporá entre a causa e a sua consequência; e por isso não pode haver perdão para os pecados. Podemos arrepender-nos do acto que contaminou a nossa alma, e pode ele ser expiado, mas o dano está feito. O pecado pode ser redimido por esforços posteriores, e a mancha lavada por amargos esforços e severos sofrimentos; mas os esforços e a constância que poderiam ter elevado a alma ao mais alto nível esgotam-se agora tentando unicamente recuperar aquilo que se perdeu. Deve haver sempre uma clara diferença entre quem unicamente cessa de praticar o mal e aquele que sempre praticou o bem.
Sem dúvida observará de forma muito mais escrupulosa a sua conduta, e olhará mais para os seus próprios actos, aquele que crê que esses actos arrastam inevitavelmente as respectivas consequências naturais e irremediáveis, que não aquele que acredita que a penitência e o perdão poderá romper em qualquer momento a cadeia de consequências. Seguramente cometeremos menos infracções e injustiças se tivermos arraigadas em nossas almas a convicção de que todo o facto está feito de forma tão irrevogável que nem a omnipotência de Deus pode desfazer o acontecido, e não pode tornar em não-feito o que foi feito; que cada acto nosso leva seu próprio fruto, conforme a leis inalteráveis que devem permanecer para sempre irrevogavelmente escritas nas Tábuas da Natureza Universal.
Se fizeste mal a outrem, podes afligir-te, arrepender-te e tomar a resoluta determinação de não voltar a fraquejar no futuro. Também podes, na medida do possível, reparar o facto. Isso está certo. A parte prejudicada pode perdoar-te, tal como o entende a linguagem humana; porém o feito, feito está, e ainda que todos os poderes da Natureza conspirem a teu favor, não podem desfazê-lo. As consequências para a alma, ainda que nenhum homem possa percebê-lo, estão aí, escritas nos anais do Passado, reverberando através do tempo.
 O arrependimento por um mau acto leva consigo, como qualquer outro acto, o seu próprio efeito, o efeito de purificar o coração e emendar o futuro, mas não o efeito de apagar o passado. Perpetrar o mal é um acto irrevogável, mas não incapacita a alma de fazer o bem no futuro. As suas consequências não podem ser apagadas, mas o seu curso não precisa de ser seguido. A maldade e a perversidade perpetradas, ainda que irrevogáveis, não acarretam desespero, mas sim maiores esforços do que anteriormente. O arrependimento é todavia tão válido como sempre, mas é válido para assegurar o futuro, não para esconder o passado. Inclusivamente as vibrações do ar, uma vez postas em movimento pela voz humana, não cessam com os sons que as originaram. A sua intensidade atenua-se rapidamente e se torna inaudível para o ouvido humano. Mas as ondas de ar assim elevadas sobrevoam a superfície da terra e os oceanos, e em menos de 20 horas cada átomo da atmosfera se impregna do movimento devido a essa porção infinitesimal de movimento primitivo que foi conduzido ali através de incontáveis canais, e que deve continuar exercendo a sua influência durante a sua existência futura. O ar é uma vasta biblioteca em cujas páginas se escreve para sempre o que o homem tenha dito ou inclusivamente sussurrado. Aí, em seus caracteres mutáveis mas infalíveis, misturados com os primitivos, assim como com os últimos sinais de mortalidade, permanecem gravados para sempre votos quebrados e promessas incumpridas, perpetuando, nos movimentos de cada partícula, todas em uníssono, o testemunho da inconstante vontade do homem. Deus lê esse livro, embora nós não o possamos fazer. Desta forma, a terra, o ar e o oceano são as eternas testemunhas dos actos que realizamos. Nenhum movimento levado a cabo pela Natureza ou por obra humana será jamais apagado. A pista de cada quilha que tenha sulcado a superfície do oceano permanece para sempre registada nos futuros movimentos de todas as partículas que ocuparam esse lugar. Todo o criminal está irrevogavelmente encadeado no testemunho do seu crime pelas leis do Todo-Poderoso, pois cada átomo do seu corpo mortal, apesar de quantas mudanças experimentem as suas partículas, reterá todavia, aderindo a ele através de todas as combinações, algum movimento derivado do mesmo esforço muscular com que perpetrou o crime. Que aconteceria se as nossas faculdades fossem tão aperfeiçoadas numa vida futura que nos permitissem perceber e rastrear as consequências inapagáveis de nossas palavras incumpridas e feitos perversos, e tornar a nossa culpa e dor tão eternos como essas consequências? Não é possível conceber castigo mais terrífico para uma inteligência superior do que o de contemplar, que a sua acção permanecerá eternamente em acto, uma maldade sempre latente para além da memória dos homens!
A Maçonaria, através dos seus ensinamentos, tenta levar as pessoas a não consumar injustiças, maldades e ultrajes. Ainda que não pretenda usurpar o lugar da religião, o seu código moral procede, desde logo, de princípios muito diferentes dos da lei civil, de forma que reprova e castiga ofensas que nem a lei nem a opinião pública condenam. Na lei maçónica, enganar e exagerar no comércio, no tribunal e na política não se consideram pecados mais veniais que o roubo, nem uma mentira deliberada mais venial que o perjúrio, nem a calúnia inferior ao desfalque, nem a sedução mais venial que o assassinato. A Maçonaria condena especialmente aquelas maldades nas quais o infractor induz outros a tomar parte. Ele pode arrepender-se; pode, após esforços angustiados, retomar o caminho da virtude; a sua alma pode purificar-se através de muita angústia e muita luta interior; mas a criatura débil que ele desencaminhou e a quem fez cúmplice da sua culpa não pode obrigá-lo a ser cúmplice do seu arrependimento e emenda. E ele pode compungir-se, mas não pode mudar o caminho errado do outro a quem ensinou a dar o primeiro passo para a perdição, um caminho de que o mesmo é testemunha inevitável. Como vamos falar então de perdão dos pecados? Unicamente se pode falar de um castigo perpétuo e inevitável, que nenhum arrependimento pode aliviar nem aplacar nenhuma piedade.
Esforçamo-nos por ser justos ao julgar os motivos dos outros homens. Apenas nada conhecemos dos verdadeiros méritos ou deméritos de qualquer semelhante. Raras vezes conhecemos com certeza se este homem é mais culpável que aquele outro, ou inclusivamente se este homem é muito bom ou muito perverso. Com frequência os homens mais depravados deixam atrás de si excelentes reputações. Haverá alguém de entre nós que, ao longo da sua vida, não tenha estado em algum momento a ponto de cometer um crime? Cada um de nós pode olhar para trás e estremecer ao contemplar o momento em que os os seus pés resvalavam junto do precipício em que se despenha o abismo da culpa; e se a tentação tivesse sido algo mais intensa, ou algo mais continuada, ou se a penúria tivesse apertado um pouco mais, ou um pouco mais de vinho tivesse turvado o nosso intelecto, destronado o nosso juízo e despertado as nossas paixões, os nossos pés teriam resvalado, e nós teríamos caído para não nos levantarmos jamais.
Podemos dizer: “Este homem mentiu, roubou, falsificou, desfalcou dinheiros que lhe foram confiados; todavia esse passou a vida com as mãos limpas”. Porém não podemos afirmar que o primeiro não lutou arduamente, ainda que sem êxito, contra tentações sob as que o segundo havia sucumbido sem esforçar-se. Podemos dizer quem tem as mãos mais limpas perante os homens, mas não quem tem a alma mais limpa perante Deus. Podemos afirmar: “Este homem cometeu adultério, mas esse outro todavia sempre foi casto”. Porém não podemos saber se a inocência desse homem pode ter sido devida à frieza do seu coração, à ausência de motivo, à presença de medo ou à pequenez da tentação; nem se a caída do outro pode ter sido precedida por luta interior mais veemente, causada pelo frenesim mais esmagador, e expiada pelo arrependimento mais sincero. A generosidade, assim com a mesquinhez, pode ser um resultado do temperamento natural; e perante os olhos do Céu, uma larga vida de beneficência pode ter custado menos esforço e indicar menos virtude, sacrifício e interesse que uns poucos e raros actos virtuosos e escondidos arrancados por dever da alma reticente e evasiva de outro. Pode haver mais mérito real, mais esforço e sacrifício, mais presença dos mais nobres elementos da grandeza moral numa vida de fracasso, pecado e vergonha do que numa trajectória, a nosso ver, de integridade imaculada.
Quando condenamos ou mostramos compaixão pelo caído, como haveremos de saber se tivéssemos sido tentados como ele, não teríamos caído como ele, até com menos resistência? Como saberíamos o que faríamos se nos encontrássemos sem trabalho nem sustento, morrendo de fome, esfaimados e desfalecidos, enquanto nossos filhos choravam pedindo pão? Nós não caímos porque não somos suficientemente tentados. Aquele que caiu pode ser em seu coração tão honesto como nós. Como podemos estar seguros de que nossa filha, irmã ou esposa poderia resistir ao abandono, à desolação, à loucura ou à tentação que sacrificaram a virtude da filha de outros e a fizeram cair na vergonha? Talvez que não tenham caído porque não foram realmente tentadas! É atitude sábia rezar para não ser expostos às tentações.
A justiça humana é sempre incerta. Quantos assassinatos judiciais se cometeram devido à ignorância do fenómeno da loucura! Quantos homens enforcados por assassinato não eram de coração menos assassinos do que o jurado que os processou e o juiz que os sentenciou! Bem pode duvidar-se se a administração das leis humanas, em cada país, não é senão uma gigantesca onda de injustiça e maldade. Deus não vê como vê o homem; e o criminoso mais abandonado, sombrio como o mundo o considera, pode ter mantido acesa uma pequena luz bruxuleando num cantinho da sua alma, luz que bem poderia ter-se extinto desde há muito tempo naqueles que caminham orgulhosos no enlevo da fama impoluta, se tivessem sido provados e tentados como o pobre foragido. Nem sequer conhecemos a vida exterior do homem. Não somos competentes para nos pronunciar nem sequer sobre seus feitos. Não conhecemos nem a metade de actos virtuosos nem perversos, nem sequer dos nossos semelhantes mais próximos. Não podemos dizer, com certeza, nem sequer de nosso amigo mais íntimo, que não cometeu um pecado concreto, ou incumpriu um mandamento particular! Que cada homem pergunte a seu coração! De quantos de nossos melhores e piores actos e qualidades são ignorantes os nossos mais íntimos amigos! Por quantas virtudes que realmente não possuímos nos admira o mundo, e por quantos vícios, dos quais realmente não somos escravos, nos condena? Não há senão uma pequena parte de nossos actos e pensamentos malvados que realmente sai à luz, do mesmo modo que é pequeno o número de bondades redentoras visíveis. A maior parte é unicamente visível por Deus.
Portanto, seremos justos ao julgar outros homens unicamente quando nos mostremos caritativos; e devemos assumir a prerrogativa de julgar aos outros unicamente quando esse dever nos seja imposto, dado que com quase total segurança erraremos, e sérias serão as consequências que se derivarão do nosso erro. Nenhum homem deve cobiçar o ofício de juiz, pois ao aceitá-lo assume a responsabilidade mais grave e opressiva. E sem embargo, tu assumiste-la, e todos a temos assumido, pois o homem está sempre pronto a julgar e está sempre pronto a condenar o seu vizinho, ao mesmo tempo que se absolveria a si próprio pelos mesmos factos. Trata, por isso, de exercer o teu dever cautelosa e caritativamente, pois de contrário, ao submeter o criminoso a juízo, cometes um mal cujas consequências devem ser igualmente eternas.
As faltas, crimes e desvarios de outros homens não carecem de importância para nós, outrossim fazem parte do nosso universo moral. A guerra e o derramamento de sangue longe de nós, assim como as fraudes que não afectam directamente o nosso interesse pecuniário, não deixam de afectar os nossos sentimentos e minar o nosso bem-estar moral. Estes factos afectam muito a um coração consciente. O olho público pode olhar despreocupadamente sobre a miserável vítima de um vício, e essa ruína de ser humano pode provocar uma explosão de riso e de escárnio. Mas para o maçom o que está perante os seus olhos é uma forma sagradamente humana; é um irmão que errou; é uma alma desolada, desesperada e abandonada; e os pensamentos do maçom a respeito do pobre mendigo estarão bem longe da indiferença, do ridículo ou do desdém. Todas as ofensas humanas, todo o sistema de desonestidade, indiferença, duplas intenções, piedade proibida e ambição intrigante sob cuja influência os homens lutam uns com os outros, será compreendido por um maçom sensato não unicamente como o cenário de afãs perversos e lutas, mas também como o conflito solene de mentes imortais cujas consequências são vastas e transcendentes como aqueles que o protagonizam. É uma luta triste e ignominiosa, e bem pode observar-se com indignação; mas essa indignação deve transformar-se em piedade. Pois as apostas que estes jogadores fazem não são as que eles imaginam, nem tão pouco as que acreditam estar a ver. Por exemplo, este homem que luta por um pequeno cargo, e o ganha, na realidade ganhou com intriga, calúnia, engano e falta de caridade.
Os homens bons estão realmente orgulhosos da sua bondade. São respeitáveis, a desonra não os incomoda, a sua moderação goza de peso e influência, as suas roupas estão imaculadas e o venenoso alento da calúnia nunca se verteu sobre a sua fama. Quão fácil é para eles olhar com desdém o pobre e degradado criminoso, ultrapassá-lo com passo dianteiro e arregaçar as calças para que não se manchem na imundície! E sem embargo o Grande Mestre da Virtude não procede assim, antes porém rebaixa-se ao trato familiar com vadios e pecadores, com a mulher samaritana, com os proscritos e párias do mundo hebreu.
Muitos homens sentem-se melhor na medida em que podem detectar pecado nos demais. Quando se assomam ao catálogo de desafortunados excessos no temperamento ou na conduta do seu vizinho, amiúde, ao mesmo tempo que mostram grande preocupação, sentem-se secretamente exultantes, pois isso destrói todas as suas pretensões de sabedoria e moderação, inclusivamente de virtude. Muitos, inclusivamente, recriam-se com os pecados dos demais, e isto é o habitual naqueles cujos pensamentos se entretêm em agradáveis comparações com as suas próprias virtudes e os pecados do próximo.
O poder da amabilidade vê-se demasiado pouco no mundo, vê-se pouco a influência invisível da piedade, o poder do amor, o domínio da doçura sobre a paixão, a majestade soberana desse perfeito carácter que junta a uma profunda censura uma caridosa piedade pelo criminoso. Mas é assim que o maçom deve tratar os seus irmãos desencaminhados. Não com amargura, nem com cordial ligeireza, nem com indiferença mundana, nem com frialdade filosófica, nem com uma consciência lasciva que encontre tudo bem e que seja bem aceite pela opinião pública, senão com caridade, e amorosa e piedosa amabilidade.
O coração humano não se inclinará voluntariamente perante o que há de obscuro e mesquinho na natureza humana. Se o coração se enternece perante nós, deve enternecer-se perante o que há de divino em nós. A maldade do meu vizinho não pode submeter-se à minha maldade; os seus apetites, por exemplo, não podem submeter-se à minha fúria contra os seus vícios, pois os meus defeitos não são o instrumento para corrigir as suas faltas. E por isso reformadores impacientes, pregadores denunciantes, acusadores inflexíveis, pais enfadados e em geral familiares irritáveis não conseguem, cada um ao seu redor, emendar os comportamentos extraviados.
Uma ofensa moral é doença, dor, perda e desonra no que de imortal há no homem. É culpa, e miséria acrescida à culpa. É calamidade em si mesma, e acresce sobre ela mesma a calamidade ainda maior de ser condenada por Deus, o aborrecimento de todos os homens virtuosos e a própria reprovação da alma. Trata fielmente, mas com paciência e ternura, este mal! Não é digno de converter-se em provocação, nem de tornar-se em querela, nem de acender a tua irritação. Fala cortesmente a teu irmão que erra. Deus compadece-se de ti: Cristo morreu por ele, e a Providência aguarda-o. A piedade do Céu busca-o e os espíritos celestes estão prontos a recebê-lo de novo com alegria. Faz com que a tua voz soe em uníssono com todas essas potestades que Deus está empregando para recuperá-lo!
Se alguém te defrauda, e exulta por isso, é o ser humano que mais piedade deve despertar, pois infligiu a ele próprio uma ferida muito mais profunda do que aquela que te infligiu a ti. É a ele, e não a ti, a quem Deus observa com reprovação e compaixão ao mesmo tempo, e o Seu juízo deveria ser a tua lei. Entre todas as bênçãos desde o monte Sagrado não há nem uma para este homem, todavia, para o misericordioso, o pacífico e o perseguido as bênçãos derramam-se prodigamente.
Todos somos homens de semelhantes paixões, inclinações e tentações. Há elementos em todos nós que poderiam ter sido pervertidos, através de sucessivos processos de deterioração moral, até desembocar no pior dos crimes. O delinquente empurrado para o cadafalso pela multidão vociferante não é pior do que aquilo a que qualquer um dessa multidão poderia ter chegado perante circunstâncias semelhantes. Sem dúvida, deve ele ser condenado, mas sob profunda compaixão. Ser vingativos, inclusive com os piores criminosos, torna-nos fracos e converte.nos em pecadores. 
Devemos muito à boa Providência de Deus, que nos dotou com muito mais virtude do que maldade. Mas todos transportamos dentro de nós o que nos poderia levar aos mesmos excessos, fazendo-nos cair, como ele, com alguma tentação. Talvez tivéssemos cometido actos que, proporcionalmente à tentação ou provocação, pudessem ser menos desculpáveis do que o seu grande crime. A silenciosa piedade e comiseração pela vítima deveria juntar-se ao nosso repúdio pela culpa. Inclusivamente o pirata que assassina a sangue frio através dos mares, é um homem como tu ou eu o poderíamos ser. O orfanato na infância, ou uns pais depravados e dissolutos, ou uma juventude sem amigos, ou as más companhias, ou a ignorância e impossibilidade de cultivar-se moralmente; as tentações do prazer pecaminoso ou a pobreza extrema; a familiaridade com o vício; um apelido maldito e vilipendiado; sentimentos feridos e destroçados; situações desesperadas; estes são os passos que podiam ter levado a qualquer um de nós a desfraldar a sangrenta bandeira de desafio universal sobre os quatro mares, a declarar a guerra aos da nossa espécie, a viver a vida e morrer a morte do pirata temerário e sem remorsos. Os afectos que recebeu inspiram-nos compaixão com a sua falta de sorte. A sua cabeça descansou uma vez sobre o regaço de uma mãe. Por uma vez foi alvo de amor familiar e carinho caseiro. Talvez que a sua mão, desde então vezes sem conta manchada de sangue, tenha tomado outra pequena mão amorosa no altar. Compadece-te dele, pois, e compadece-te das suas esperanças de felicidade e do seu coração destroçado. É próprio de criaturas frágeis e imperfeitas como nós actuar assim; deveríamos lamentar o crime, mas lamentá-lo como criaturas débeis, tentadas e resgatadas. Pode ser que quando Deus avalie os crimes dos homens, tenha em consideração as tentações e as circunstâncias adversas que os conduziram a eles, e as oportunidades de cultura moral do delinquente; e pode ser que as nossas próprias ofensas pesem mais do que esperamos, e as do assassino sejam mais leves do que considerou o juízo dos homens. Portanto, e tendo em conta tudo o que fica dito, que o verdadeiro maçom nunca esqueça esta norma solene, que deve ser observada em todas as situações: “não julgueis se não quereis ser julgados, pois que com a mesma regra com que medis os outros, assim sereis vós próprios medidos”. Tais são os ensinamentos que promulga o Preboste e Juiz.

(1)Os termos de facto e de direito são figuras legais do direito anglo-saxão. Quando um jurado decide de facto pronuncia-se se um facto aconteceu ou não. Quando o faz de facto e de direito pronuncia-se também sobre a consideração legal do facto. Se um jurado chega à conclusão de que, por exemplo “uma criança de cinco anos foi abandonada durante horas”, está-se pronunciando de facto. Se além disso tem poder para decidir que esse facto constitui um delito de negligência por parte do seu tutor, então decide de facto e de direito. (nota do autor)

(tradução livre de Agostinho Costa)

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

GRAUS INEFÁVEIS

Alberto d'Assumpção


Mestre Secreto
Cabe ao Mestre Secreto fazer ver ao neófito a seriedade do seu juramento e todas as implicações.
A obediência pressupõe silêncio e diligência. No silêncio pode o aprendiz refletir no que houve. Dialogar consigo mesmo e forjar o seu carácter habituando-se, se necessário, a para além dos silêncios, a saber recalcar e calar qualquer ressentimento.
Obedecer em silêncio também revela a importância da sobriedade, do decoro, e da contenção. Adquirindo estes valores, saberá mais tarde como liderar e comandar.
Perceberá que das maiores misérias humanas pode nascer a luz. Assim reflete sobre caridade, benevolência, paciência, decoro, consideração, respeito, caridade, e outros pequenos detalhes que a avó, através de um chá e uns bolinhos, nos transmitia.

Mestre Perfeito
O Mestre Perfeito deve fazer jus ao seu título, ser um exemplo de trabalho e honestidade.
Pelo trabalho árduo e dedicado, retribui um pequeno grão de tudo o que a vida lhe proporciona, gerindo sinergias no seio do grupo a que pertence. Pelo exemplo, será mais facilmente aceite pelos irmãos, seja como par ou primo interpares. A liderança conquista-a pelo respeito gerado. Ao atuar a honestidade, põe-se ao nível com a retidão do fio-de-prumo.
Uma vida segundo estes princípios será bem preenchida e faz merecer uma passagem ao Oriente Eterno com a consciência do dever cumprido, consigo e com o seu semelhante. Tanto o trabalho como a honestidade são ferramentas essenciais que embelezam a construção do templo. São peças determinantes numa vida virtuosa apta para as mais belas construções.

Secretário Íntimo
O Secretário Íntimo tinha de zelar pelo bem-estar de Salomão. Os seus desejos mais íntimos, antecipar os seus anseios, protegê-lo de inimigos mais improváveis.
Para tal é-lhe exigido uma lealdade a toda a prova, mesmo que sacrifique a própria vida. Algo paralelo ao pensamento que prestamos aquando da iniciação. Algo que vem sendo desrespeitado na nossa Ordem ultimamente.
Devia zelar pelo bem-estar de Salomão em todos os aspetos, como devemos zelar para que os landmarks sejam cumpridos e os rituais respeitados. Tudo isto num desapego (prefiro esta palavra a desinteresse) próprio. Desapego das medalhas prebendas, e outros afagos profanos que mascaram e denigrem a vocação, a dedicação e a abnegação. Estas últimas não carecem de recompensa material. No entanto, materializam o esperado da ação do homem de bem ou de bons costumes. O desapego da recompensa material é diminuto perante o afago do bem que se propaga no mundo, passo a passo, mas sempre com o ideal da paz universal gerado pela virtude, pela tolerância, pela verdade.

Preboste ou Juiz
Salomão era considerado um grande juiz (o maior, até) na antiguidade. Ficou no uso linguístico a expressão “sentença salomónica”, em francês “le juste milieu”, o meio caminho ideal.
Poderia arriscar falar de justiça ideal para pobres e ricos, fracos e fortes, débeis e poderosos, patrões e assalariados. Ser juiz é um fardo. Depende muito do zeitgeist – o espírito dos tempos. Hoje em dia é alvo de pressões atrozes da comunicação social, das grandes corporações, etc. Precisa ter uma bagagem enorme, sociológica, psicológica, ética, cívica, e acima de tudo, empática.
Tem de saber pôr-se no lugar do réu e inferir dos motivos que originaram a delinquência, para que a equidade, mãe de toda a justiça, seja honrada. Ao preencher pelo menos estes requisitos, a sentença será lavrada de maior presteza e aí será uma honra ter exercido a função de juiz.
A toga tem de ser feita de um material ético, intelectual, caridoso e honesto. Sem estes valores, será apenas um tecido.

Intendente dos Edifícios
Qualquer trabalho que se queira bem feito necessita de pontualidade. O Mestre Hiram era o primeiro a estar presente, fossem quais fossem as condições atmosféricas, todos os dias era o primeiro a chegar e o último a partir.
Observava o trabalho dos vários grupos de talhadores, incrustadores, polidores, metalúrgicos, e zelava pelo bom andamento da construção do templo. Corrigia o que havia a corrigir, combinando as várias possibilidades de resolução dos problemas emergentes. Despedia os incompetentes. Transferia pessoas entre equipas. Corrigia os mestres e se necessário devolvia-os à condição de aprendizes.
A sobriedade e a temperança necessárias eram-lhe mais necessárias ao dialogar com Salomão e ao enfrentar as intrigas de poder espiritual e outras forças mal intencionadas que viviam de intrigas de poder.
No final foi aclamado, respeitado, e celebrado por 100000 obreiros. Estes retribuíram ao Mestre a devoção que este tinha pela obra. Ser um exemplo, não exigir nada ao outro que não exigimos a nós próprios, aprender com os nossos erros, ter a honestidade e a abertura para aprender com os outros, mesmo que em teoria nossos
inferiores. Enfim, reconhecer a nossa ínfima expressão com que viemos ao mundo e dar graças por, ao existir, podermos contribuir para uma consciência universal que talvez um dia nos faça levantar o céu e nos tornarmos merecedores do reconhecimento do Grande Arquiteto do Universo, pela obra que, com desapego das coisas terrenas, ajudámos a construir.

Essa será a nossa melhor morte e a nossa virtude o verdadeiro portal.

ELBF04

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

O Silêncio

Izabella Pavlushko

O Silêncio

Depois de ter recebido a notícia que a minha candidatura à Associação Albert Pike tinha sido aceite, foi-me dito que esta fase era dedicada ao silêncio. Recordei que em 2002 quando fui iniciado nas denominadas Lojas Azuis estive dois anos sem poder “falar” durante as SS:. Iniciei a minha viagem de quase 170 quilómetros em direcção ao Porto e vinha a meditar sobre o que poderia estar relacionado com este tema, o silêncio. Meditar sobre o que significaria o percurso de entrada numa Loja de Perfeição ou de graus inefáveis.Tive que ir consultar o dicionário para ver o significado de tal palavra, visto não ser usual no léxico do português comum. Só me vinha à memória Paul Simon & Art Gurfunkel, the Sounds of Silence, “ Hello darkness my old friend I’ve to come to talk with you again (…)" Chegado ao Porto fui recebido em local previamente designado por um grupo de homens, dos quais eu só conhecia um. E dali a momentos iniciou-se a cerimónia. Depois daquela iniciação verifiquei que estava num seio de irmãos de elevada qualidade, de irmãos com conhecimentos diversificados oriundos de diversas áreas do conhecimento e do saber fazer. O local e a sua decoração eram extraordinariamente diferentes, e a sua decoração de uma beleza simples e eficazmente demonstrativa do novo caminho. Como diferentes são as posições que determinados membros ocupam em comparação com o que até aqui tinha conhecido. E eu em silêncio observava toda esta nova ordem de acontecimentos. Mas, a minha mente não estava em silêncio, estava sim numa ensurdecedora azáfama de apreender tudo o que me estava a ser transmitido. Uma verdadeira dicotomia. O silêncio e a azáfama da minha mente! Até àquele momento só conhecia a teoria da tábua rasa (1) . Estava naquele meu caminho partindo do zero, queria que a minha mente estivesse em branco e dali fosse em silêncio apreendendo o conhecimento que me era agora transmitido. Cerca do final da cerimónia ouvi o T:. V:. P:. M:.falar no rio Letes ou o rio do esquecimento e imediatamente nos elucidou sobre a Lenda do Rio Letes, ou rio do esquecimento. Fiquei fascinado, porque era exactamente como eu me sentia. Tudo até aquele momento era novo. Diferente do aprendido até então! Mas, o tema do silêncio não me saía da memória, eu sei que comigo é em silêncio que me consigo concentrar e começar uma aprendizagem, outros preferem locais com ruído ou ouvir musica. É em silêncio que estou a ler o Livro “O Homem Que Sabia Contar”(2) e caso dos quatro quatros (4444), e em silêncio recordo o teorema de Pitágoras. Numa pesquisa no motor de busca da internet sobre o silêncio existem cerca de 97 600 000 resultados (0,43 segundos). Desde a obra cinematografica “o Silêncio dos Inocentes”, ou filme “Silêncio” que relata a viagem de 2 padres jesuítas ao Japão. O tema o silêncio das palavras tem cerca de 17 300 000 resultados (0,43 segundos) . Mas, eu escolhi este tema para elaborar o meu Balaústre que deverá ser lido perante uma assembleia de irmãos ilustres, e, seria suposto eu apresentar algo de novo, algo que ainda não tivesse sido escrito, mas, não consigo. Continua na minha memória ainda hoje, como em Março a canção The sounds of Silence do Simon and Garfunkel, “Left its seeds while I was sleeping and the vision that was planted in my brain still remains within the silence of silence. Mas, porquê?  3 Porque o silêncio é algo que pode ser perturbador, é algo que nos altera e faz pensar. E pensar, é muitas das vezes incómodo! Mexe connosco porque é sempre melhor andar em modo automático do que pensar! Pensar pode perturbar, pode fazer-nos questionar tudo e todos. Pelo pensamento podemos questionar até a nossa própria existência e a existência da humanidade! O silêncio às vezes é ensurdecedor quando possivelmente estejamos em reflexão, apesar de estarmos em silêncio poderemos ouvir vozes, mas se estamos em silêncio como ouvimos essas vozes? Apesar do silêncio o nosso cérebro gravou como se de uma fita de um filme áudio visual se tratasse as vozes, as conversas tidas entre nós e vários intervenientes, ou às vezes o que para uns poderá ser ainda mais perturbante o nosso cérebro gravou as nossas vozes interiores e parece que ao ouvi-las nos apercebemos de coisas que até ali não tínhamos valorado, e em silêncio, mas com a dicotomia de estarmos a ouvir as nossas vozes reflectimos num assunto, ou aprendemos como resolver um problema que até a determinado momento não tínhamos encontrado a “solução” para o mesmo. O poder do silêncio é de facto algo pessoal e intrínseco que cada um de nós sente de maneira diferente, o silêncio como método de aprendizagem, o silêncio como indiferença, o silêncio como consentimento. Neste novo caminho que decidi fazer e para o qual fui aceite e reconhecido permaneço em silêncio a ouvir a sabedoria dos meus Queridos Irmãos, e pela transmissão da ritualista do grau permaneço em silêncio, e é em silêncio que eu vou fazendo o meu percurso e apreendizagem, e às vezes em silêncio debato os meus pensamentos que me perturbam ou causam desconforto, quiças na busca de alguma solução para esse “eventual conflito”! Mas, na senda da busca de material para poder elaborar um balancete com o mínimo de qualidade deparei-me que o tema a voz do silêncio (3) não era novidade nenhuma. Helena Blavatsky (4) procurou transmitir como é que os monges tibetanos alcançavam a plenitude espiritual e a perfeita comunhão entre corpo e alma. É por isso que nestes ensinamentos se aprende que «Há só uma senda até ao Caminho; só chegado bem ao fim se pode ouvir a Voz do Silêncio». A escada pela qual o candidato sobe é formada por degraus de sofrimento e de dor; estes só podem ser calados pela voz da virtude. Lê-se no blog COGITO ERGO SUM" (5) que o silêncio é uma virtude aprendida na Maçonaria e deve ser praticado não só nos trabalhos maçónicos, mas na vida profana. Silêncio é a primeira pedra do Templo da sabedoria. No entanto, na minha jornada de 170 kms o que me ficou no ouvido não era a voz do silêncio, mas sim a música “the sounds of silence”, ou seja os sons do silêncio! Decidi fazer a minha viagem ao meu interior, e, perceber por mim o caminho que eu estaria agora percorrer. Na cerimónia, foram-me selados (6) simbolicamente os lábios, não para eu não poder expressar a minha vontade, mas, “para me proteger”, para que eu pudesse apreender em silêncio e reflexão do percurso acabado de iniciar. Ou seja, foi como se de um lacre aposto num documento classificado de “secreto” (7) se tratasse. Em silêncio reflecti que me deveria tornar perfeito na minha caminhada, ser zeloso, combater o vício, ser justo e intimamente reflectir sobre os conhecimentos que me foram transmitidos, para poder dar inicio à decoração ou “embelezamento” de um templo. 

NOTAS:
1. John Locke (1632 – 1704), filósofo inglês, o Empirismo (…)Ele negava radicalmente que existissem idéias inatas, tese defendida por Descartes. Quando se nasce, argumentava, a mente é uma página em branco (tabula rasa) que a experiência vai preenchendo. O conhecimento produz-se em duas etapas: a) a da sensação, proporcionada pelos sentidos, e b) a da reflexão, que sistematiza o resultado das sensações.
2. Malba Tahan - Pseudónimo de Júlio César de Mello e Sousa (1895-1974)professor e autor de 69 livros de contos e 51 de matemática. (O caso dos quatro quatros está desenvolvido no capitulo VII das paginas 33 à 38, e Teorema de Pitágoras pag.107 
3. Helena Petrovna Blavatsky- escritora de Russa editou uma obra dedicada à voz do silêncio traduzida por Fernando Pessoa
4. A voz do silêncio, primeiro fragmento, página 7, Helena Petrovna Blavatsky 
5. Silêncio, http://moraledogma.blogspot.com 
6. cf ritual
7. Mestre Secreto (…) O Segredo é indispensável a um maçom seja qual for o seu grau. Esta é a primeira e quase a única lição ensinada ao Aprendiz Iniciado. retirado de COGITO ERGO SUM,  http://moraledogma.blogspot.com 
8. "Ai de ti, pois, discípulo, se há um único vício que não abandonaste; porque então a escada abaterá e far-te-á cair; a sua base assenta no lodo fundo dos teus pecados e defeitos". in Helena Petrovna Blavatsky, retirado de http://moraledogma.blogspot.com  

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